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Enquanto o Mundo Esperava que o Brasil Pegasse Fogo, os Brasileiros Davam Risada

O Brasil foi massacrado pelo inesperado resultado de 7 a 1 e, embora algumas equipes de notícia internacionais tenham se esforçado para encontrar um surto de violência por causa do placar, o Brasil continuou calmo.

Talvez devido a uma má interpretação dos protestos do ano passado, ou porque violência ajuda a vender jornais (e/ou dá muitos cliques), muitos jornalistas passaram o ano todo prevendo grandes protestos durante a Copa do Mundo. Quando nada aconteceu, o foco mudou para os tumultos que explodiriam se e quando o Brasil perdesse.

O Brasil foi massacrado na noite de terça-feira pelo inesperado resultado de 7 a 1 e, embora algumas equipes de notícia internacionais tenham se esforçado para transformar um grupo de oito marginais assaltando pessoas na praia de Copacabana em uma revolta nacional, o Brasil continuou calmo. E essa pode até ter sido a derrota mais humilhante da Seleção desde os 6 a 0 nas mãos do Uruguai em 1920.

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Sim, essa foi a primeira vez que o time brasileiro perde uma partida oficial em casa desde 1975, mas depois de um breve momento de pânico e choro, capturado fielmente por 18 mil jornalistas estrangeiros, a maioria resolveu fazer o que faz melhor: usar o riso para lidar com a tragédia. Antes mesmo de o jogo terminar, as redes sociais estavam cheias de piadas, como: “Fui para o quintal porque não conseguia mais ver o jogo e meu pastor-alemão riu da minha cara”.

Logo depois, memes como esse começarem a pipocar, apresentando o herói gay de uma novela recente chorando agarrado ao travesseiro.

Fui até a banca de jornal aqui da vizinhança, na Zona Norte do Rio, ontem de manhã para ver as manchetes, e dois caras estavam rindo e trocando piadas sobre o Fred. “O que você achou da performance do Cone de Trânsito ontem?”, disse um deles. Outro imitou um apresentador de telejornal anunciando: “Fred: quem é ele? Onde ele está? O que faz? Hoje, às dez da noite”.

As manchetes dos jornais eram mais sombrias, mas era difícil não achar humor ali também. A primeira página do jornal carioca O Dia dizia simplesmente: “Vá pro Inferno Você, Felipão!”. Sutil. Muito sutil. E o Lance! deixou a primeira página em branco com a nota “Indignação, Revolta, Dor, Frustração, Irritação, Vergonha, Pena, Desilusão… Diga o que está sentindo e faça você mesmo esta capa do Lance!”.

Capa do Lance. Foto por Brian Mier. 

Enquanto a tristeza e a frustração começam a se misturar com o riso, e com menos de uma semana até a final, alguns jornalistas estrangeiros ainda se agarram à esperança perversa de ver alguma grande confusão nas ruas.

“Não houve tumulto hoje porque está chovendo, mas não quero nem imaginar como vai ficar a situação se a Argentina vencer a Copa”, um desses personagens me disse anteontem à noite, enquanto tomávamos cerveja na Lapa, numa mesa cercada por gente bêbada rindo.

Tradução: Marina Schnoor