​Caça aos estudantes no centro de São Paulo

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Educação Ocupada

​Caça aos estudantes no centro de São Paulo

De um lado, bombinhas, rojões e foguetes disparados na direção dos agentes, que respondiam com disparos de borracha, bombas e gás. Foi o início de mais um episódio violento no duelo de forças entre estudantes secundaristas e o Governo de São Paulo.

Foto por Rodrigo Zaim do R.U.A Fotocoletivo.

Atrás de grades, policiais militares guardavam o edifício do governo. De repente, começa o espetáculo pirotécnico. De um lado, bombinhas, rojões e foguetes disparados na direção dos agentes, que respondiam com disparos de borracha, bombas e gás. Foi o início de mais um episódio violento no duelo de forças entre estudantes secundaristas e o Governo do Estado de São Paulo.

Os estudantes e apoiadores da luta contra a reorganização do sistema educacional voltaram às ruas da capital no fim da tarde desta quarta-feira (9). O anúncio feito pelo governador Geraldo Alckmin na última sexta-feira (4) de que o plano de reforma seria adiado não convenceu alunos da maioria das quase 200 escolas ocupadas a abandonar os prédios.

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Segundo a Secretaria Estadual de Educação, 136 escolas continuavam ocupadas em todo o Estado nesta quarta. Os alunos, que protestam contra o fechamento de 92 unidades distribuídas pelo Estado que está previsto no projeto de reorganização, afirmam que a proposta de adiamento anunciada por Alckmin não é suficiente. Eles exigem o cancelamento da proposta.

Convocado há dias, e com um número de participantes estimado pela reportagem entre 4 e 6 mil pessoas – 2 mil, de acordo com a polícia militar –, o protesto foi um dos maiores realizados desde o começo das ocupações, há um mês. Estudantes secundaristas de diversas escolas se misturavam a ativistas, punks, movimentos sociais, entidades da USP, entre outros, em uma marcha que percorreu mais de 6 km em um roteiro "turístico" que incluiu Masp, Avenida Paulista, Teatro Municipal, além de outros pontos conhecidos do centro da cidade.

Ainda na Avenida 9 de Julho, alguns jovens se armavam com pedras da calçada. A minhoca de gente, que, em alguns pontos, media quase 1 km, avançava sem problemas até chegar à Secretaria Estadual de Educação, na Praça da República. O edifício era guardado por diversos policiais com escudos e equipamento contra manifestações.

Uma bombinha é estourada, deixando todos alertas. Logo, pedras e garrafas são lançadas contra os policiais – e, em seguida, um rojão. Manifestantes alegam que o primeiro disparo foi feito por um P2 – um policial infiltrado. O que se segue é o show pirotécnico narrado no começo deste relato.

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Gás, Barricadas e Jogo de caça

Após o primeiro recuo dos manifestantes, o que se seguiu foi aquilo que é corriqueiro em protestos reprimidos em São Paulo: a polícia lança bombas de estilhaço e gás lacrimogêneo, meia dúzia de ativistas respondem com pedras e outros objetos; a maior parte do ato recua, os mais avançados fazem barricadas, enquanto os policiais forçam o recuo com novas bombas, e assim por diante. Avenida Ipiranga, São Luís, Consolação, Augusta. O volume de barricadas impressiona tanto quanto o número de bombas usadas.

Em meio às barricadas, um policial saca a arma com tiros letais, aponta para a multidão que fugia pela Avenida São Luís – uma das mais arborizadas e ricas do centro velho da capital, reduto de edifícios elegantes da década de 50 e agências de turismo – e dispara dois tiros para o alto.

Pouco depois, durante a fuga, alguns estudantes se refugiam dentro do Teatro de Arena. Segundo relatos de membros do teatro e de ONGs, dois policiais entram no prédio e, com agressões, retiram dois dos estudantes.

Conforme fugiam dos ataques, as pessoas se dispersavam. Até começar o jogo de caça ao manifestante protagonizado por policiais da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas). Eram visados aqueles com cara de jovem, estudante ou vestindo roupas escuras.

Cerca de 30 alunos fugiam por ruas da Bela Vista, com policiais em motos no encalço. Quando parecia que seriam alcançados, os policiais paravam, lançavam bombas, esperavam um pouco e retomavam a caçada.

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Em meio a esse jogo, 10 manifestantes foram detidos. Um foi levado até o 2º DP; os outros, para o 78º DP. Advogados deram suporte aos detidos nas delegacias, e todos foram liberados por volta das 6h da manhã.

Mais cedo, ainda no protesto, estudantes haviam feito a seguinte promessa em relação às ocupações: "Se necessário, vamos até o ano que vem".

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