Os manifestantes do Ato Vigília explicam a chacina dos cinco jovens da Zona Leste de SP

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Os manifestantes do Ato Vigília explicam a chacina dos cinco jovens da Zona Leste de SP

Antes de um guarda municipal assumir a culpa pela chacina dos jovens mortos em Mogi das Cruzes, pessoas se reuniram num ato "contra o genocídio da juventude preta".

Por 15 dias, cinco jovens moradores da Zona Leste de São Paulo foram dados como desaparecidos. E a desconfiança inicial de que eles teriam sido assassinados por policiais se confirmou nesta sexta (11), depois que o guarda municipal de Santo André, Rodrigo Gonçalves Oliveira, confessou ter participado da chacina.

César Augusto Gomes Silva, 19 anos, Jonathan Moreira Ferreira e Caique Henrique Machado Silva, ambos de 18, Robson Fernando Donato de Paula, cadeirante de 16, e Jonas Ferreira Januário, 30, foram dados como desaparecidos no dia 21 de outubro quando iam, supostamente, a uma festa. Somente no dia 6 de novembro foram encontrados os cinco corpos em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo — quatro deles identificados como dos garotos desaparecidos.

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Foto: Coletivo Amapoa/VICE

Antes de o crime vir à tona, porém, na quinta (10), pessoas dos mais diferentes movimentos ocuparam a sede da Secretaria de Segurança Pública do Estado de SP em forma de protesto contra a morte dos jovens que foram encontrados enterrados em cova rasa cobertos de cal (uma maneira de adiantar o processo de decomposição dos corpos). Para Allan da Rosa, escritor e pedagogo, integrante do movimento de literatura periférica, "quando morre um jovem, como o Caíque ou o Jonatan, morre uma família inteira, e um bairro inteiro permanece na UTI, isso é muito preocupante."

A chacina, investiga o DHPP (departamento de homicídios da polícia paulistana) teria sido motivada pela morte de um guarda e que os jovens teriam sido mortos por guardas como retaliação ao assassinato do agente.

Allan da Rosa questiona as mortes: "Nós precisamos sensibilizar as pessoas desse discurso de que 'morreu e era bandido'. Se fosse bandido também teria que morrer desse jeito?", pergunta ele. "Se fossem cinco jovens traficantes, que a gente sabe que rola solto nos Jardins, em Moema, traficantes que moram em apartamentos, será que a sociedade consideraria isso ainda normal, comum?"

Foto: Coletivo Amapoa/VICE

As fotógrafas Pétala Lopes e Camila Svenson, do coletivo Amapoa, estiveram no Ato Vigília em memória aos jovens mortos e falaram com manifestantes que se posicionaram contra o que chamaram de genocídio dos jovens negros da periferia brasileira. A seguir, depoimentos e mais imagens da manifestação.

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Helena Nogueira. Foto: Coletivo Amapoa/VICE

"Estou neste ato em repúdio ao que tem acontecido. O genocídio da juventude negra que é frequente — todo dia a gente sabe que se mata um menino jovem e negro na periferia. Então, eu acho um absurdo isso que a polícia faz com a juventude negra. Eu acho que esse governo racista, fascista do PSDB, tem objetivo de eliminar a juventude negra, o jovem é o nosso futuro. Se eliminar o jovem vai estar eliminando a continuidade. Eu acho um absurdo tirar a vida das pessoas.

Tem pessoas que falam que eles eram bandidos, mas isso não justifica. Matar jovem porque é bandido? Não justifica. Quer dizer que não existe lei, justiça? Querem voltar aos primórdios, que é dente por dente, acho que é assim que se fala, né? O cara é bandido vamos matar? É uma emboscada para eliminar jovens. Chega de genocídio de jovem negro na periferia!" — Helena Nogueira, 68, aposentada.

