“B-Stylers” São Adolescentes Japoneses que Querem ser Negros

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“B-Stylers” São Adolescentes Japoneses que Querem ser Negros

Ninguém se importa com seu blackface em Tóquio.

A fotógrafa holandesa Desiré van den Berg passou os últimos sete meses viajando pela Ásia. Ela está morando em Hong Kong agora, mas quando estava em Tóquio, em dezembro de 2013, ela conheceu a Hina, uma garota de 23 anos que trabalha numa loja da moda em Tóquio chamada Baby Shoop. O slogan da loja da Hina é “Black for Life”. Ela descreve seus produtos como “um tributo à cultura black: música, moda e estilo de dança”.

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O visual da Hina também é leal ao que os japoneses chamam “B-Style” – uma contração das palavras “Black” e “Lifestyle”, que se refere à subcultura de jovens japoneses que gostam tanto da cultura hip hop norte-americana que fazem de tudo para parecer o mais afro-americanos possível.

Liguei para a Desiré para saber mais sobre a época em que ela fotografou a Hina e sua turma.

VICE: Como você conheceu a Hina?
Desiré van den Berg: Uma vez, assisti a um documentário sobre B-Style em que ela aparecia. Acabei entrando em contato com ela pelo Facebook, por meio de outros B-stylers. Eu disse que queria tirar fotos dela e ela achou que seria superlegal. Mas foi muito problemático, porque ela e os outros B-stylers não falam inglês. Então, precisei de um tradutor tanto para marcar o encontro, quanto da primeira vez que nos encontramos mesmo.

Como isso funciona com relação a traduzir as letras de rap?
A Hina fala um pouco de inglês, mas não fluentemente. Ela gosta de usar algumas gírias em inglês quando conversa com seus amigos B-stylers, como terminar as frases com “man” ou usar palavrões como “motherfucker” brincando.

Eu sei que Japão é cheio de subculturas estranhas, mas como você explica essa?
Existem coisas como as Garotas de Harajuku, que são mais normais, mas algumas são muito exageradas. B-style é o tipo de coisa que você encontraria no wtfjapanseriously.com. A Hina sempre vai para Nova York e idolatra os Estados Unidos. A TV japonesa é cheia de filmes e comerciais norte-americanos, e isso também deve ser um motivo. Ela vê os EUA como um tipo de terra prometida.

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Hina no trabalho. 

O B-style é grande no Japão?
Não. A cena é bem pequena; você não vê isso nas ruas. Você precisa procurar por esse pessoal. Segundo a Hina, era maior alguns anos atrás – agora só sobraram alguns deles em cada cidade. Certamente, não é uma coisa mainstream, e talvez ainda seja pequena demais para chamar de subcultura.

O que os B-stylers como a Hina costumam fazer?
A Hina, por exemplo, vai a um salão de bronzeamento toda semana para escurecer a pele. Fiquei surpresa até com a existência desses salões, porque o ideal de beleza clássico no Japão é ter a pele o mais pálida possível.

Só para esclarecer: a Hina é 100% japonesa e tem a pele naturalmente pálida. Ela só é mais escura por causa do bronzeamento e porque ela usa uma base muito escura. Os B-stylers também ouvem hip-hop e vão a salões africanos para trançar ou enrolar o cabelo. Esses salões ficam nos guetos de Tóquio e são gerenciados pela pequena comunidade africana da cidade. A Hina usa lentes de contato coloridas: elas são de um tom mais claro que o castanho para fazer seus olhos parecerem maiores.

A plateia num evento B-style. Os garotos também fazem bronzeamento para ficar mais escuros e menos “japoneses”.

Os B-stylers se encontram ou a cena existe mais pela internet?
Há eventos especiais de B-style, nos quais os japonese dançam break, hip-hop ou R&B. Apesar de os eventos atraírem principalmente japoneses, é possível escutar muitas gírias. Fui a um desses eventos e senti como se, do nada, tudo tivesse se ligado. Senti que isso era maior do que eu tinha imaginado.

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Há quem considere isso inapropriado?
Aparentemente, não no Japão, mas você vê reações ferozes nos comentários dos vídeos no YouTube. Muito acham que o estereótipo dos afro-americanos é todo errado. Hina e os outros B-stylers não têm muita consciência disso.

O slogan da Baby Shoop: “Black for Life”.

E o que as famílias dos B-stylers pensam desse estilo de vida?
Quando eu estava no Japão, percebi que é considerado falta de educação ficar olhando. Você vê as coisas mais estranhas na rua, mas ninguém fica olhando, não do jeito que elas fariam na Holanda, de onde eu venho. É mais fácil para as pessoas serem quem elas querem. Os pais da Hina não têm problema com isso. A mãe acha que é uma fase, e que vai passar. Mesmo com muitos japoneses à vontade entre a multidão, esse ainda é um país de extremos, que conseguem coexistir muito bem.

Veja mais do trabalho da Desiré aqui.

Hina em sua cidade natal, Tóquio.

Promoção na Baby Shoop, uma loja voltada para B-stylers.

Uma ex-B-styler mostra uma foto com a amiga.

Rappers num evento B-style em Shibuya, Tóquio.

Lookbooks de uma das poucas marcas japonesas voltadas para B-stylers. A famosa frase do Kendrick Lamar está estampada numa camiseta.

O slogan da Baby Shoop.

O vídeo de B-style onde a Hina aparece tem tantas visualizações no YouTube que as pessoas a reconhecem quando ela vai para os Estados Unidos.