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Contrapropaganda

O Noh trabalha numa organização de desertores, mandando mensagens aéreas com contrapropaganda para a Coreia do Norte.

Ilustrações: cortesia de Aimskorea.org

Conheça o Noh, disseminador de material subversivo anti-Coreia do Norte.

Noh Young Sung nasceu e foi criado na Coreia do Norte. Seu pai foi um veterano da guerra entre o Sul e o Norte que virou apicultor. Noh e sua família viviam na miséria, muitas vezes comendo grama e casca de árvore para poupar o mel da colmeia do pai. Depois do divórcio dos seus pais, Noh escapou pelo Rio Tumen para a China, com sua mãe e irmã. Hoje, estima-se que 150.000 norte-coreanos estejam vivendo ilegalmente na China. A maioria deles se sustenta trabalhando em péssimas condições, como em minas de carvão não-regulamentadas, por exemplo. Antes de ter sido despedido por ser um imigrante ilegal, Noh trabalhou como minerador. Foi pego, preso, deportado para a Coreia do Norte e preso novamente. Mais tarde ele fugiu outra vez pelo Rio Tumen para a China para localizar a sua irmã. Ela o colocou em contato com um grupo de ativistas cristãos que fez um documentário sobre a sua deserção, e que foi usado para exercer uma pressão diplomática à Coreia do Sul, o que assegurou a residência de Noh na China. Bom, esse é o resumo da história. Agora o Noh trabalha numa organização de desertores, mandando mensagens aéreas com contrapropaganda para a Coreia do Norte. A primeira vez que ouvi falar sobre isso, imaginei um grupo de homens escalando uma cerca de arame farpado, soltando balões com mensagens penduradas escritas em menus do McDonald’s. Noh explicou que a coisa é um pouco mais complicada. As mensagens que vão para a Coreia do Norte são amarradas em balões que pesam mais de 20kg e direcionados para locais estratégicos do outro lado da fronteira. Essas atividades são conhecidas como Bbi-ra. Desertores se juntam em grupos de cinco ou seis para levar adiante uma única missão—a disseminação da esperança. Na maioria das vezes eles distribuem entrevistas, relatos pessoais de fugas e da vida em outros países, poesias, ilustrações e chamadas para revolução. Fotos nunca são enviadas, porque elas podem ser facilmente identificadas e ser usadas como evidência por equipes de contra-espionagem norte-coreanas. A maioria dos desertores acredita que esse é um método eficaz de acelerar o processo de unificação e gasta até três horas por dia para enviar um único balão. Essa prática, porém, não é, de forma alguma, sancionada pelo governo da Coreia do Sul, que a vê interferindo, na já altamente instável, relação diplomática com a Coreia do Norte. Conseguimos algumas dessas contrapropagandas. Trecho de Vendi Minha Filha Por 100 Won
Do poeta desertor Chang Jinsung Onde há pessoas
Há barulho de tiros. Hoje diante do público
Outro alguém foi executado. Você não deve ter compaixão.
Se morto, você deve matar novamente, com raiva. Deixado de fora da declaração
Em face ao bang-bang de tiros
Como pode hoje
O silêncio das pessoas ser pesado? Roubando um saco de arroz,
O criminoso foi morto com 90 tiros
Sua ocupação
um fazendeiro

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Essas ilustrações são baseadas em relatos de refugiados norte-coreanos que foram entrevistados depois de chegarem em segurança na Coreia do Sul.

Um oficial norte-coreano obriga um homem a comer bosta de vaca.

A imagem acima descreve a audiência de uma desertora grávida norte-coreana que mais tarde foi submetida a um aborto forçado.

A seguir, uma carta de uma criança de 12 anos que fugiu da Prisão 16 na Hamkyungdo do Norte, Hwasung-gun, e um bilhete escrito por desertores que atravessaram a fronteira. “Vivíamos em Pyongyang. Um dia, um oficial apareceu e disse que meu pai era um espião da Agência de Inteligência da Coreia do Sul e levou nossa família para a prisão de Yongduk. Durante um mês não nos deram nenhuma comida. Bebíamos nossa própria urina e comíamos fezes de cachorro. Minha irmã era muito bonita e estudava na Universidade de Música. Funcionários do Departamento de Segurança queimaram seus pelos púbicos com um isqueiro, a estupraram e urinaram em sua cara. Disseram que ela estava protestando, então apagaram cigarros nos bicos dos seus seios e um dia a fizeram comer um pode cheio de fezes. Falaram que nosso pai não admitia ser um espião e mandou que batêssemos nele. Se não o fizéssemos, falaram que nos fariam passar fome e que botariam fogo na minha irmã. Depois disso, meu pai pegou uma lança da cintura de um oficial e a fincou em seu próprio estômago e morreu. Minha mãe se sentou no vaso sanitário, comeu três tigelas de fezes e morreu. Minha irmã morreu depois de ser estuprada e de comer batata com terra do solo da prisão. Eu fui o único a fugir e estou escondido na China. Quando eu crescer vou me vingar por meu pai, minha mãe e minha irmã. Um voluntário da Coreia do Sul que ajuda desertores norte-coreanos me falou que se eu escrevesse sobre o que aconteceu comigo no passado em uma carta, ela seria entregue para a Coreia do Sul. Escrevo essa carta chorando, ela me faz pensar ainda mais em meu pai, minha mãe e minha irmã. Por favor me ajudem.” Hoje, essa criança estuda na Coreia do Sul e está em liberdade, esperando o dia em que a Coreia do Norte será libertada. Povo da Coreia do Norte! Dizem que o recém-nascido não escolhe o país onde nasce. Se o povo da Coreia do Norte tem que suportar esse sofrimento só por ter nascido na Coreia do Norte, que mundo injusto é esse em que vivemos? Povo da Coreia do Norte, somos um povo que nasceu para ser amado.