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Entrevista: Marcus Baby

O negócio do Marcus Baby é fazer bonecas de celebridades. Mas ele não vende. Nenhuma. Nunca vendeu. E mostra-se absolutamente intransigente quando o assunto é comercializar suas inquietantes obras.
A presidente Dilma Rousseff. Foto: divulgação

Era uma vez um rapaz que adorava colecionar coisas. Certo dia, ele vê na televisão um famoso exibindo orgulhosamente sua coleção de bonecos. Uma louca obsessão acomete o jovem, que resolve arregaçar as mangas e rumar à sua primeira e ousada criação: Baby do Brasil, a antiga bicho-grilo dos Novos Baianos e hoje amalucada missionária evangélica. Não à toa, o moço agora atende pela alcunha de Marcus Baby. E confessa que a ideia inicial era criar a cantora junto de seu parceiro romântico da época, o não menos loucão Pepeu Gomes. Mas como o boneco que ganhou pra usar como matéria-prima era negro, acabou virando o Lenny Kravitz.

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O negócio do Marcus Baby é fazer bonecas de celebridades. Mas ele não vende. Nenhuma. Nunca vendeu. E mostra-se absolutamente intransigente quando o assunto é comercializar suas inquietantes obras. Amy Winehouse, Anderson Silva, Elza Soares, Fiuk, Padre Marcelo Rossi, Lady Gaga, Freddy Mercury, Gaby Amarantos, Axl Rose, Jesus Luz, Katy Perry e uma infinidade de artistas estão no portfólio, ou melhor, no apartamento dele. Sim. Um cômodo de sua residência, em Natal, virou oficialmente o abrigo dos quase duzentos bonecos – que já receberam visitas de jornalistas de todo o país e até de seu fã-clube. Porque Marcus Baby tem fã-clube. Mas, fãs, nada de tirar os bonecos das prateleiras ou passar suas mãos grudentas nos cabelinhos meticulosa e impecavelmente alinhados. Se quiser tirar uma foto com um deles, tudo bem, o criador irá colocá-lo em sua mão e você posa sem censura pra câmera. Por essas e outras, Marcus quer ir mais longe: pensa em desocupar o apartamento todo e deixá-lo apenas pros bonecos.

Críticas? Ele recebe, claro. "Nesse ponto eu sou meio Supla, sabe? Meu cabelo tá lindo, minha roupa tá linda e foda-se quem tá achando que tá feio", diz, pra delírio dos opositores.

Bati um papo por telefone com o criador de bonecos-celebridades, mas parecia que estávamos numa mesa de boteco, tamanha a descontração. Marcus Baby é um showman.

VICE: Como surgiu sua paixão pelos bonecos?
Marcus Baby: Desde criança eu colecionava revistas em quadrinhos, discos de vinil, tampinhas de garrafa. Sempre achei legal o lance da fotografia e do artista pop. Na década de 1990, assistindo um programa de TV, vi um famoso que mostrou um ambiente do apartamento dele cheio de bonecos de celebridades que ele encontrava em viagens. Quando vi aquilo, fiquei estático. Enlouqueci. Falei: quero fazer uma coleção igual.

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Sua primeira boneca foi a Baby do Brasil, né?
Comecei a pesquisar pra ver como eu faria, aí percebi que não tinha pra vender os ídolos que eu gostaria de ter, então pensei: Vou criar meus bonecos. Foi quando criei coragem e pedi a um amigo uma Barbie e um Ken de presente de aniversário. A ideia era fazer a Baby do Brasil e o Pepeu Gomes, que era marido dela na época. A Baby tem um visual muito colorido, aquela roupa meio punk. Pensei: Então vou fazer uma boneca dela e, se eu achar legal, vou continuar. Foi o pontapé inicial.

Quem veio na sequência?
Como já faz tempo, não me lembro a sequência exata, não. Mas o boneco que ganhei pra fazer o Pepeu era negro. Não daria pra fazer o Pepeu. Então resolvi fazer o Lenny Kravitz.

Quanto tempo você leva pra criar um boneco?
É muito relativo. Pode levar horas, dias, meses. Não tem um tempo certo. Ultimamente tem sido mais rápido porque eu tenho um estoque de bonecos e materiais.

Você mesmo faz os acessórios e o figurino?
Eu que faço. Quando quero que alguma coisa apareça, tipo um detalhe de costura, recorro à minha mãe, que é costureira. As roupas que você vê nos bonecos são coladas. O boneco deixa de ser um brinquedo de criança. Eu o transformo em uma escultura. Então, não há necessidade de fazer roupinha que saia, cabelinho pra pentear. Eles deixam de ser um brinquedo pra ser uma escultura.

Reparei que você tem cuidado com os cabelos, pra que fiquem iguais aos do artista. Como você faz?
Gosto muito de cabelo e de sapato. Eu gosto de exagero, é o meu ponto de vista. Se eu não exagerar no cabelo, vou exagerar no sapato, num detalhe da roupa. No Psy, eu exagerei na cabeça, fiz com uma cabeça grande mesmo. Tenho que ter uma coisa que chame atenção. Não trabalho em cima do realismo, faço a escultura da minha maneira, meu ponto de vista.

