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Cientificamente, qual o melhor jeito de morrer (sem se matar)?

Todos nós já nos perguntamos qual seria um jeito menos horrível de morrer e existem algumas alternativas populares que dizem ser menos dolorosas. Mas o afogamento e hipotermia realmente são mortes tranquilas?
MS
Traduzido por Marina Schnoor
Imagem da Ofélia por Sir John Everett Millais.

Na semana passada, o Dr. Richard Smith escreveu no site do British Medical Journal que morrer de câncer – de todas as coisas – era o melhor jeito de partir. Suas razões?

Você pode dizer adeus, refletir sobre sua vida, deixar uma última mensagem, talvez visitar lugares especiais uma última vez, ouvir suas músicas favoritas, ler poemas queridos e se preparar, de acordo com suas crenças, para encontrar seu criador ou aproveitar o esquecimento eterno.

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E parece que todo mundo na face da Terra – muita gente que já viu alguém morrer terrivelmente de câncer – imediatamente chamou o Dr. Smith de idiota. O câncer come seu corpo de dentro para fora, deixando apenas uma casca de ser humano. Câncer é uma bosta. Há várias maneiras melhores de deixar este mundo. Mas quais?

Alguns meses atrás, nossos colegas da Motherboard abordaram a pergunta inversa: qual a pior maneira de morrer? Acontece que é basicamente qualquer coisa lenta que te deixe preso na cama de um hospital até o final. Entretanto, qual a melhor maneira de bater as botas? Naturalmente, fazendo essa pergunta no título, estou pedindo para ser acusado de explorar os hábitos de busca no Google dos severamente deprimidos.

Se você está pensando em se matar, por favor, entre aqui. Também note que as maneiras mais populares de acabar com a própria vida de maneira agradável, como monóxido de carbono, o truque da mangueira no escapamento, o pedido para um médico do Oregon te dar um coquetel de drogas ou mesmo a boa e velha overdose de heroína, não vão ganhar meu endosso hoje.

Em vez disso, resolvi ir até o fundo dos mitos e das realidades sobre algumas das maneiras de morrer que as pessoas dizem ser legais. A maioria não é. Aqui vai o que aprendi.

Cenários de fantasia:

Alerta NSFW: O vídeo acima contém peitos nus de seres humanos do sexo feminino.

Resolvi fazer uma lista do que as pessoas falam quando conversam sobre a "melhor" maneira de morrer, porém vou começar com algumas das noções populares de morte na fantasia. Primeiro, há aquela em que a pessoa falece gloriosamente na batalha – uma noção tão besta que existe até um gênero de filme dedicado a criticar isso.

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Depois, temos a fantasia de fazer alguma coisa sexual antes que sua vida seja extinta sem dor – um ataque cardíaco na conclusão orgástica de um boquete, digamos, ou, como no vídeo acima, ser perseguido por modelos de topless até cair de um penhasco (spoiler).

Isso não ajuda muito em termos de tentar responder a pergunta. Primeiro, cair de um penhasco não é a resposta – nem qualquer queda em geral. Claro, cair de cabeça depois de pular de um avião soa como uma morte instantânea, embora quedas possam resultar na ruptura de órgãos internos e em ossos quebrados, tornando essa opção muito dolorosa – e, se você sobreviver, vai ter de lidar com vários ferimentos debilitantes pro resto da vida.

Quanto a causas internas de morte desencadeadas pelo sexo, elas geralmente são dolorosas. Eventos cardiopulmonares súbitos (embolia, aneurisma, AVC, etc.) podem ser como "a pior dor de cabeça do mundo", junto com vários sintomas estranhos, como náuseas e alucinações. Ataque cardíaco, como você provavelmente já sabe, é como sentir um elefante sentando no seu peito.

Parada cardíaca súbita, no entanto, quando o coração trava como o Windows 95 e as luzes se apagam, é um forte competidor na categoria melhores maneiras de morrer durante o sexo. No entanto, sendo uma pessoa que sofre de arritmia, posso testemunhar que a sensação de sentir seu coração sair do ritmo é desagradável como borboletas no peito ou um nó na garganta. Não recomendo essa sensação durante o sexo.

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Mas fantasias sexuais culminando na morte geralmente envolvem um parceiro, significando que seu falecimento vai causar o sofrimento de outra pessoa. Afinal de contas, seu parceiro ou parceira vai testemunhar sua morte, ter de lidar com seu cadáver nu e possivelmente tocar seus genitais mortos. Pode ser uma maneira legal de partir considerando todas as circunstâncias possíveis – por exemplo, o pai do Matthew McConaughey faleceu enquanto transava com a mãe dele, e depois ela comentou que "essa é a melhor maneira de morrer!" –, porém, por outro lado, isso pode virar aquele romance horrível do Stephen King Jogo Perigoso ou aquela cena bizarra d'O Balconista.

Em qualquer um dos casos, acho mais útil pensar nas coisas mais realistas mesmo.

Hipotermia:

Hipotermia é uma longa viagem que envolve muito mais do que tremer e ficar com a pele dormente: alguns contam que isso acaba com uma sensação de bem-estar enorme, frisando que você vai querer ser deixado para morrer mesmo que alguém tente te salvar. Só que isso é só conversa de louco (literalmente).

Em seu livro Last Breath: Cautionary Tales from the Limits of Human Endurance, Peter Stark faz um relato vividamente científico do que é congelar até a morte. Depois de horas no frio, seu corpo começa a desligar: você provavelmente vai alucinar e até se sentir mais quente. Aliás, você se sente tão quente que pode acabar rasgando suas roupas.