Brenda de roxo e sua amiga que não quis se identificar. Foto: Coletivo Amapoa/VICE

"Moro no Grajaú, Zona Sul.. Primeiro que não é um caso isolado, né? Isso vem ocorrendo de forma sistemática, constante, e o alvo é sempre a periferia, o alvo é sempre o jovem, é sempre o negro. E aí a sociedade já meio que naturalizou isso, e não dá para naturalizar. E quem sente, quem sofre com isso, é a gente. A gente tá sempre tentando se organizar para cobrar. [Agora] é tentar construir alguma resistência e tentar desnaturalizar que não é normal, não é natural, não é comum, não é cultural aceitar que os jovens negros sejam executados dessa forma. É desumano, cruel, não tem dignidade." — Brenda, 24, estudante.

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Osvaldo. Foto: Coletivo Amapoa/VICE

"Moro na zona norte. Mas a gente ta aqui pra manifestação, afinal de contas, é fundamental que a gente se posicione. Isso é um fato, que se a gente continuar mantendo os olhos e a boca fechados, ele vai só se avolumar. A gente vem de um tempo que viveu arduamente a ditadura, pra agora quando se fala em democracia, a gente vê que a situação para um parte da sociedade não mudou nada, né? Em especial, a juventude periférica, a juventude, negra. Então a gente veio para se manifestar." — Osvaldo Faustino, 64 anos.

Valber. Foto: Coletivo Amapoa/VICE

"O ato reforça o que o movimento negro vem falando há muito tempo, que é a questão do extermínio da juventude negra. Então, mais ou menos a gente reforça isso, porque a população preta, principalmente os jovens, estão tendo suas vidas ceifadas nas comunidades pobres em todo o país. Apesar da posse do corpo ter acabado, a gente ainda sofre com a repressão policial, com o racismo estrutural, e com toda a forma de violência que temos por parte do Estado nas periferias. A quando se trata de jovens, a gente está falando de uma população que é mais discriminada — os jovens negros — e dentro dos jovens negros, existe a questão dos jovens negros LGBTs que temos nas periferias e que também não são assistidos, então estamos aqui hoje por conta disso." — Valber Pinto, 30, jornalista.

Elis Regina. Foto: Coletivo Amapoa/VICE

"Sou representante da ONG Núcleo Maximiliano Kolbe e nos manifestamos e nos unimos ao ato por entender que essas mortes não são factuais, elas não são simplesmente dados estatísticos, elas fazem parte de uma preocupação muito maior nossa, nós que defendemos os direitos humanos. Quem defende os direitos humanos defende a vida. Independentemente de ser preto, ser pobre, ser de periferia, eles não mereciam isso, esses cinco jovens. E nenhum jovem preto de periferia e pobre merece ser morto da maneira como está acontecendo aqui no Estado de São Paulo — e acontece no país inteiro. É preocupante a situação que nós vivemos, é uma situação em que o Estado não é mais democrático, o que se tenta passar hoje na mídia é isso, mas já acreditamos firmemente que não é mais. Os nossos direitos estão terrivelmente ameaçados, e nós nos unimos a todos os movimentos e a todas as manifestações que vêm a favor da vida." Elis Regina Azevedo, ativista da ONG Kolbe.

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Flávio. Foto: Coletivo Amapoa/VICE

"Foi um fato muito grave, mas não é um fato isolado, é uma prática recorrente da policia militar especialmente. Não tá provado ainda que foi mas, os indícios são bastante veementes. O assassinato de jovens pobres e negros na periferia da cidade é uma situação que só muda mediante a intervenção da população, dos cidadãos e cidadãs, e gente tá aqui para ajudar a marcar essa posição de repúdio. Fazer número para expressar na presença o repúdio a esse tipo de ação." — Flávio Carrança, 64 anos.

Mais fotos do Ato-Vigília contra a chacina abaixo:

Foto: Coletivo Amapoa/VICE

Foto: Coletivo Amapoa/VICE

Foto: Coletivo Amapoa/VICE

Foto: Coletivo Amapoa/VICE

Foto: Coletivo Amapoa/VICE

Foto: Coletivo Amapoa/VICE

Foto: Coletivo Amapoa/VICE

Foto: Coletivo Amapoa/VICE

Foto: Coletivo Amapoa/VICE

Foto: Coletivo Amapoa/VICE

Secretário de Segurança do Estado de SP, Mágino Barbosa Filho apareceu no ato. Foto: Coletivo Amapoa/VICE

Foto: Coletivo Amapoa/VICE

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