Ellen Milgrau: uma entrevista com a modelo mais curtição do Brasil
Foto: Felipe Larozza/VICE

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Ellen Milgrau: uma entrevista com a modelo mais curtição do Brasil

Fritando ovo na barriga, engatinhando dentro do ônibus ou passeando com sua porca de estimação, Bacon, pela Zona Leste de SP. Esta é a Ellen Milgrau.

Numa típica tarde cinzenta de São Paulo, a modelo Ellen Milgrau abre o portão da casa onde mora com os pais, na Zona Leste, para a VICE. De jeans cintura alta e duas trancinhas finas na franja, ela faz força para impedir que Bacon, sua porca de estimação com unhas pintadas de pink, fuja para a rua.

Nas redes sociais, Milgrau é muita curtição: quando não está de biquíni em casa tentando fritar um ovo na barriga num dia de calor, pode estar no apartamento do melhor amigo chorando em frente à câmera do celular, engatinhando dentro do busão, mandando nudes com temakis nos peitos, dançando dentro do banco (às vezes, de peruca) enquanto pessoas esperam na fila para sacar dinheiro ou no estacionamento do show do Queen, mijando no chão, escondida entre um carro e outro. As maluquices e a espontaneidade no Instagram e no Snapchat (usuária: ellenolem) renderam algumas tretas. "Já perdi trabalho", conta, tranquila, enquanto coça o olho na sala de casa – que comporta não só a porca Bacon como também dois gatos e um cachorro. "Entra aquela ideia que eu odeio de que as modelos são mais ou menos uma coisa plástica, sabe?", desabafa. "Elas só podem ser bonitas. Não podem fazer uma zoeirinha, que 'Nossa senhora, a modelo fez isso'."

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Foto: Felipe Larozza/VICE

Aos 15 anos, Ellen era uma menina magrela de cabelo roxo que voltava pra casa de metrô quando foi abordada por um sujeito com a pergunta: "Você já pensou em ser modelo?". Não. Ela nunca tinha pensado. Foi aí que tudo mudou. Durante cinco anos, ela morou fora do Brasil. Primeiro, em Paris, onde foi modelo de prova da Prada, e, então, em Milão, onde passou um baita perrengue até se tornar exclusiva do estilista Valentino.

Apaixonada por salgadinho Fofura (seu sabor preferido é queijo), Mentos e coxinha, ela reluta em fazer esportes e diz que confia na genética. Com 1,77 m de altura e 53 kg, Ellen vai até o quarto com o ator e melhor amigo Matheus de Drummond, onde ambos escolhem um look para fazermos as polaroides. A primeira combinação é a saudosa "jeans e jeans". Antes de opinarmos, Milgrau jura: "Sei que parece feio, mas vai ficar bom". Por baixo, um maiô com estampa de cavalo.

Foto: Felipe Larozza/VICE

É de Matheus que vem a ideia de comprar vários pacotes de salgadinho Fofura para jogarmos no chão da sala, fazendo da Ellen uma espécie de Nossa Senhora do Salgadinho Baratinho. "Não abre esse aí, não", ela resmunga enquanto fita um dos pacotes. Matheus já sabe o porquê e a encara: "Esse é o seu preferido, e você quer comer, né?". Manhosa e deitada no chão de madeira com um maiô cavado que escancara seus ossos do quadril, ela faz que sim com a cabeça. No final da brincadeira com os pacotes de salgadinho, paira no ar da residência um flexuoso aroma de queijo que insistentemente se aloca nas narinas de todos os presentes. Nojento, porém fofo. Fofura.

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Abaixo, você lê a entrevista e vê as fotos que fizemos com Ellen Milgrau (sim, ela topou sair de pantufa, maiô e casaco de plumas na rua. E, sim, a ideia do banho de mangueira num fim de tarde gelado partiu dela mesma).

VICE: De onde veio o sobrenome "Milgrau"?
Ellen Milgrau: Veio de zoeira. Meu sobrenome é Melo, mas acho tão comum.

Falando nisso, você é muito zoeira nas redes sociais. Nunca te podaram?
Sim, já perdi trabalho. Meus bookers na agência falaram que eu tinha de criar um perfil pessoal. Só que entra aquela ideia que eu odeio de que as modelos são mais ou menos uma coisa plástica, sabe? Elas só podem ser bonitas. Não podem fazer uma zoeirinha, que "Nossa senhora, a modelo fez isso". Acho que todo mundo tem uma vida. Com essa repercussão que rolou da galera achar legal, eu me sinto livre. É isso que eu sou. Já perdi trabalho, sim. Trabalho grande que o cliente pede pra ver Instagram. "Ah, passa o Instagram dela. Ah, não. Muito moderna. Não rola."