Isso porque, quando a temperatura do seu corpo cai abaixo de 33º C, a amnésia se instala. Você não vai saber o que está acontecendo. Quando chega aos 31º, você para de tremer. Aos 30º, seu cérebro não funciona o suficiente para lembrar o rosto da sua mãe. Abaixo disso, por volta dos 29º, você vai rasgar suas roupas e possivelmente se enterrar sob um monte de neve, o que não vai ajudar.

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Daí, considerando que você está num clima abaixo de zero, ainda pode levar horas para a temperatura cair abaixo dos 21º, o ponto em que a maioria das pessoas morre. Se você experimentar euforia nessa hora, vai ser depois de ter passado pelo inferno e perdido a cabeça. Duvido muito que isso valha a pena.

Afogamento:

Aqui vai um trecho de sabedoria popular sobre afogamentos que você provavelmente já viu por aí: se afogar parece um abraço ou como estar no útero. Há relatos famosos disso, como o do falecido produtor musical Michael Case Kissel, em que vozes angelicais disseram para ele "Não há nada a temer". Entretanto, a experiência de Kissel parece bem atípica.

Seu corpo vai fazer de tudo para evitar que você inspire uma golfada de água, como você pode ver no vídeo acima de Christopher Hitchens sofrendo um afogamento simulado. Após apenas alguns segundos de água descendo pelo buraco errado, Hitchens experimentou ansiedade duradoura e pesadelos. (Depois, ele chegou à conclusão meio óbvia de que afogamento simulado é tortura.)

Em The Perfect Storm, Sebastian Junger detalha exatamente o que acontece quando você se afoga. Depois que a queda de oxigênio no sangue se torna tão extrema que você começa a perder a consciência, você finalmente respira água. Dez por cento das pessoas experimentam um espasmo tão forte na laringe nessa hora que morrem de sufocamento antes que a água chegue aos pulmões. Os outros 90% vão respirar e respirar água até ficarem inconscientes. Pode haver algo de agradável em se sentir sucumbindo com a falta de oxigênio, mas tudo que vem antes disso é literalmente tortura.

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Decapitação:

Com o Estado Islâmico matando um monte de jornalistas, não é hora de endossar a decapitação como uma boa maneira de morrer. Também não há razão para assistir aos vídeos, porém, se você resolver vê-los, vai notar que as pessoas sofrem horrivelmente – e tragicamente – quando suas cabeças são cortadas por mãos humanas.

Ainda assim, há algo exclusivamente inequívoco e definitivo em ter sua cabeça cortada por algo elegante como uma guilhotina. O legista e autor Shiya Ribowsky afirmou uma vez ao History Channel que ele "não podia imaginar uma maneira mais rápida e indolor de morrer". A lâmina só fica em contato com seu pescoço por um centésimo de segundo; e, depois disso, ninguém sobrevive. As estimativas de falhas da guilhotina durante a Revolução Francesa variam, mas definitivamente elas eram raras: apenas uma, segundo um ensaio na The Quaterly Review de 1843. E isso após as milhares de decapitações durante o Reinado de Terror.

Mesmo assim, você sobrevive o suficiente para notar que é apenas uma cabeça num cesto? Falando de decapitações no pátio da escola, você provavelmente citou algo entre cinco ou sete segundos de vida depois de ter a cabeça decepada. Esse é o número que Ribowsky cita também, e ele aparece no relato de um escritor da decapitação de um criminoso em 1905. Esse relato descreve que a cabeça do decapitado olhou em volta e fez caretas por esse tempo, mas não é preciso consciência para fazer isso. Em qualquer caso, a perda de sangue e a queda drástica na pressão sanguínea te fariam perder a consciência rapidamente, e isso definitivamente não voltaria mais.

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Ainda assim, ninguém é executado por guilhotina desde 1977, e elas provavelmente não vão fazer uma volta triunfal. Além disso, decapitações completas como as de guilhotina acontecem de tempos em tempos, embora sejam traumáticas para as pessoas que encontram o corpo.

Morrer dormindo:

Morrer durante o sono é algo que não deveria acontecer, e, quando acontece com pessoas jovens, é muito trágico. Mesmo pesadamente medicados, pacientes de câncer que não estão respondendo tipicamente se agarram à consciência – ou, pelo menos, experimentam algo chamado respiração agônica – quando morrem. Além disso, um evento fatal como um ataque cardíaco provavelmente te acordaria. Morrer dormindo deveria ser raro.

Logo, é muito estranha a frequência com que os obituários dizem que alguém "morreu pacificamente durante o sono". Não sou o único que notou isso. Elizabeth Simpson, do Virginian-Pilot, achou o termo estranho também e começou uma investigação. A matéria resultante é uma ótima leitura.

Entre as coisas que ela descobriu sobre morrer pacificamente durante o sono:

- Frequentemente é um eufemismo para suicídio.

- Apneia do sono geralmente tem um papel nisso, principalmente envolvendo idosos.

- Condições relativamente perturbadoras como derrames ou ruptura de aneurismas podem fazer as pessoas morrerem dormindo.

Só que a coisa mais interessante que ela descobriu foi que a parada cardíaca súbita acima mencionada é um dos principais culpados pela morte durante o sono.

Você pode ver pelo exemplo do Dr. Richard Smith, amante do câncer, que nem todos os especialistas vão concordar com isso, porém vou cravar que a resposta é parada cardíaca súbita durante o sono. Conheço a sensação do coração saindo do compasso muito bem. É uma coisa estranha, mas, se é assim com que uma parada cardíaca súbita parece – e relatos em primeira mão atestam que isso é indolor –, ter uma não me faria acordar. Se isso me atacar no meio da noite e as luzes nunca mais se acenderem, não acho que exista uma maneira melhor de partir.

Isso – ou a guilhotina.

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