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Moda

As Pastoras da Inglaterra Querem se Vestir para Si Mesmas e para Deus

Porém isso parece ser mais complicado do que parece, visto que as poucas opções que elas têm para vestir são túnicas largas emprestadas de outros homens no clero.

Você pode achar que as pastoras inglesas têm coisas mais importantes na cabeça do que o que vão usar no trabalho. E têm. Geralmente. Mas todo mundo tem de se vestir pra trabalhar pela manhã – e, quando você está a serviço do maior chefe de todos, literalmente (ou figurativamente, dependendo das suas crenças), você precisa se esmerar, né?

Os vinte anos passados desde que a Igreja da Inglaterra começou a ordenar mulheres são uma gota na pia batismal da instituição, depois de centenas de anos de um clero totalmente masculino. Até recentemente, um efeito colateral disso era que as opções de roupa de trabalho eram limitadas para elas: uma bata emprestada pelos meninos (tamanho: grande; cor: preto) ou uma camisa, que também era deles (tamanho: grande; busto: problemático).

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Fora arcebispos, não há muitas opções em se tratando de roupas clericais. Assim, com as fileiras femininas do clero crescendo lentamente (em 2012, pela primeira vez, mais mulheres se juntaram à Igreja da Inglaterra do que homens), a internet ficou cheia de mulheres de bata agonizando sobre o que constitui uma roupa de trabalho apropriada (veja: "Exigimos Camisas Clericais Apropriadas para Mulheres!"). Elas devem se resignar, parecendo desenxabidas e desconfortáveis no equivalente pastoral do blazer do seu pai? Ou se arriscar a causar polêmica, ousando se importar com roupas em vez de se focar no catecismo? Juntar-se aos homens no preto da cabeça aos pés ou flertar com a "extravagância" de rosas e azuis?

No christianitytoday.com, uma pastora anônima escreveu que queria que suas roupas refletissem quem ela era, o que significa reconhecer que ela é uma mulher. Justo. "Mas", ela continua, "não de um jeito que toque nenhum estereótipo negativo (muito emocional, sexy, sentimental, menininha, insegura ou matriarcal). Quero dizer que sou forte, confiante na habilidade de Deus em me usar, mas não de uma maneira que pareça masculina ou ambiciosa". Ah.

Claro, essas mulheres não querem entrar trotando no culto como uma modelo de passarela; a questão é como ser uma mulher no que costumava ser um mundo só de homens. Quando você é parte de uma "minoria" relativamente nova e muito escrutinada numa instituição centenária, o que você usa importa, segundo a Part-Time Priest (ou Reverenda Claire Alcock), que analisa roupas clericais femininas em seu blog.

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Então, o que uma pastora exigente usa em 2015? Uma nova onda de estilistas oferece algumas soluções. Um hábito com uma pomba com "as chamas do Pentecostes saindo pelas asas" (da coleção 2013 da "Clergy Catwalk") pode ser demais para um batizado. Mas… e um modelo fashion de Camelle Daley: blusa com peplum e mangas bufantes e saia lápis em tons de vitrais?

A estilista, formada no London College of Fashion, cresceu na igreja e percebeu que várias mulheres estilosas caíam em opções óbvias e chatas assim que se juntavam ao ministério. Ela fundou sua marca, House of Ilona, com essas mulheres em mente.

"Algumas clientes querem algo que não cause barulho, mas que tenha um bom caimento. Outras são tipo 'Muito glitter para as mulheres no ministério!' Sua personalidade influencia como você prega; então, por que todo mundo precisa se vestir igual?", questiona Daley, que batiza seus modelos com os nomes de suas personagens bíblicas favoritas, lembrando que, na verdade, as mulheres vêm trabalhando na área há tempos.

Canon Rosie Harper, que corajosamente participou do programa da BBC What Not to Wear, gosta da marca sueca Casual Priest, que tem vestidos recatados porém modernos, o tipo de coisa que Alexa Chung usaria se encontrasse Jesus. A marca foi fundada pela estilista Maria Sjodin com o objetivo de "fortalecer mulheres ordenadas em seus papéis através do vestuário", sendo uma das primeiras a oferecer tops de jersey (mais radical do que parece) e vestidos que destacam, em vez de disfarçar, as formas femininas. Seus modelos não saem barato – tudo fica acima de US$ 260 –, mas, para Harper e outras fãs da marca, eles valem cada centavo.

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"As roupas me fazem sentir confiante e profissional", ela diz. "Tudo já é mais difícil para as mulheres na vida e na igreja. E, se você apresenta uma fachada ligeiramente desmazelada, isso implica que você não se importa consigo mesma e, portanto, não se importa com os outros também. Você precisa mostrar autorrespeito."

Mas Harper sofre por seu interesse por moda. Conhecida por usar cores brilhantes entre um mar de preto e cinza no Sínodo Geral – "Todo jornal tira sua foto. Vejo isso como fazer minha parte pela visibilidade das mulheres na igreja" –, ela sofreu, quando falou publicamente em defesa da Lei de Morte Assistida no ano passado, críticas em relação à sua roupa de quase todo comentarista, começando uma tempestade no Twitter. Um problema infelizmente familiar para qualquer mulher pública (Theresa May e seus sapatos de oncinha, por exemplo), mas chato do mesmo jeito. Então, não é surpresa que outras mulheres escolham usar sua individualidade mais discretamente.

"Eu tinha uma cliente que só podia usar preto em sua igreja, mas me pedia para costurar seu hábito com linha pink", revela Helene Cross, da Cross Designs, uma das primeiras empresas a reconhecer as necessidades particulares do clero feminino, com modelos sob medida. "Eu a aconselhei a usar sapatos de salto pink para combinar."

Helen Cross falando sobre a Cross Designs.

Cross começou em 1995, quando roupas clericais femininas eram só modelos masculinos com um monte de pences. "Eu sabia que aquilo não era bom o suficiente", ela me explica. "Elas não são homens. São mulheres que receberam o chamado de Deus. Por que elas não podem parecer mulheres?"

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Agora, ela recebe encomendas do mundo todo. Fazendo modelos sob medida, Cross consegue acomodar peitos, quadris e cinturas, parecendo curtir a leve insubordinação que seu trabalho envolve: "Algumas mulheres adoram roxo, mas, claro, essa cor é só para bispos; então, se você não é [a primeira bispa da Igreja da Inglaterra] Libby Lane, isso está fora de questão. Mas você pode jogar um pouco de roxo na mistura…".

Seus modelos são inspirados no que ela vê as mulheres usando nas ruas e na TV – o último conjunto foi baseado no figurino de uma médica do seriado Holby City. E por que não?

"Essas mulheres geralmente já estavam na indústria antes de acharem sua vocação. Elas querem usar o que usariam normalmente, mas com um colarinho clerical", ela defende.

Cross vê seu trabalho como uma contribuição para sua fé e um empurrãozinho para as mulheres da instituição. É como ela diz: "Como você vai sentir que a igreja é o seu lugar se precisa usar as roupas de outra pessoa?".

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Tradução: Marina Schnoor