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A Vida On-line de Elliot Rodger Revela um Grupo "Anti-Pick-Up Artist" Cheio de Ódio

As armas fornecem os meios para implementar o terror, mas as sementes da violência misógina vêm de um lugar muito mais complexo.

Anteontem, a polícia da Califórnia confirmou que Elliot Rodger é suspeito de matar seis pessoas (três com uma faca, três com uma arma) antes de se suicidar na sexta-feira passada. Num vídeo postado no canal pessoal de Elliot no YouTube, ele liga o ataque ao fato de nunca ter se dado bem com as mulheres: “Nos últimos oito anos de minha vida, desde que atingi a puberdade, fui forçado a viver uma vida de solidão, rejeição e desejos não realizados. Tudo porque as garotas nunca se sentiram atraídas por mim. As garotas deram sua afeição, sexo e amor para outros homens. Mas nunca para mim. Tenho 22 anos e ainda sou virgem”.

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Essa declaração deixa as motivações de Elliot Rodger muito claras: ele era um misógino com problemas mentais e desesperado, que achava que seus direitos de macho estavam sendo negados. Elliot se chama de o “cara perfeito”, e declara que vai “punir todas vocês (mulheres)” por não reconhecer que ele era “um cavalheiro supremo”. No vídeo, ele detalha seus planos de massacrar o que ele chama de “vadias por direito”, garotas da “irmandade mais quente” da UCSB. O vídeo é basicamente um manifesto de ódio às mulheres, e parece ter algumas de suas raízes na cultura dos pick-up artists.

No domingo, o Business Insider apontou um perfil de um usuário chamado “EliotRodger” num fórum chamado PUAHate. PUA é a abreviação de pick-up artist; uma filosofia manipulativa desenvolvida no livro O Jogo, de Neil Strauss, que ensina técnicas como o “neg”, na qual o homem insulta uma mulher para manipulá-la e levá-la para cama.

Desde que o nome de Elliot Rodger se tornou notório, o fórum PUAHate foi quase completamente apagado, mas é possível encontrar o espectro de Rodger com o Google Cache. Também é possível seguir o fio da meada da Business Insider, que mostra como os membros do PUAHate reagiram às notícias da matança.

Uma postagem particularmente preocupante avisa que os membros do fórum deveriam se espalhar, já que os olhos do mundo logo se voltariam para esse canto perturbado da internet. “Este site, fora as trolagens, contém material potencialmente perigoso. Imaginem a repercussão em massa que ele terá e a atenção que vai chamar para os incels. Este fórum será fechado, seus usuários serão investigados individualmente e podem ser processados por crimes como incitamento, etc.

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Seremos perseguidos e caçados como a abominação que somos… Ajam rápido para evitar qualquer ligação com este lugar.”

Para quem não sabe (eu, pelo menos, nunca tinha ouvido falar nisso até agora), “incel” é o nome que os membros do PUAHate davam aos “celibatários involuntários”. Elliot Rodger, julgando pela escrotidão que ele vomitou diante da câmera, com certeza se considerava um incel.

Ao mergulhar no Google Cache, é possível encontrar o subfórum Conselhos de Merda (onde a declaração acima foi postada) no PUAHate e topar instantaneamente com comentários nauseantes. Uma das mensagens diz: “Elliot Rodgers = Rei entre os incels, ódio gay, boa noite doce príncipe… incel chega ao mainstream, ódio incel, terrorismo incel é REAL… ESTAMOS NA TELEVISÃO. OI, MÃE!”.

Outros títulos de postagem; como “Obituário de Elliot Rodger, DESCANSE EM PAZ HERÓI, 1992-2014”, “o daily mail ligou o puahate a elliot rodger acabou”, “quando a sociedade vai perceber que todos os atiradores em massa são incels?” e “O Lado Inocente de Elliot – Como Contado por Sua Conta no YT”; provavelmente continham material relevante e patético – mas os textos não estão disponíveis no Google Cache, provavelmente porque foram apagados rapidamente.

O foco de grande parte do discurso da mídia sobre o massacre na UCSB tem sido apenas no controle de armas, mas há uma narrativa muito mais complexa em jogo. Ao escrever para o New Yorker, Adam Gopnik argumentou que a “filosofia de ódio às mulheres” de Rodger é “uma questão periférica” ao tópico do controle de armas. Eu argumentaria que o ódio dele pelas mulheres é tão importante, ou mais, do que essa conversa cansada que estancou desde Columbine em 1999.

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O que estamos vendo agora, através das lentes do PUAHate, é que esses homens jovens que não conseguem transar – provavelmente por causa de suas ideias imbecis de que ter a atenção das mulheres é um direito deles – sentem tanto ódio de seu fracasso romântico que agora se organizam em grandes números na internet. Também existe, pelo que consegui desenterrar no Google Cache, uma certa simpatia e até adoração pelas ações de Elliot Rodger.

Um mau presságio para a imagem pública dos pick-up artists no geral.

O fenômeno PUA pode ter muitas interações e filosofias, mas no geral é uma prática ofensiva, que trata as mulheres como presas fáceis de manipular e seduzir, bastando que os homens aperfeiçoem os truques certos de hipnose ou manipulação psicológica. Ser um indivíduo charmoso, sincero, honesto e educado não está entre as cartas da comunidade PUA – favorecendo técnicas como o “neg” em vez disso.

Num tuíte no sábado, a colaboradora da VICE Molly Crabapple escreveu: “O massacre de Elliot Rodger foi um ato de terrorismo visando punir as mulheres por controlar suas próprias vidas sexuais”. A conversa que precisa acontecer agora cercando o direito do macho e a misoginia é muito mais difícil que a conversa típica de “nossas leis de armas estão fora do controle”. E isso porque os norte-americanos já têm mais de 200 milhões de armas particulares. Isso aí já era. Além disso, não faz tanto tempo assim desde que Montreal teve que lidar com seu próprio louco misógino armado quando, em 1989, Marc Lépine assassinou 14 mulheres e feriu 10 dizendo estar “combatendo o feminismo”.

Precisamos falar sobre igualdade de gêneros e precisamos falar sobre isso agora, porque esse não é um problema somente dos EUA. Temos que desenraizar a ideologia por trás da misoginia, antes que outra geração de garotos cresça achando que transar com mulheres é direito deles, e que não conseguir transar é culpa das mulheres como um todo.

Há também uma necessidade óbvia de serviços de saúde mental mais acessíveis, que possam manter pessoas como Elliot Rodger separadas da sociedade e sob cuidado de profissionais capazes de lidar com uma condição mental alucinada e psicótica. As armas fornecem os meios para implementar o terror, mas as sementes da violência misógina vêm de um lugar muito mais complexo.

@patrickmcguire