Foto: Felipe Larozza/VICE

Você faz uns lances engraçados: tipo o dia em que tomou gotas de Rivotril pra dormir, ou quando seu amigo fritou um ovo na sua barriga num dia de calor.
O Matheus [de Drummond] é meu melhor amigo, e a gente pira muito. Quando estamos juntos, dá merda.

Tem também você no show do Queen mijando na rua.
Era no estacionamento…

Você não tem medo de se expor muito?
Não. Porque tudo que eu faço são coisas do meu cotidiano, que eu faço porque acho normal. É natural pra mim. Duvido que alguém não faça uma zoeira. Mas se as pessoas não podem fazer…

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Tem quem faça.
É. Eu. [risos]

Você foi descoberta no metrô enquanto voltava da escola. Como foi isso?
Acho que eu nem estava voltando da escola [risos]. Lembro que eu estava no Metrô Tatuapé, e, aí, dentro do vagão, um cara me parou e perguntou se eu não tinha interesse em ser modelo. Eu tinha cabelo roxo na época, 15 anos, bem doidona. Falei: "Imagina. Que modelo o quê. Nada ver". Aí contei pra minha família. Minha mãe disse: "Ser modelo? Tá doida? Vai estudar". Mas minha irmã ficou pilhando pra gente ver o que era. Aí eu fui e rolou. Com 16 anos e meio, viajei [pra fora do Brasil] e voltei agora.

Antes de isso tudo acontecer, você tinha ideia do que queria ser profissionalmente?
Imagina. Eu andava de skate. Eu era muito moleque. Mais do que sou hoje. Não fazia ideia.

Você foi modelo de prova da Prada, em Paris, e depois foi exclusiva do Valetino, em Milão. Como foi essa trajetória?
Rolou com a minha agência daqui. Teve um casting internacional, eles me selecionaram e eu fui. Morei primeiro em Paris e depois fui pra Milão, onde eu fiquei pra sempre. No começo, foi muito difícil. Eu já falava inglês. Aos 12 anos, todas as minhas amigas faziam curso de inglês, e eu pedi pro meu pai.

Eu soube me virar. Em Paris, principalmente. Lá, não falam inglês – e, se você não souber falar francês, como eu, você não come, não faz nada. Porque o pessoal é muito escroto em Paris.

Aí eu fui pra Milão e aprendi a falar italiano. Fiz teatro lá, mas por pouco tempo. Passei muito perrengue.

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Foto: Felipe Larozza/VICE

Você foi sozinha pra lá?
Minha irmã ficou comigo um mês em Paris. Depois, ela foi pra Milão só pra ver como era. Passei um perrengue. Passei fome. Foi muito difícil.

Como assim fome?
Minha família é muito simples. Mais simples do que você está vendo hoje. Eu morava do lado da favela. Minha casa era na esquina. Meus pais sempre trabalhando de domingo a domingo pra sobreviver. Eles não podiam me ajudar, mandar dinheiro pra eu comer, nada. Então, eu tinha de me virar. E não rolava porque eu era muito nova e é muito difícil. Você começa a ficar estressada, você engorda, sua pele fica horrorosa. Aí não rola de trabalhar. Até você ir absorvendo as coisas e pegando o jeito de como funciona. Mas isso demorou um ano.

E como foi esse lance de ser exclusiva do Valentino?
Depois que eu já tinha entendido como funcionava, fiz um casting. Sem compromisso. E aí eles me pegaram pra fazer tudo. Fitting [provas de roupas], lookbook, catálogo, tudo. Fiquei com eles bastante tempo. A gente viajava quando tinha de fazer alguma presentation. Era bem legal.

Quanto tempo você morou em Milão?
Cinco anos.

Você voltou porque quis?
Crise.

Foto: Felipe Larozza/VICE

No entanto, você pensava em voltar pro Brasil ou não?
Não. Aqui é difícil, mas eu tô me adaptando. Ainda. Faz um ano e meio que voltei. Nada funciona direito. O banco tá em greve vai fazer dois meses. Como assim? É muito difícil quando você não tem dinheiro. E, agora que meus pais estão morando melhor e tem o metrô aqui perto, eu consigo me adaptar e focar o que quero. Tá mais fácil agora.

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Você nasceu em São Paulo mesmo?
Sim.

