Ao redor, as pessoas conversam e bebem. Taticamente, o cérebro programa a ação. Uma tarefa antes tão vã e automática agora parece um apuro: mover minimamente as pernas, o tronco e os braços para conseguir pegar a própria bebida. A cena é relatada por Danielle Ianzer, que passou a sentir os primeiros sintomas motores da Doença de Parkinson (DP) de início precoce aos 29 anos.Hoje, aos 40, a cientista pós-doutorada em bioquímica relembra os seis anos que se deslocou de médico em médico até descobrir o que realmente tinha. No início, um leve tremor surgiu na mão esquerda. Depois, outras partes do corpo passaram a ser atingidas, além da sensação de cansaço extremo, ansiedade e depressão. Um médico acreditou que fosse tremor essencial, patologia neurológica que afeta principalmente as mãos e os braços. Mas não era só isso. Depois de uma série de exames e médicos diferentes, veio a notícia: Parkinson. "Não me conformei. Neguei durante um mês. Não quis tomar a medicação de jeito nenhum", detalha Danielle, que buscou outro especialista. "Ele confirmou que era Parkinson. Foi outro baque." A principal reação da cientista foi chorar. Muito. Quando tentava falar a palavra "Parkinson" para alguém, caía em prantos novamente.
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A depressão — que, no caso de Danielle, foi profunda —, extremamente comum em parkinsonianos, foi combalida com sessões de terapia e a criação do projeto Vibrar com Parkinson, que dissemina e troca informações principalmente sobre Parkinson precoce e juvenil na internet."Quando tomei a iniciativa, as pessoas diziam que era bacana e perguntavam se alguém da minha família tinha a doença. Eu dizia: 'eu'. Elas ficavam chocadas", relembra.No imaginário social, o Parkinson afeta somente os idosos. Realmente, a média de pacientes diagnosticados com a doença fica entre os 50 e 70 anos; e a prevalência de DP em pessoas com mais 85 anos chega a 5% da população. Mas o parkinsonismo pode também afetar crianças, jovens e adultos.A falta de clareza nesse tipo de informação acaba prejudicando quem poderia ser diagnosticado com antecedência e buscar tratamento adequado. É o que explica a neurologista Rachael Brant, que acaba de concluir seu doutorado sobre a doença pela USP (Universidade de São Paulo). "Não é raro o paciente chegar pra mim já com uma cirurgia ortopédica feita. Ele estava com dor no braço ou na coluna e o ortopedista foi lá, operou, e, na verdade, era Parkinson. Isso acontece com mais frequência do que gostaríamos."O tremor, outro sintoma que provavelmente está na mente de 10 entre 10 pessoas quando ouvem a palavra "Parkinson", não é regra. "Não são todos os pacientes que têm Parkinson que tremem", pontua a neurologista. "O que é obrigatório pro diagnóstico é a lentidão, que pode vir associada com tremor, rigidez, perda de equilíbrio ou com mais de um desses sintomas. A lentidão é obrigatória." Por isso o primeiro parágrafo desta matéria narra uma cena lentificada.
Tremores em pessoas idosas? Nem sempre
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A cura da doença ainda não foi encontrada. Diagnosticar também é complexo: não existem exames específicos que comprovem a DP. Os médicos analisam o conjunto de sintomas e exames como ultrassonografia e ressonância.Com o tempo, Danielle passou a se adaptar à nova rotina. Mas situações específicas ainda a fazem "travar". Shopping lotado é uma delas. "Começo a mancar e as pessoas olham pra tentar identificar o que eu tenho. E é extremamente constrangedor", queixa-se. "Eu falo que tenho Parkinson para as pessoas, mas não gosto que me vejam tendo dificuldade pra andar, pra sair de um lugar. Além disso, quando travamos, temos a tendência de curvar o corpo. Como se você voltasse pra posição de conchinha, sabe?." É também comum que os braços dobrem e as mãos se fechem.Esses travamentos são costumeiramente chamados de "off" pelos médicos. O
"on" trata-se do momento em que o paciente está medicado. Quando o efeito do remédio passa, é comum o parkinsoniano "travar".Situações simplórias para qualquer reles mortal, como cortar um pedaço de pizza, pode ser um martírio pra quem tenta programar a ação de usar os talheres com precisão. Nesse momentos, Danielle recorre ao marido. "Se estou no meio de várias pessoas, falo: 'quem vai cortar minha pizza hoje?'". Atualmente, ela consegue levar essas coisas numa boa. Mas o início não foi assim tão tranquilo."Eu me isolei bastante. Me privei de fazer várias coisas", relata. A apatia facial, que também atinge os parkinsonianos, não colaborava. "Me falavam alguma coisa alegre e eu não ria. Eu achava que estava rindo, mas não parecia. Me falavam uma coisa triste e eu fazia a mesma cara. Essa perda de expressão facial é muito crítica pra quem convive com você."
"on" trata-se do momento em que o paciente está medicado. Quando o efeito do remédio passa, é comum o parkinsoniano "travar".Situações simplórias para qualquer reles mortal, como cortar um pedaço de pizza, pode ser um martírio pra quem tenta programar a ação de usar os talheres com precisão. Nesse momentos, Danielle recorre ao marido. "Se estou no meio de várias pessoas, falo: 'quem vai cortar minha pizza hoje?'". Atualmente, ela consegue levar essas coisas numa boa. Mas o início não foi assim tão tranquilo."Eu me isolei bastante. Me privei de fazer várias coisas", relata. A apatia facial, que também atinge os parkinsonianos, não colaborava. "Me falavam alguma coisa alegre e eu não ria. Eu achava que estava rindo, mas não parecia. Me falavam uma coisa triste e eu fazia a mesma cara. Essa perda de expressão facial é muito crítica pra quem convive com você."
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O Parkinson também provoca distúrbios na voz e na fala. Isso acontece porque ocorre uma redução nos movimentos respiratórios e da laringe, assim como no movimento dos lábios e da língua. Em muitos casos, o próprio paciente não repara que está perdendo a voz; que ela está baixa ou trêmula – o que aconteceu com Danielle, que pensava ser somente uma "implicância" das pessoas que não conseguiam ouvi-la. Hoje, ela recorre à fonoaudiologia para tratar o problema.Em 2013, a Universidade de Haifa e o Hospital Rambam, ambos de Israel, divulgaram uma pesquisa alertando que é possível diagnosticar precocemente a doença através da caligrafia. Pessoas com sinais iniciais da DP tendem a escrever com letras menores, colocando menos pressão sobre o papel.Sintoma relatado por Núbia Meireles, de 27 anos, que, ao escrever, percebeu sua letra cursiva diminuindo de tamanho. Os sintomas de Parkinson juvenil começaram aos 18 anos: tremores do lado esquerdo e a voz mais baixa e tiritante. Prestes a se formar na faculdade de enfermagem, ela descreve que realizar tarefas simples, como montar uma seringa, era difícil. "Minha coordenação motora estava toda afetada."Durantes os exames e as consultas médicas, Núbia já havia pesquisado na internet e desconfiava o que poderia ter. Mas a notícia não veio como uma bomba nuclear. "Não tive reação negativa. Levei de boa. Acho que muitas pessoas me criticam por isso, mas sou tranquila, bem resolvida."
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