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Membros da "direita alternativa" norte-americana esperam um país mais branco

A conferência dos partidários da extrema direita nos EUA reuniu os mais famosos supremacistas brancos do momento. Aqui, eles dizem no que acreditam.

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE US.

Todas as fotos por Lexey Swall.

No último dia 19, mais de 300 pessoas — a maioria homens jovens de ternos justos e cortes de cabelo da moda — se reuniram para a conferência Who We Are 2016 da National Policy Institute (NPI) no Ronald Reagan Building, em Washington. A usina de ideias de nome genérico é uma ramificação bem-vestida da direita alternativa, um movimento de identidade branca que vem ganhando popularidade nos EUA e atenção da mídia graças à ascensão de Donald Trump, que muitos consideram representar suas visões.

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A direita alternativa norte-americana se distingue do movimento conservador que domina o Partido Republicano há décadas, mas está longe de ser uma organização unificada. Desde os trolls da internet, youtubers polêmico, racistas científicos até acadêmicos supremacistas brancos encontraram um lar na direita alternativa, que se revela simultaneamente em vulgaridade e desafio do politicamente correto, e tem orgulho de seu intelectualismo. A curto prazo, essas pessoas apoiam fervorosamente as ideias de Trump em questões contra imigração e guerra ao islã. A longo prazo, eles querem seriamente estabelecer um "estado étnico" só para os brancos dentro dos EUA.

A fotógrafa Lexey Swall e o editor da VICE Wilbert L. Cooper também compareceram à conferência de sábado, um espaço seguro para nacionalistas brancos dizerem em voz alta o que antes só digitavam em certos fóruns e blogs sob pseudônimos, e até fazerem a saudação nazista. Aqui está o que alguns participantes — do líder do movimento e fundador do NPI Richard Spencer até a estrela de reality show que virou teóloga da conspiração Tila Tequila — tinham a dizer:

Richard Spencer é o homem que teria cunhado o termo "direita alternativa", além de ser o fundador do NPI. A passagem abaixo é um trecho de seu discurso na conferência:

Estamos encarando uma escolha binária, lutar ou fugir, se juntar ou morrer, resistir ou se entregar. Essa é a posição das pessoas brancas agora. Duas semanas atrás, eu poderia dizer que a eleição de Donald Trump iria aliviar a pressão sobre os norte-americanos brancos. Mas hoje, está claro que a eleição dele só intensificou a tempestade de ódio e histeria dirigida contra nós. Como europeus, estamos no centro da história. Somos, como [Friedrich] Hegel reconheceu, a encarnação da história mundial. Ninguém está de luto pelos grandes crimes cometidos contra nós. Para nós, é uma questão de conquistar ou morrer. Esse é um fardo único para o homem branco: nosso destino está totalmente nas nossas mãos. E isso é apropriado porque entre nós, entre o sangue das nossas veias, como filhos do sol, está o potencial de grandeza. Essa é a grande luta para qual estamos sendo convocados. Não vamos viver com vergonha, fraqueza e desgraça. Não devemos implorar por validação moral de algumas das criaturas mais desprezíveis que já povoaram a Terra. Vamos superar todos eles porque isso é normal e natural para nós. Para nós como europeus, é normal de novo quando somos grandes de novo. Heil Trump! Heil o povo! Heil a vitória!

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Al Stankard é um participante da conferência de 29 anos do Nordeste dos EUA. Ele usa o nomeHarlem Venison na internet:

Não sou realmente um nacionalista branco. Mas vejo o antirracismo como uma distopia que deu o benefício da dúvida para a ideia de diferenças raciais, o que evoluiu para esse dogma sufocante que tem um bode expiatório, e esse bode expiatório são os brancos e as pessoas consideradas racistas. Vejo o antirracismo como ruim não apenas para os brancos, mas para todo mundo. Não sou um supremacista branco também. Nem me vejo como tão inteligente assim. Não me vejo como um branco anglo-saxão protestante ou algo do tipo. De muitas maneiras, me identifico mais com negros. Mas acho que há diferentes frequências e traços em diferentes populações. É por essa base que temos essas políticas culturais desiguais que penalizam os brancos, criam hipocrisia e se tornam distópicas.