Na Zona Leste?
Eu cresci, cê não vai conhecer, depois de São Mateus. Quase Cidade Tiradentes.

Quantos anos você tem?
Vinte e três, mas pode falar que é 22. [risos]

Foto: Felipe Larozza/VICE

Você mora com seus pais?
Sim.

Quantas línguas você fala?
Inglês, italiano e arranho um pouco de alemão. Estudei espanhol, mas, depois que aprendi italiano, não sai mais.

Seu pai achava que a Bacon foi presente de uma amiga, mas o papo é que você mesma a comprou. Como foi isso?
Eu sou muito impulsiva. Eu queria uma porca, fui lá e comprei.

Você curte astrologia?
Curto, mas não entendo nada. Gostaria de entender.

Qual é o seu signo?
Libra. Nasci no último dia.

Hmmm, no cúspide… bom, voltando à Bacon: como foi a ideia de comprar uma porca?
Não faço a mínima ideia. Eu estava num casting e falei que eu queria um gato. Minha amiga disse: "Por que você não pega um porco?". Eu pensei: "Puta, pois é". Aí comecei a ver, achei fofo e falei: "Demorou. Vou ver quem vende porco". No dia seguinte, fui e comprei. Só que eu não imaginava o trabalho que ela dava.

Qual é a raça dela?
Mini Pig. Só que ela tá bem grandinha. Ela pesa 50 kg.

Você não fazia ideia de que ela chegaria a esse tamanho?
Não.

Você pensou em doar ou vender a Bacon? Deu treta em casa?
Já doei, já peguei de volta.

Qual é a rotina dela?
Não tenho muito tempo. Então, ela fica na escolinha na parte da manhã. À tarde, vem uma menina aqui e passeia com ela. Assim, ela gasta energia e não fica o dia todo aqui, coitada.

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Foto: Felipe Larozza/VICE

De onde veio o nome Bacon?
Não sei… na verdade, eu estava num restaurante de hambúrguer e fui lá com ela. O nome dela era Úrsula. Aí cheguei, e perguntaram o nome. Quando falei, sugeriram: "Põe Bacon. Bacon é muito mais legal". Eu falei: "Puta, é verdade, meu. Bacon". E o restaurante tinha um logo de porquinho. Pensei: "Demorou, vai ser Bacon".

O que a Bacon come?
Chuchu, abobrinha e cenoura, porque ela tá numa dieta eterna.

Ela tá acima do peso?
Aham.

Mudando o papo. O que você curte ouvir de som?
Depende do meu mood. Tem dia [em] que eu amo ouvir Spice Girls, Britney Spears. Gosto de hip-hop. Quando estou com os meus amigos, a gente se sente meio mano. Curto o Drake.

Já viu o clipe novo dele?
Não, mas falaram que é absurdo.

É maravilhoso.
Preciso ver. Eu era muito rock 'n' roll, mas ando tão gay… gay ou mano: ando sempre com as gays.

Você compra peças de marca? Onde você compra roupa?
Eu gosto de garimpar em brechó. Gosto muito. Mas, roupa de marca mesmo, eu não tenho cacife pra bancar. Ganhei muita coisa trabalhando com marcas grandes fora do Brasil. Então, tenho muita coisa boa. Mas, comprar… eu não compro, não. Compro mais em brechó mesmo. E ando ganhando coisas. [risos]

O que você mais usa?
Tênis e jeans. Amo tênis e jeans.

Você também ama salgadinho Fofura. Qual é o seu sabor preferido?
Queijo!

O da embalagem vermelha?
Aham.

Foto: Felipe Larozza/VICE

Você sempre fala que não malha, não faz esporte, que confia na genética. É isso mesmo?
Não é que eu confio. Eu tô confiando.

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Você sabe que, depois dos 25, 26, o negócio degringola…
Eu tenho meus dois joelhos cagados. Então, se eu faço esporte um dia, fico dois dias com dor. Então, não faço nada. Mas pretendo começar a fazer pilates.

E ioga?
Ioga não é pra mim. Já tentei. Muito calminho.

E sua alimentação?
Eu não me preocupo com alimentação. Morando com a minha mãe, é ótimo porque sempre tem comida caseira. Mas, fora de casa, eu como qualquer coisa. Coxinha…

Você não é a louca da salada?
Eu nem gosto de comer salada porque tenho medo de ficar com o dente verde. Tipo, ontem, no trabalho, só tinha salada e uma tortinha de palmito. Tudo bem light. Aí comi salada. Eu gosto, mas tenho medo de sujar os dentes. Comi e fiquei com o maior verdão no dente, rindo. Me avisaram, e eu não tinha levado escova de dente. E aí, sabe quando entra assim, no meio?

