De Véu e Sexy

FYI.

This story is over 5 years old.

Edição de Moda 2014

De Véu e Sexy

Embora alguns ocidentais associem o véu religioso muçulmano à opressão da mulher, muitas muçulmanas veem o hijab – um termo geral usado para qualquer forma tradicional de cobrir a cabeça – como uma fonte de empoderamento.

Foto por E. Hanazaki Photography / Getty Images. 

Em dezembro, a Universidade de Michigan divulgou o resultado de uma pesquisa, que, entre outras coisas, perguntou a entrevistados do Oriente Médio que estilo de vestimenta era mais apropriada para mulheres usarem em público. Os participantes eram convidados a escolher entre vários véus muçulmanos, como burca, chador e nicabe. Os resultados mostraram que pessoas de nações mais conservadoras, como Arábia Saudita e Paquistão, geralmente favorecem um nicabe que cubra o rosto, enquanto a maioria dos egípcios, tunisianos, turcos e iraquianos prefere os hijabs tradicionais, que cobrem o cabelo e deixam o rosto exposto.

Publicidade

Esses resultados não são particularmente surpreendentes, nem o fato de que mulheres e homens do Oriente Médio compartilham as mesmas preferências. Embora alguns ocidentais associem o véu religioso muçulmano à opressão da mulher, muitas muçulmanas veem o hijab - um termo geral usado para qualquer forma tradicional de cobrir a cabeça - como uma fonte de empoderamento. Durante os protestos contra Hosni Mubarak inspiradas na Primavera Árabe, algumas egípcias usaram hijabs para protestar contra a proibição do véu na televisão estatal.

De acordo com Shereen El Feki, pesquisadora e autora de Sex and the Citadel: Intimate Life in a Changing Arab World, muitas muçulmanas se cobrem para ganhar mais independência dos pais. "Elas sentem que seu pais acham que essas garotas são boas muçulmanas; portanto, não exercitam tanta vigilância, e elas ganham mais latitude em suas vidas", ela me disse. "Elas podem viajar, andar por aí; elas têm mais mobilidade."

Outro engano comum sobre os véus é que isso é sempre usado como declaração de modéstia extrema religiosa. "As mulheres que entrevistei para o meu livro e que usam hijab tinham desejo sexual como todas as outras", afirmou Shereen. "As mulheres usam hijab por várias razões, não só para se dessexualizar."

Em seu livro, Shereen descreve jovens egípcias que cobrem cabelo, pescoço e ombros, mas que andam pelas ruas do centro do Cairo de sapato com salto alto, maquiagem e jeans justo. "Por um lado, elas tentam se conformar ao que foi um aumento do clima conservador. Por outro, elas são jovens mulheres; então, ainda querem ser atraentes para os homens."

Publicidade

O hijab certamente não protege as mulheres do assédio sexual. Uma pesquisa da ONU que rodou a internet alguns meses atrás informava que 99% das mulheres egípcias tinham experimentado alguma forma de assédio sexual apesar de a maioria cobrir a cabeça.

Graças a tradições culturais e religiosas de longa data, sexo raramente é discutido em muitos países do Oriente Médio, mesmo entre casados. Apesar disso, as mulheres árabes encontraram maneiras criativas de sinalizar seu desejo aos maridos. Lojas de lingerie da região vendem todo tipo de artigos picantes, e a Síria, em particular, é conhecida por suas roupas íntimas ultrajantes. The Secret Life of Syrian Lingerie, um livro de 2008 de Malu Halassa, descreve calcinhas forradas com pele e roupas de baixo equipadas com flores e pássaros falsos. De acordo com Halassa, lojas continuam a vender lingerie em Damasco apesar do conflito que se desenrola lá.

Nos países mais conservadores do Golfo Pérsico, como a Arábia Saudita, nicabes são populares em fóruns públicos, mas na vida privada é outra história. Casamentos, às vezes, são segregados por gênero, o que deixa as mulheres livres para usar vestidos extravagantes com decotes profundos. "Mulheres do Golfo são algumas das melhores clientes da alta costura", frisou Shereen. As festas de casamento lá são um showroom de lindas noivas em potencial, vestindo a última moda para as amigas - entre elas, as mães dos possíveis pretendentes.

Quando o dress code se afrouxa nessas situações, a segurança aperta. Shereen me contou que fotos são proibidas nessas festas, e os convidados devem deixar seus celulares na entrada para proteger a privacidade das mulheres. "É uma dicotomia muito complexa entre o público e o privado", ela me disse. "É como o dia e a noite, em alguns casos."

@norsovanilla

Tradução: Marina Schnoor