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Canon, Licenciamento e o Verdadeiro Street Fighter Brasileiro

Ou também: A persistência dos cartunistas brasileiros de finalmente concederem a alegria da molecada ao ver a Chun Li e a Cammy tomando banho.

A palavra inglesa canon é a equivalente ao termo cânone em português, que significa o corpo oficial das regras eclesiásticas nas quais uma religião é estabelecida. Em outro contexto, também quer dizer a história oficial de algum universo fictício. Se você disser que o Sonic está grávido, eu posso retrucar: “Mano, você é burro??? O Sonic grávido não é CANON, apesar das inúmeras fanfics onde ele fica grávido. Seu burro”. Canon é a história oficial que os criadores e escritores autorizados escrevem, mas às vezes essa linha não fica tão clara.

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Por um motivo que ainda hei de descobrir, a galera que faz fanfic do Sonic ama retratá-lo grávido. 

Muito da grana que se pode ganhar com algum personagem vem do famigerado licenciamento, em que se vende o direito de uso de personagens e histórias feitas originalmente em uma mídia para outra. Um exemplo claro disso é que eu posso ir à bombonière aqui perto de casa e comprar um maldito chiclete do Angry Birds. É claro que o chiclete do Angry Birds é o limite do esvaziamento de algo já bem oco a princípio, mas ilustra lindamente o que é o licenciamento. Recentemente, também assisti a um péssimo documentário sobre a tirinha de jornal Calvin & Haroldo e seu criador, Bill Waterson. Parte do que é tratado no documentário é a relutância que o criador da tirinha teve em licenciar seu personagem para outros tipos de mídia ou produtos: é por isso que não se vende um Haroldo de pelúcia por aí, e a imagem mais famosa de Calvin, fora do contexto da tirinha, é essa daqui.

Isso que o Bill Waterson estava tentando evitar – em vão. 

Eu não conhecia o termo canon antes de jogar o maravilhoso jogo de RPG maker Charles Barkley Shut Up And Jam: Gaiden. Logo que você abre esse maravilhoso game, eles já te avisam: “WARNING: This Game is Canon”. Eu não entendi a princípio o que isso queria dizer; aliás, eu fiquei uma hora jogando o negócio sem fazer a mínima ideia do que estava acontecendo. Quando eu entendi, foi um momento mágico. Ele pretende inserir o jogo de Mega Drive Charles Barkley Shut Up And Jam ao universo do filme Space Jam contando a história cyberapocalíptica do jogador de basquete e de seu filho, Hoopz Barkley – e sim, acaba sendo mais complicado do que isso. A piada é que o enredo completamente absurdo é, ao mesmo tempo, um fan fiction elaboradíssimo que faz graça de todos os fan fictions já escritos e seus esquisitos criadores. Ao falar que o jogo é canon, eles estão dizendo que esta é a história oficial de Charles Barkley dentro do cosmos de Space Jam, o que seria bom demais para ser verdade. Inclusive desde o Kickstarter, estou ansiosamente aguardando o lançamento da continuação dessa epopeia no segundo jogo, The Magical Realms of Tír na nÓg: Escape from Necron 7 - Revenge of Cuchulainn: The Official Game of the Movie - Chapter 2 of the Hoopz Barkley SaGa.

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Posto isso, nos anos 90 algumas (Capcom) empresas (Capcom) de videogame (Capcom) fizeram contratos não tão distantes da loucura desenvolvida pelo pessoal do Barkley. Street Fighter 2 é um dos jogos mais famosos da história, e investir em merchandising baseado nesse universo nunca foi má ideia. Mas, aqui no Brasil, temos uma história curiosa que se você for procurar na internet, vai encontrar. Você pode estar um dia no Google e se perguntar qual era, afinal de contas, a história daquela HQ brasileira do Street Fighter. Bom, a história é a seguinte:

Capa do primeiro número totalmente feito por brasileiros. Saca a pose de loira do Tchan da Cammy. 

Originalmente, a história em quadrinhos oficial do Street Fighter no Brasil era uma localização de uma publicação americana baseada no universo do jogo. Tendo sido cancelada a série americana original logo na terceira edição, o pessoal da editora Escala fez o quê? Como verdadeiros brasileiros que nunca desistem, foram lá e fizeram o que muitos achavam impossível: criaram uma história oficial do Street Fighter 100% made in Brazil. O resultado foram 17 edições de histórias envolvendo os principais personagens do canon original do jogo, e eles nem enfiaram tantos personagens novos ao canon original do Street Fighter.

Com esta humilde montagem, tentei passar uma ideia geral do clima dos quadrinhos brasileiros do Street Fighter. 

Apesar da arte de qualidade ligeiramente duvidosa das primeiras edições, o pessoal responsável pelos quadrinhos brasileiros conseguiu fazer um trabalho bem razoável ao tomar as rédeas criativas da publicação em terras tupiniquins. Tudo o que se espera de uma história em quadrinhos para jovens adolescentes está lá, inclusive uma razoável dose de erotismo. A famosa cena do anime do Street Fighter da Chun Li tomando banho levou inúmeros pré-adolescentes à loucura; felizes com a possibilidade de fazer sua própria versão da cena, os roteiristas da HQ brasileira foram lá e não a colocaram tomando banho apenas uma vez, mas duas: na segunda, a Cammy também toma um banhinho. Imagino que chegaram a um passo de colocar as duas no chuveiro juntas.

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Para quem se lembra da série ou tiver interesse em ir atrás dos quadrinhos, acho interessante notar um traço importante da mudança do número três, a última feita pelos norte-americanos. O estilo de figuração adotado nos primeiros números segue a tradição de desenho de quadrinhos norte-americanos, enquanto a galera aqui no Brasil seguiu decididamente uma estética japonesa com a figuração do mangá. Outra história em quadrinhos publicada também pela Editora Escala foi a da série Mortal Kombat, grande adversário de Street Fighter na época, mas a diferença é que a versão americana do Mortal Kombat continuou sendo produzida, então o pessoal daqui apenas traduzia o que vinha de fora.

Isso tudo me leva a outro projeto de licenciamento de um personagem do universo da Capcom dos anos 90 que pretendo pesquisar mais a fundo num futuro próximo. Temei frente ao

brasileiro.