Esse seguidor hispânico da direita alternativa de Huma, Arizona, pediu para não ter o rosto fotografado ou revelar seu nome por temer represálias em sua cidade por suas crenças políticas:

Se você é médico e nega as diferenças genéticas entre as raças, você será demitido por negligência muito rápido. Você sabia que corpos negros vão rejeitar automaticamente qualquer órgão doado por um cara branco em 20% dos casos? Eles não são compatíveis geneticamente. Você tem performances diferentes na escola. Como eu — eu era péssimo na escola. Mas não me sinto inferior aos brancos. Tem sempre uma vantagem e desvantagem em tudo. Uma coisa que as pessoas geralmente não sabem é que os europeus brancos têm um cérebro menor. Mesmo sendo melhores em desenvolver tecnologia, eles não vão tão bem em esportes de contato, como o boxe, porque o cérebro deles sofre trauma mais facilmente… Sou inferior em muitos aspectos, e superior em outros.

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Esse homem sikh estava trabalhando no evento como um dos principais voluntários de Richard Spencer. Ele pediu para não ter o rosto ou o nome revelados:

Como uma minoria na direita alternativa, acho que o nacionalismo étnico é importante. Ele traz benefícios para todos, incluindo aqueles que terão que partir ou voltar para casa se os brancos fizerem seu próprio estado étnico aqui nos EUA. Acredito no Japão para os japoneses. Na Índia para os indianos. E na Europa para os europeus.

Mais da metade dos indianos não sabem usar uma privada — não há sistema de esgoto. Todos que se formam nas principais escolas vêm para os EUA. Em Punjab, minha cidade natal no noroeste da Índia, todo mundo com um QI de três dígitos se muda para o Ocidente. Bom, acho que é uma opção barata para as elites naturais dessas nações estrangeiras deixarem seus países e virem para um país já desenvolvido, em vez de desenvolverem seu próprio país. A Índia é um lugar muito pior porque há uma drenagem de cérebros. Vejo a imigração em massa de hoje como o imperialismo do século 21. O Ocidente roubou as pessoas inteligentes do resto do mundo, usando suas habilidades para desenvolver sua própria nação. É hora de voltar.

Tila Tequila, 35 anos, ficou famosa por meio das redes sociais no passado. Hoje ela é notória por ser simpatizante nazista:

Vim para a direita alternativa na mesma época em que comecei a ponderar sobre Hitler em 2013. Hitler não fez nada de errado! Sinto que há dois lados. Com certeza vejo [uma ligação entre a ascensão de Hitler e o movimento da direita alternativa] porque a direita alternativa não se manifestaria assim se as pessoas não sentissem que estão sendo oprimidas há tempos. Essas pessoas não seriam tão extremas e hardcore como são. Os alemães estavam falidos, igual à classe média norte-americana hoje. Nossa classe média desapareceu. Eles sentem que ninguém se importa com eles. Essa coisa da direita alternativa não teria se manifestado se não houvesse esse ambiente tão escroto para começo de conversa.

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Matthew Tait tem 31 anos e é um líder jovem de políticas nacionalistas na Inglaterra desde os 18:

Há uma diferença entre a direita alternativa de hoje e o nacionalismo e conservadorismo branco do passado. A direita alternativa é jovem e está olhando para o futuro. Os conservadores e nacionalistas brancos estão sempre latindo sobre um tempo que acham que era melhor. Então você ia até as convenções e via um monte de gente velha falando sobre como a vida era ótima nos anos 50. Isso acabou. Com a direita alternativa você tem uma nova geração. Tenho 31 anos e fico acima da média de idade dos participantes aqui. Essas pessoas não estão olhando para os anos 50 ou 80, estamos olhando para o futuro. Estamos em 2016. Não queremos voltar o relógio. Temos uma visão diferente do nosso futuro, e decidimos não aceitar as únicas opções que nos deram. Como o South Park diz: você tem um grande otário ou um sanduíche de merda. Dissemos não aos dois. E criamos nossa própria visão do futuro.

Kevin McDonald é o fundador da Occidental Observer, uma publicação de extrema-direita frequentemente acusada de antissemitismo. Ele tem 72 anos e veio para a conferência falar sobre o problema dos judeus:

Estamos entusiasmados com Trump. Esperamos que até certa extensão, durante a presidência dele, as políticas de identidade branca se tornem normais e legítimas. De certa maneira, muita gente atribui o sucesso de Trump às políticas de identidade branca. E somos os únicos falando realmente sobre as políticas de identidade branca e tendo a razão intelectual e a ciência social nos apoiando. Por outro lado, estamos vendo sinais de que eles querem nos calar. A ADL [Liga Antidifamação inglesa] disse que o Pepe [o sapo] é um símbolo de ódio e Richard [Spencer] foi expulso do Twitter. Então há um conflito entre aqueles que querem ignorar a direita alternativa e a colocar de volta na caixa, e aqueles interessados nela.

