Álbum de Figurinhas da II Copa dos Refugiados

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Álbum de Figurinhas da II Copa dos Refugiados

A VICE selecionou alguns jogadores e fez um álbum de figurinhas bem alto astral.
JL
ilustração por Juliana Lucato
Felipe Larozza
fotos por Felipe Larozza

Fotos: Felipe Larozza/ Arte: Juliana Lucato

No ano passado, cobrimos a Copa dos Refugiados em São Paulo – e o clima era de festa. Neste ano, o bicho está pegando: técnicos loucões gritando em campo, treta entre jogadores e 18 seleções querendo meter a mão na taça. Futebol é assim.

No próximo sábado (8), no CERET Centro Esportivo, acontece a fase final na qual um dos times será consagrado campeão. Enquanto isso, você curte a história de alguns desses guerreiros, que largaram tudo em seus países em conflito pra tentar a sorte no Brasil. Dê uma sacada no álbum de figurinhas que a VICE criou porque tá lindo demais.

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Foto: Felipe Larozza/ Arte: Juliana Lucato

Franky Tkesor Bitanga
País: Camarões
Idade: 22
Vivendo no Brasil: 11 meses

"Eu assistia às novelas da Globo e achava que o Brasil era daquele jeito. Quando cheguei aqui, vi que não era bem assim, mas dá pra ganhar um pouco mais de dinheiro do que no meu país. Lá, eu morava com a minha avó e fazia faculdade de física, mecânica e matemática. Não lamento porque tô trabalhando como ajudante. Lavo o chão, lavo panela, vidro. Ganho R$ 900 por mês. Com desconto, eu recebo R$ 750. Não estudo mais porque não dá pra estudar nem pra pagar. Gosto muito de rap. Emicida… o cara é bom demais. Tenho um amigo que fala "O cara é zica!". Gosto do Mano Brown e dos Racionais, do Sabotage, do Falcão do Rappa. Gosto também de sacanagem… não, errei a palavra: sertanejo! Thiaguinho, Alexandre Pires, samba. Eu gosto de tudo. Quero trabalhar um ano, juntar dinheiro, comprar um computador e instalar um programa pra montar música. Não quero só fazer rap. Quero fazer uma música universal que até sua vó vai gostar."

Foto: Felipe Larozza/ Arte: Juliana Lucato

Arao Kanga
País: Angola
Idade: 20
Vivendo no Brasil: 6 meses

"Hoje, perdemos de 2 a 0 pra Costa do Marfim. Em Angola, eu jogava futebol na rua. Aqui, torço pro São Paulo. Não lembro o nome do melhor jogador do clube porque na minha casa não tem TV pra assistir aos jogos. Mas o meu preferido do Brasil é o Ronaldo Fenômeno."

Foto: Felipe Larozza/ Arte: Juliana Lucato

Al Motaz Sadi
País: Síria
**Idade: *28***
*Vivendo no Brasil:* 11 meses

"Nasci na Palestina, mas vivi muito tempo na Síria. Moro na casa de um amigo no Capão Redondo, onde sou professor voluntário num projeto chamado 4YOU2. Dou aulas de inglês, francês e árabe, além de ser fotógrafo. O Brasil é lindo, mas existem altos e baixos. As pessoas são muito amigáveis e legais, mas a falta de segurança e a instabilidade econômica são perturbadoras. Gosto da natureza, da comida, da música. Ouço muito Cazuza, Raul Seixas, Elis Regina. Também gosto de sertanejo, forró e de capoeira."

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Foto: Felipe Larozza/ Arte: Juliana Lucato

Dzongwu Okwudili Shelve
País: Nigéria
Idade: 21
Vivendo no Brasil: 4 meses

"Sou atacante do time. O jogo foi ótimo, maravilhoso. Ganhamos de 5 a 0 da Burkina Faso. No ano passado, a Nigéria foi a campeã da Copa dos Refugiados, mas eu não estava aqui. Agradecemos a Deus pelo jogo, pela vitória que ele nos deu hoje. Não fomos nós, foi a força de Deus que fez com que ganhássemos."

Foto: Felipe Larozza/ Arte: Juliana Lucato

Ahmad Jaber
País: Afeganistão
Idade: 21
Vivendo no Brasil: 1 ano e 2 meses

"Por causa de vários problemas no meu país, como a guerra, vim para o Brasil. Sempre que um brasileiro pergunta de onde sou e falo que sou do Afeganistão, ele quer saber como estou, se estou bem. Eu gosto muito disso. O único lado ruim é que aqui estrangeiros não têm muita oportunidade de estudar, fazer faculdade ou aprender português. De resto, tudo é bom. Ainda não estou trabalhando. No Afeganistão, eu costumava estudar inglês e informática. Acho que hoje iremos vencer porque a Síria não é forte o bastante para o nosso time."

Foto: Felipe Larozza/ Arte: Juliana Lucato

Bernard Compaore
País: Burkina Faso
Idade: 23
Vivendo no Brasil: 1 ano e 5 meses

"Jogo bola desde pequeno. Costumava jogar na escola. Meu jogador brasileiro favorito é o Neymar. Vim pra cá pra buscar uma oportunidade de melhorar minha vida e ajudar minha família. Vim sozinho. Gosto de música sertaneja, principalmente Luan Santana. Não gosto do feijão daqui [risos]. No meu país, usamos os mesmos ingredientes, mas a maneira de cozinhar é diferente da dos brasileiros. Fazemos arroz com molho. Pode ser de amendoim, de folhas."

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Foto: Felipe Larozza/ Arte: Juliana Lucato

Hermano Joacin
País: Haiti
Idade: 31
Vivendo no Brasil: 1 ano e 8 meses

"Depois do terremoto, o Haiti ficou muito pobre. Falta emprego, faculdade. Falta muita coisa. Tá terrível. Vi na televisão que tínhamos relacionamento diplomático com o Brasil e aí vim pra cá. É muito melhor que meu país. Lá, eu era motorista da Embaixada do Canadá. Depois, perdi o emprego. Vendi meu carro e vim pro Brasil. Graça a Deus, tô trabalhando. Sou motorista de cemitério. Serviço funerário. Na seleção, sou zagueiro e acho que meu time vai ser campeão. O Haiti é uma ilha. Lá, em todo lugar tem mar, tem praia. Por isso, quando estamos de folga, vamos pra praia tomar uma cervejinha, nadar e ficar com os amigos."

Foto: Felipe Larozza/ Arte: Juliana Lucato

Ouro-Adoyi Tanko
País: Togo
Idade: 31
Vivendo no Brasil: 1 ano e 3 meses

"Do que mais gosto no Brasil são as mulheres. Não tenho namorada, mas estou procurando. Quer casar comigo? [risos] Vim pro Brasil por causa dos problemas na África. Lá, ninguém tem comida. Meu pai morreu, só tenho minha tia e meu irmão, que mora em Gana. Sou marceneiro. Faço armário, cadeira, tudo. Já trabalhei em padaria aqui no Brasil. Eu embalava coisas. Hoje, jogamos com Camarões e eles ganharam de 2 a 0. Tenho problema no joelho. Não dá pra jogar tanto. Dói. Graças a Deus, ninguém se machucou ou morreu."