As Lojas Rurais da Argentina São uma Ligação Puída com o Passado do Interior do País

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As Lojas Rurais da Argentina São uma Ligação Puída com o Passado do Interior do País

As lojas locais funcionam como museus, correios, oficinas, açougues, padarias e bares. Muitas estão na mesma família há gerações e servem como cerne de histórias individuais.

Açougue El 91. Todas as fotos por Guillermo Srode-Khart.

A Argentina é vista geralmente através das lentes de Buenos Aires – a capital sofisticada e cosmopolita. Mas depois de alguns anos viajando pelo país, o fotógrafo argentino Guillermo Srode-Khart se viu atraído pelas áreas mais rurais. Visitando incontáveis pequenos estabelecimentos comerciais, ele observou como eles apresentam um fio que os liga com o passado. As lojas locais funcionam como museus, correios, oficinas, açougues, padarias e bares. Muitas estão na mesma família há gerações e servem como cerne de histórias individuais.

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Nessa série, ele tentou capturar um passado que está desaparecendo, enquanto as novas gerações rompem a tradição e procuram construir uma vida nova nas cidades. A VICE conversou com Guillhermo, que está nos EUA para promover seu novo livro, Stories.

Bicicletaria Leili.

VICE: O que te atraiu nas cidades do interior em primeiro lugar?
Guillermo Srode-Khart: Tenho uma ligação com as áreas rurais desde a infância. Meu avô era envolvido com o negócio de madeira na Argentina, mas não levei isso a sério até os 20 e poucos anos, depois que me mudei para os EUA. Percebi que eu estava realmente interessado no meu país e que queria explorá-lo. Lentamente, esses lugares passaram a simbolizar o nervo interior da minha identidade.

Muitos desses lugares têm vários papéis práticos – correio, loja, ponto de encontro – mas o que eles significam para a cultura a que servem?
Esses lugares são muito complexos. O dono de uma loja chamada Cuatro Esquinas me explicou que conhecia todo mundo pelo nome e que se preocupava com todos os clientes. Elas também são vitais para a socialização – essas cidades são muito isoladas. As pessoas vão para esses estabelecimentos para se encontrar e conversar sobre as notícias, a vida, qualquer coisa.

O Cuatro Esquinas também se considera um museu. Dada a longa história do lugar, os clientes começaram a dar coisas para o dono: lembranças, como uma cabeça de javali empalhada e assim por diante. O lugar é um museu feito pelas pessoas.

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Cuatro Esquinas.

Como você mencionou, muitos desses lugares são bastante isolados. Como você era recebido quando chegava nessas cidades?
As pessoas geralmente eram muito acolhedoras, elas não recebem muitos visitantes ou atenção, e os negócios não vão muito bem. Ter um "gringo" da cidade perguntando sobre suas vidas e o que eles fazem, algo vital na identidade deles; eles se sentiam honrados.

Os negócios não estão indo bem para essas lojas?
Esses caras estão tentando manter os negócios funcionando, mas é difícil. Muitas vezes, quando o dono morre, as novas gerações não querem continuar com isso porque conseguem ver que esse não é um trabalho fácil, e não estão interessadas em aprender a gerenciar uma loja assim. Por exemplo, o marceneiro me disse que seu filho está estudando TI e que quando o visita, pergunta como ele pode viver uma vida que o deixa doente sem nenhuma recompensa econômica. Ainda assim, o marceneiro – com muita tristeza – entende que são tempos diferentes e que seu filho tem uma vida diferente.

Marcenaria Colonna.

Eles têm orgulho de seus negócios?
Sim, com certeza. Acho que não há separação entre seus negócios e suas identidades.

Que tipo de efeito você acha que esse projeto teve sobre você?
Por causa desse trabalho, me mudei recentemente para uma cidade pequena. Adoro o interior. Sinto falta disso e sempre quero voltar. Eu estava alugando uma casa em Buenos Aires, mas saí de lá e aluguei uma casa a seis horas da cidade. Senti que tinha que estar mais perto desse mundo porque me sentia nutrido por ele.

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Entrevista por Laura Rodriguez Castro, siga-a no Twitter.

Tradução: Marina Schnoor

Mercado do Adelfa.

Bar Melón.

Bar Bessonart.

Casa Bolognani.

Padaria Estrella.

Loja de ferragens El Ombú.

Mercearia Sol de Mayo.

Fábrica de vassouras do García.