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J. P. Sheehan, de 26 anos, vem de uma família libertária e é presidente do clube republicano de sua universidade, mas suas visões são muito mais extremas. Esse era o primeiro evento da direita alternativa de que ele participava:

Para mim, a direita alternativa é muito maior que o nacionalismo cheeseburger. Acho que ela não vai substituir o Partido Republicano, mas definitivamente o eclipsar. Posso ver a direita alternativa ganhando asas e alçando voo, enquanto os republicanos ficam reclamando amargamente que ela nunca vai chegar perto do sol.

O que a direita alternativa quer é criar uma aura de normalização para que os europeus-norte-americanos se sintam confortáveis com quem são. Acho que um estado étnico branco é algo que não é possível aqui nos EUA, porque o país é muito grande. Então acho que eu me conformaria se os EUA fossem 80% branco. A razão para querermos criar um estado étnico é porque sociedades com uma única etnia permitem uma coesão social. Estados étnicos beneficiam todas as raças, porque as pessoas querem estar entre os seus. Para os não-brancos que quisessem entrar no estado branco, acho que eles não deveriam ser completamente barrados. Seria mais um "estado de negócios". Se alguém mostrasse um alto nível de agência e um alto nível da nossa cultura, ela poderia entrar.

Jared Taylor escreve e defende o "realismo de raça" desde muito antes do surgimento da direita alternativa. Como editor da revista nacionalista branca American Renaissance, ele é visto como um avô da direita alternativa:

Ideias da direita alternativa vão progredir porque nossas ideias se baseiam na leitura correta da história humana, são moralmente inquestionáveis e explicam fatos atuais muito melhor do que os ortodoxos igualitários. Por isso, quando as pessoas chegam a um entendimento dissidente de raça, elas nunca voltam atrás. É porque as escamas caíram dos olhos delas e elas entendem agora as questões raciais dos EUA, a sociedade americana e o que está acontecendo com o mundo. Ao mesmo tempo, isso dá a elas uma ponte para olhar para o futuro, para uma nação que reflita seus valores e sua raça. E isso é encorajador, especialmente para jovens brancos que estão apanhando há tanto tempo por estar do lado errado da história, como os caras que fizeram uma coisa errada atrás da outra com todos os grupos não-brancos na história do mundo.

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Lucas tem 23 anos e cresceu nos arredores de Washington DC. Ele está envolvido com uma organização nacionalista branca chamada Identity Evropa:

O principal fator que me atrai para a direita alternativa é a determinação das pessoas brancas e das pessoas de descendência europeia. Esse é o cerne da direita alternativa. Corremos do espectro político de anarquistas para fascistas, mas raça e identidade é um tema fundamental. Nossa identidade está sendo erodida em países brancos da América do Norte e Europa.

Quando vi Donald Trump vencer, foi incrível. Mas o que ele pensa na cabeça dele, só podemos especular. Sei que suas palavras e ações não passam por lentes raciais. Elas passam por lentes culturais, norte-americanas, cívicas e nacionalistas. Ele não é direita alternativa porque não expressa nossos valores de base. Stephen Bannon [o executivo do Breitbart que agora atua como um dos consultores mais importantes de Trump] também não é direita alternativa. Mas pelo menos está aberto às nossas ideias. Você até poderia chamá-lo de um colega viajante.

Esse homem que se identificou como Millennial Woes é de Edimburgo, Escócia. Ele tem 30 e poucos anos e um canal popular da direita alternativa no YouTube. Ele não usa seu nome verdadeiro porque acha que pode ser perigoso:

Falando de modo geral, acho que os indivíduos só querem socializar com pessoas de sua própria raça, porque é menos estressante e confuso. Essa ideia de multiculturalismo nos leva para uma visão mais mundana das coisas… Não consigo ver as coisas assim. A ideia de que você pode colocar negros e brancos juntos e não ter tensões é nonsense.

Por isso você vê os negros começando a agitar uma sociedade negra nos EUA. E não os culpo. Entendo por que eles querem isso. Não odeio os negros nem tenho nada contra eles. É só que minha preocupação principal é com meu grupo, os europeus.

Todas as respostas desta matéria foram editadas e condensadas para dar maior clareza. Todos os dizeres vieram de entrevistas dadas a Wilbert L. Cooper, com exceção de Richard Spencer, cuja resposta foi tirada de seu discurso na conferência.

Tradução: Marina Schnoor

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