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Música

Entrevista: Os Estudantes

O Circle Jerks de Copacabana.

No meio do carnaval carioca, após algumas tentativas frustradas pela ressaca de alguma das partes, entrevistei Vitão e Manfrini, respectivamente vocalista e guitarrista d’Os Estudantes, a melhor banda punk/hardcore do Brasil, seja em disco, seja ao vivo.

Conhecidos como “o Circle Jerks de Copacabana” (apesar de nenhum integrante morar nesse bairro), o quarteto da Zona Sul carioca lançou, no ano passado, o estridente álbum Pedras Portuguesas na Sua Cabeça, que conseguiu um feito raro pra uma banda de punk rock nos dias de hoje: entrar em diversas listas de melhores do ano e chamar atenção além do restrito círculo punk/hardcore. Não que seus shows na cidade do Rio de Janeiro sejam muito disputados, pelo contrário  como admite Manfrini, “fazer hardcore na Zona Sul é algo meio solitário”.

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Em mais de duas horas de prosa alcoolizada, falamos do passado e presente da cena carioca, como é cair nas graças (e desgraças) do maior fanzine punk do mundo, comentamos vários vídeos de shows ao vivo de bandas punks e eles ainda revelaram que o grupo está com os dias contados.

VICE: E tudo começou com um grupo chamado Claro Que Não…
Vitão: Na época do Claro Que Não [grupo que deu origem a Os Estudantes] misturava de tudo, banda de HC melódico, punk, rap. Era aquela parada, vamos juntar todos os freaks e os losers, senão não rola [risos].

Manfrini: Naquela época e ainda hoje, o Rio de Janeiro, especialmente a Zona Sul, não é um bom lugar pra se fazer hardcore. Como disse o Vitão, nos anos 1990, tudo era tão pequeno que todas as bandas “underground” tocavam juntas nos shows. Também, várias bandas ensaiavam no estúdio do cara do Funk Fuckers, o Casa 3. Rio de Janeiro sempre foi complicado pra rock.

Vitão: No subúrbio o pessoal toca mais punk e hardcore mesmo, na Zona Sul não tem quase ninguém.

Manfrini: Antes ainda tinha o Serial Killer, o Pacto Social… O lance é que o Rio de Janeiro é uma cidade partida. Acabava que todo mundo se encontrava era no Garage [extinta casa de shows histórica da cidade]. As bandas meio que se encontravam ali.

Vitão: Quando a gente sabia que era banda de punk rock, hardcore, a gente ia.

Manfrini: Em 1995, a gente fez um negócio (acabou acontecendo) meio igual o Ian Mackeye fala de “Georgetown Punks” [turma de punks na virada dos anos 1980 que criou a cena punk de Washington DC], porque a gente sempre foi meio tirado de playboy e acabou que fizemos uma ceninha da Zona Sul. Era o pessoal do Ack, do Barneys, do Core Flakes. E foi uma cena que conseguimos trazer uma garotada nova. Rolava um preconceitozinho, chamavam a gente de punk Zona Sul.

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Vitão: Mas normal, também.

E como vocês se notabilizaram? Os Georgetown Punks parece que inventaram um pogo ultraviolento e tal…
Vitão: Rolava o estrebucho. Sabe aquele filme Another State Of Mind?

Manfrini: Tem uma parte desse filme que o Mike Ness [vocalista e guitarrista do Social Distortion] está num lugar, acho que em Winnipeg, uns casais caretinhas dançando, ele se joga no chão e começa a estrebuchar. A gente fazia isso. Teve um show do Cabeça que a gente foi e começamos a fazer isso, rolando no chão. A gente era muito fã do Cabeça nessa época.

Vitão: Nego parava de pogar e ficava olhando aquilo, tipo “que porra é essa?” [risos].

Manfrini: E a gente começou a tocar e frequentar shows fora do Rio, com o Mukeka, em BH com o Dread Full. Toda vez que uma banda de amigos ia tocar fora sempre ia um crew e a gente agitava e estrebuchava. E as pessoas ficavam um pouco assustadas. Eu ficava todo sujo, ralado e cheio de hematomas.

