Antes de Amanhã no Sri Lanka

FYI.

This story is over 5 years old.

Fotos

Antes de Amanhã no Sri Lanka

Nos últimos três anos, o fotógrafo Yannik Willing tem feito viagens da Alemanha ao Sri Lanka documentando a recente transformação daquele país sempre em guerra para um destino luxuoso de férias para o projeto Before Tomorrow.

Nos últimos três anos, o fotógrafo Yannik Willing tem feito viagens da Alemanha ao Sri Lanka pra documentar a recente transformação desse país sempre em guerra em destino luxuoso de férias, pro projeto Before Tomorrow. O Sri Lanka emergiu recentemente de uma sangrenta guerra civil que durou de 1983 até 2009 e tirou mais de 100 mil vidas. Vinte e seis anos de miséria.

Esse conflito vai muito além do meu conhecimento sobre a história do Sri Lanka, então, pra me poupar da vergonha de ser totalmente ignorante, pensei em ligar pro Yannick na esperança de que ele pudesse me ajudar nisso. Além do mais, as fotos dele são lindas, então perguntei sobre elas também.

Publicidade

VICE: Oi, Yannik. Tudo bem?
Yannik Willing: Tudo OK, apesar de ter passado o dia inteiro pendurando minhas próprias fotos no escritório do meu impressor local.

O quê? Por quê?
Era o nosso acordo, ele disse que me faria um preço bom se eu desse algumas fotos do Before Tomorrow pra ele.

Bom, isso é muito gentil da sua parte. Como começou a ideia desse projeto?
Tenho um amigo da faculdade cujos pais moram no Sri Lanka; o pai dele é de lá e a mãe é alemã. No meu segundo semestre do curso de fotografia em 2009, enquanto a guerra civil ainda estava acontecendo, visitei o país com ele. Foi a primeira vez que viajei pra tão longe, então tirei uma monte de fotos, que acabei odiando porque eram muito “turísticas”.

É meio surpreendente você perambular por lá como turista, fotografando o país no meio de uma guerra civil.
Bom, o que é interessante no Sri Lanka é que a guerra durou cerca de 30 anos e, enquanto isso, a costa oeste, onde eu estava, era relativamente segura. Veja, a coisa toda começou por causa de um grupo militante, o LTTE (os Tigres de Libertação do Tâmil Eelam, na sigla em inglês), que um dia decidiu criar seu próprio estado independente nas regiões leste e norte. O oeste teve sua parcela de ataques terroristas também, o que afetou o turismo e o cotidiano das pessoas.

E depois disso você descobriu que a guerra tinha acabado?
Sim. Voltei pra casa e, um mês depois, ouvi que a guerra civil tinha acabado e que os Tigres do Tâmil tinham sido derrotados. Foi um final sangrento também. É impossível calcular as perdas, mas ouvi dizer que o número de mortes na batalha de Kilinochchi ficou em 15 mil.

Publicidade

Uau. Foi quando você decidiu voltar e focar nesse projeto?
Na verdade não. A ideia veio alguns anos depois. Continuei acompanhando a situação e, em algum momento de 2010, cruzei com esses números loucos sobre o turismo no país, dizendo que estava em ascensão. Estava procurando por um tema pra começar um projeto e a conexão entre o boom econômico e a crise era um assunto que me interessava, então decidi voltar ao Sri Lanka e ver o país nesse estado de fluxo.

E o turismo era do jeito que os números descreviam?
Não exatamente. Apesar dos números divulgados, o que encontrei foi um tipo de silêncio — a calmaria antes da tempestade, se você preferir. Todo mundo estava falando sobre o turismo que ia começar e fazendo planos pra abrir novos negócios, mas não havia tantos turistas.

Fui a um complexo turístico na costa leste e o lugar estava completamente deserto, como as cidades fantasmas que você vê nos filmes de faroeste. Não havia uma pessoa que fosse nas ruas, mas tudo estava perfeitamente preparado, as pensões estavam impecáveis e os restaurantes estavam abertos. Por isso decidi chamar o projeto de “Before Tomorrow”. Me senti muito estranho lá.

Como a coisa do turismo afetou a paisagem e as pessoas?
Acho que a maior mudança que se pode ver é na costa leste, onde tudo foi completamente destruído pelo tsunami. A economia depois da guerra estava basicamente no zero. Quando se trata dos moradores, a especulação imobiliária é um grande problema, com redes de hotéis comprando grandes propriedades e os residentes sendo impedidos de construir seus próprios restaurantes e negócios até certa distância da praia, que é o motivo que leva os turistas até lá.

Publicidade

E como os moradores reagiram a isso?
A coisa aqui é que as pessoas não gostam de mencionar o tsunami ou a guerra. A maioria está feliz porque a guerra acabou, então provavelmente eles não vão protestar contra o governo, não importa o quanto estejam sendo discriminados. Eles estão com medo e cansados.

É, posso imaginar. Aliás, adoro a foto do surfista de cabelo comprido loiro.
Sim, o nome dele é Tarange, ele tem 21 anos e é parte da equipe de surfe do Sri Lanka. Ele tinha acabado de ganhar uma competição quando o conheci e estava falando em ir pra Suécia — ele estava muito empolgado. Ele trabalha na loja de surfe do irmão e ganha a vida alugando pranchas. E anda se dando muito bem nisso.

Com certeza. E a jaqueta coberta de buttons?
Ah, esse é o Chattu Kuttan, um homem de 92 anos que trabalha como porteiro de um hotel de luxo em Colombo, a capital. Ele coleciona esses buttons de todos os turistas que conhece, e cada um tem sua própria história.

Legal. E, por último, o que é aquela foto com uma tela e uma antena parabólica?
É um cinema a céu aberto.

Ah, que legal. Faz sentido. Obrigada, Yannik.

Pra ver a galeria completa, clique aqui.

Mais fotos de pessoas daquele lado do mundo:

Os Punks Frustrados de Mianmar