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Quantos bonecos tem na sua coleção hoje?
Estou com 174, se não me engano.

No seu site está escrito que você não vende bonecos e nem recebe encomenda. Você guarda todos eles?
Todos eles. Desocupei um quarto do meu apartamento e tô quase desocupando o apartamento todo, porque tá ficando grande o negócio. Tenho uma ambientação própria pra receber jornalistas, porque vem gente do Brasil inteiro e fã-clube também – porque eu tenho fã-clube, olha que legal. Vem muita gente aqui. Então, deixo os bonecos arrumados de forma que a pessoa não toque, mas, se quiser tirar uma foto segurando um deles, eu deixo. Coloco na mão da pessoa. Mas não é uma coisa de ficar pegando. Todos são feitos pra mim. Nunca tive a intenção de vender, apesar de receber e-mails diariamente.

Mas por que você não quer vender? Você poderia fazer uma grana com isso.
Ah, não. Não vendo porque é uma coleção que eu quis fazer pra mim. Se você der uma busca no Google, você vai ver que tem uma série de brasileiros que fazem esse trabalho que eu faço. Mas que eu já recebi propostas maravilhosas, recebi. Inclusive uma delas saiu na mídia.

Esses dias você publicou fotos do Jesus Superstar. Qual foi sua criação mais polêmica
Quando eu fiz a boneca da personagem da novela "Viver a Vida", a Luciana, interpretada pela Alinne Moraes. Saiu em capa de jornal do Brasil inteiro.

Seus amigos te enchem o saco pedindo bonecos de presente?
Meus amigos mais próximos, não. Mas outro dia eu estava no Banco do Brasil e a gerente me reconheceu e me chamou. Tive que sair da fila. Eu achei estranho, mas imaginei que ela fosse pedir uma boneca dela. Ela pediu. Eu disse que faria e que custaria 25 mil reais, mas que ela teria de adiantar 50% em dinheiro. Eu tava com a macaca. [Risos] Poxa, mulher interesseira, me tira da fila. Eu chamo atenção, rastafári, a unha pintada de preto. Sou aquilo lá, não sou um personagem, não.

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Vi vários atores globais na sua produção, como Camila Pitanga, Bruno Gagliasso. Você é noveleiro?
[Risos] Eu já fui mais noveleiro. O Bruno Gagliasso é um doce de pessoa. Ele foge totalmente do padrão galã global. Amo de paixão. São pessoas que eu fiz uma homenagem, de boa, que chegam em mim e dizem: Cara, você é foda!

Adoro a boneca da Dilma Rousseff. Já pensou em enviar uma para a presidente?
Não. Na época que eu lancei a boneca, até o site oficial do PT entrou em contato comigo. Alguns sites estrangeiros também. Todo mundo me perguntou o que eu faria se a Dilma me pedisse. E eu respondi que diria não. [Risos] De jeito nenhum.

Qual é a sua criação preferida?
Eu gosto muito do meu boneco do Dave Navarro. Não tem explicação. Acho que é porque eu sou muito fã dele.

Qual criação deu mais trabalho?
Geralmente, a última. Quando eu comecei a fazer a mulata Globeleza, deu muito trabalho. Eu não tinha noção nenhuma de roteiro pra montar aquela boneca.

Você tem muitas Madonnas. Ela é sua principal fonte de inspiração?
Já foi mais. Eu gostava muito da Madonna, mas ela tá ficando velha e chata. Quando ela era nova, era mais ousada. Ultimamente, ela tá um porre. A mulher não tem um Twitter, não tem nada. Acho a Madonna um elemento rock dentro do universo pop. Rihanna, Katy Perry, Ke$ha, todas elas beberam da Madonna. Acho que ela é uma puta referência. Eu tenho vinte e tantas Madonnas, mas ultimamente tô achando ela um saco. Tô preferindo fazer a Nicki Minaj.

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Seus bonecos já foram criticados? Como você lida com isso?
Eu fico puto da vida. Não gosto. [Risos] Mas tem. Apareceu uma jornalista desinformada lá do Rio Grande do Sul, sob pseudônimo. Ela detonava mesmo. Ela colocava [nas matérias] "O mais novo Chuck de Marcus Baby". Como eu não dava atenção, ela chegou ao ponto de me mandar e-mail com o link pra que eu lesse. Disse pra ela que eu não tinha o hábito de discutir com gente que não era da área, que era jornalista de fachada, que não assinava com o próprio nome, não mostrava o rosto. Aí ela parou. Como eu faço pra mim, tá lindo. Isso é o que interessa. Nesse ponto, eu sou meio Supla, sabe? Meu cabelo tá lindo, minha roupa tá linda e foda-se quem tá achando que tá feio.

Beleza, Marcus. Obrigada pela entrevista, foi muito divertida.
Espero que saia logo. Estou cansado de sair na Caras e na Quem. [Risos] Eu quero o universo alternativo, é a minha praia.

Veja mais do trabalho do Marcus Baby aqui.

Siga a Débora Lopes no Twitter: @deboralopes

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