Dizem que não é bom comer salada durante o date. Senão fica com verde no dente mesmo.
Nem como.

Outro dia, você fez um Snapchat chorando muito. Isso foi resolvido?
Foi. Mas sabe o que é? Eu sou muito dramática.

Não dava pra sacar se você estava brincando ou chorando mesmo.
Era verdade. E o Matheus ainda me dava esporro. Eu queria colo, carinho, e ele "Ellen, é isso". E eu morrendo. Achei que ia morrer de tanta tristeza. Mas passou. Todo mundo posta "Ó, que legal: tô zoando, tô linda, tô feliz". Cara, na vida não é só isso também. Tem dias em que eu acordo que não quero falar nada com ninguém. Nem com a minha mãe.

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O fato de você ser modelo e fazer tudo isso nas redes sociais quebra um padrão da imagem que temos sobre a profissão.
Hoje, eu vejo meninas que são minhas "colegas" [faz aspas com a mão] que estão tentando se soltar mais.

Foto: Felipe Larozza/VICE

Alguma modelo já ficou cabreira com esse lance de você ser muito divertida?
Tem um clã que me odeia. Umas meninas me odeiam. Acham que eu quero me mostrar.

Queríamos mesmo perguntar se você não tem umas inimigas.
Tenho. Já jogaram várias indiretinhas, tipo: "Nossa, será que eu vou ter de ter uma porca pra trabalhar?".

Eu não gosto de conversar com as pessoas só da moda. É muito fechado aquilo. Eu gosto de sair. Meu point é a Praça Roosevelt. Vou ali, sento na escada, pego meu latão. Ali, passa um monte de gente que eu conheço, que eu não conheço. Pessoas diferentes, ideias diferentes. Isso que eu acho legal. Explorar outras coisas. Não só esse meio da moda porque, querendo ou não, ele dá uma moldada, uma fechada em você. Festinhas depois de desfile não são as festinhas que eu costumo ir. Eu costumo sair pra me divertir, não pra fazer carão.

Falando nisso, você desfilou no São Paulo Fashion Week. Como foi?
Fiz cinco desfiles. Achei que só tinha blogueira, que blogueira tá ditando moda. Blogueira com um monte de assessor fazendo look do dia. E uns looks que você olha assim… "Oi?". Não precisa tanto. Você vai assistir a outros desfiles. Não precisa se montar como um Pikachú pra ir assistir a um desfile. Sério mesmo.

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É um papo bosta, embora sempre tenha esse lance de perguntar pra modelo: você fez faculdade? Se não, qual curso escolheria?
Nossa. Na verdade, eu odeio escola, odeio estudar. Tenho trauma. Eu só terminei a escola graças à tecnologia e aos meus amigos, que me passavam todas as colas por bluetooth. Lembra aquele celularzinho que tinha bluetooth? Eu pedia "Pelo amor de Deus".

Não sei se eu faria faculdade, mas sim cursos. Gosto de joias. Faria um curso de design de joia ou até mesmo algo voltado pro cinema, já que eu adoro zoar e encarnar alguma coisa, algum personagem.

Foto: Felipe Larozza/VICE

Quais foram seus trabalhos mais relevantes até hoje? O que compõe teu currículo?
Aqui, no Brasil, eles dizem que tudo que eu fiz lá fora, que foram coisas legais e importantes, não valem mais. Recomecei do zero aqui.

Mas são esses trabalhos de quando eu era exclusiva da Valentino. Eu também fiz Prada por um ano. Fiz campanha mundial. Polo, Ralph Lauren. Mas aqui não vale.

Quais foram os últimos trabalhos mais legais?
Os trabalhos que eu gostei muito de fazer foram os comerciais porque eu adoro vídeo, adoro interagir.

Ellen Milgrau está namorando ou está solteira?
Ellen Milgrau está no rolê.

Quais são os planos e suas ambições pro futuro?
Planejo muitas coisas. Eu e Matheus planejamos ter um canal divertido. Já me ofereceram uma plataforma com patrocínio e tudo. Só que vamos estudar. Eu achava que era tosco, mas é muito legal segurar um microfone.

Pretendo morar sozinha. E, também, dominar o Brasil, o mundo… e a paz mundial.

Foto: Felipe Larozza/VICE

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