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Coby Keller É a Marina Abramovic do Pornô Gay

Além de atuar por cima e por baixo, Colby Keller faz bom uso de seu diploma de antropologia ao escrever sobre arte, barebacking e capitalismo.

Foto por Gabe Ayala.

Como muitos astros do pornô gay, Colby Keller tem um dom para a versatilidade – e não me refiro a como ele atua tanto por cima como por baixo. Entre trabalhos para as companhias mais conhecidas da indústria – como Randy Blue, CockyBoys e (a controversa) Treasure Island Media – Keller faz bom uso de seu diploma de antropologia ao escrever sobre arte, barebacking e capitalismo em seu blog Big Shoe Diaries.

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Fazia tempo que eu imaginava o que se passa na mente suja por trás do sorriso bobo de Keller. E quando alguém me disse que ele estava dando todas as suas posses – exceto uma placa do Lenin – como parte de um projeto de arte, minha curiosidade decolou. Depois de dar tudo que tinha, Keller embarca agora no “Colby Does America… and Canada Too!” – um longa-metragem de viagem em que ele vai fazer arte, conhecer pessoas e transar. Em cada estado, Keller vai se filmar transando com um cara no banco de trás de sua van em nome da arte. Querendo saber um pouco mais sobre essa Marina Abramovic do pornô gay, eu me encontrei com Keller na Pret A Manger em Nova York, onde discutimos seus projetos de arte, o capitalismo e por que o pornô é melhor do que um “emprego horrível, horrível” na Neiman Marcus.

VICE: Por que você decidiu criar esse projeto de viagem?
Colby Keller: Não tenho uma casa, não tenho um lar, não tenho um destino, e não quero – pelo menos por enquanto – pensar nisso. A van é um jeito de pensar um lar na estrada, e também pensar sobre nosso futuro, porque provavelmente vamos ter que morar em veículos e estar sempre mudando; muita gente vai ficar deslocada e muitas pessoas vão morrer. Quero abraçar esse futuro que estamos criando para nós mesmos, e para onde o capitalismo e meu senhorio estão me empurrando. Existe um tropo no pornô em que a pessoa sai e fode o país inteiro, então eu vou foder com os Estados Unidos! A América com certeza me fodeu, e eu vou foder ela de volta – mas de um jeito legal e positivo.

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O que fez você se tornar um ator pornô?
Eu fazia cursos na Universidade de Houston no programa de arte deles, mas não gostava muito. Então, larguei o programa e fiz antropologia, mas era difícil encontrar trabalhos lucrativos nessa área e estávamos passando por outra recessão. Eu também tinha curiosidade sobre o pornô. Meu site favorito era o Sean Cody e, só de brincadeira, mandei algumas fotos nuas minhas para eles, totalmente esperando ser rejeitado – na verdade, eu meio que queria ser rejeitado. Eu queria que eles me dissessem que eu não valia a pena! Mas eles entraram em contato e disseram: “Ah não, estamos mesmo interessados”. E eu disse: “Meu Deus, eles curtiram a ideia! Será que tenho mesmo que fazer isso? Acho que tenho.”

Acabei conseguindo outros trabalhos enquanto estava no Texas. Trabalhei na Neiman Marcus, um emprego horrível, horrível. Eles não queriam me considerar um empregado em período integral, mesmo depois de eu ter trabalhado lá por dois anos, 70 horas por semana; tudo porque eles não queriam pagar meu plano de saúde e $10 a mais como o resto da equipe.

Você discute o capitalismo com frequência em seu blog. O capitalismo afeta claramente nossa vida no trabalho, mas como isso afeta nosso consumo de pornografia e nossas vidas sexuais?
Tenho uma certa culpa quando se trata disso, porque o pornô apresenta um problema específico. O pornô informa a sexualidade das pessoas ou simplesmente tenta acessar essas coisas da nossa própria sexualidade e nos vender isso de volta? Claro, o produto sempre faz essa coisa em que você nunca está completamente satisfeito, então você compra mais. Como ator pornô, eu me sinto meio que responsável por isso, porque, às vezes, as imagens que o pornô produz não são saudáveis. É tudo muito estereotipado: fazemos boquete um no outro, o cara ativo come o cu do passivo, depois são três posições sexuais, aí os dois gozam. Que pessoa em sã consciência faz sexo assim?

Você é um ator pornô e também um artista. Você se identifica como um artista performático ou um artista visual?
Tento pensar nisso como um todo. Não quero impor um limite em termos de que meios posso usar, mas, para mim o meio principal é Colby Keller. Para mim, projetos de arte precisam de leis – criar uma lei dá a você o poder de desobedecer a lei, que é a melhor parte de se ter uma lei em primeiro lugar – mas não quero regras para limitar os tipos de ferramentas de que posso me apropriar como artista.

Com artistas como James Deen investindo no pornô e em outras carreiras, o pornô se tornou mais mainstream, quase como nos anos 1970. Por que você acha que isso está acontecendo?
Parte disso são problemas estruturais e financeiros pelos quais a indústria em si está passando, e também a questão das redes sociais. O final dos anos 1980 e começo dos 1990 foi a era de ouro do pornô gay, e os modelos eram muito bem pagos. As empresas controlavam a imagem de seus modelos com contratos exclusivos. Elas faziam todo o trabalho de marketing e transformavam você numa estrela, como no antigo sistema de Hollywood. Agora, há muito mais pressão para que o próprio artista faça seu trabalho promocional – que ele esteja no Twitter, no Instagram e no Facebook. Por um lado, é bom ter a propriedade da sua própria imagem, mas também é muito trabalho pelo qual você não está sendo pago.

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Tradução: Marina Schnoor