Vitão: Com o Mukeka rolou aquela identificação de sermos os únicos fãs do F.Y.P [clássica banda punk rock estadunidense dos anos 90] [risos].

Acho que o F.Y.P só influenciou tanta banda legal no Brasil…
Vitão: Eles eram a nova Finlândia. O que a Finlândia foi nos anos 1980 pros punks, o FYP foi pra nós nos anos 1990 [risos].

Manfrini: Teve uma loja no Rio, a Bone Yard, que foi muito importante. Foi provavelmente a melhor loja de hardcore que entrei na vida. O dono da loja chegou pra gente e falou “vocês que são toscos, ouçam isso aqui”. E mostrou o F.Y.P pra gente, a música “Jerk Off” [começam a cantar].

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Vitão: Mermão, você chegava lá e tinha o catálogo inteiro da Dischord, da BYO [gravadoras clássicas do punk]… Era a época do dólar um pra um.

Manfrini: Acho que, se não me engano, foi a gente que mostrou o F.Y.P pro Mozine nessa época. Se você pegar a demo e o primeiro disco do Mukeka não tem nada de F.Y.P, mas o Gaiola já é total F.Y.P.

Mukeka era um lance meio Finlândia meio F.Y.P [risos].
Vitão: Total [imita o vocalista do Mukeka cantando]. Caralho, Brasil é um lance muito doido [risos].

Eu acho que fui no primeiro show do Claro que Não em São Paulo, no Alternative Bar em São Paulo, quando ainda era na Zona Leste.
Manfrini: Esse show foi engraçado. Marcaram o show no Alternative Bar, Dance Of Days, Poindexter e a gente. Fiquei felizão, primeiro show em São Paulo e tal. E a gente tocou com outro baixista, o Eduardinho do Barneys, porque o Vitão estava morando na Inglaterra nessa época. Um dia antes do show me liga o Nenê e fala “pô, a gente não vai tocar não”. Eu não lembro bem, mas na época rolou um papo que eles não queriam tocar porque achavam que o Poindexter era “forfun” [termo comum dos anos 1990 pra descrever bandas punks/hardcore que não faziam letras de protesto].

Vitão: Coitados, e o Poindexter nem era uma banda “forfun”.

A cena do Rio era tida em São Paulo como uma cena “forfun”…
Manfrini: Pois é, o Cabeça nunca foi respeitado em nenhum lugar fora do Rio…

Vitão: Não dá pra entender o Cabeça fora daquele contexto mesmo… Cara, mas nego achar que era só um lance “forfun” era completamente plausível. Pega as demos da época, nego só falava de putaria [risos].

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Manfrini: Ou era um lance ligado à parada do Funk Fuckers ou era nonsense, tipo Piu Piu e Sua Banda.

Cara, o Rio de Janeiro era a terra do funk’o’metal e nego morre de vergonha disso hoje em dia [risos]. 
Vitão: Mermão, o De Falla nessa época era “a” banda aqui. Você ia em show do De Falla nessa época no Circo Voador e era um lance apocalíptico, completamente lotado. E a gente amava [risos]. Era uma mistureba da porra o rock aqui no Rio.

Manfrini: Voltando à história, a gente foi mesmo assim, em trio, o Dance Of Days tocou sem o Nenê e foi do caralho.

Vocês foram de queridinhos da Maximum Rock'n'Roll [maior fanzine punk do mundo], com capa, resenha elogiosa, até avacalhados recentemente, justamente quando lançaram o disco que, ao ouvido de qualquer pessoa, é o melhor trabalho de vocês…
Vitão: Eu avisei pros caras da banda. Querem mandar mesmo essa porra? Tem 50% de chance de nego falar bem e 50% de chance de nego falar mal. É a Maximum Rock'n'Roll, cara. Mermão, o apelo natural deles é essa porra. Eles devem achar que a gente é uns moleques, daí daqui uns 10 anos até falariam bem de novo, só que a parada é que a gente já tá velho [risos].

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Mas não faz sentido nenhum né?
Manfrini: Mas sabe o que me irritou? Eu até acho que ele possam ter achado ruim, porque nem é tão espontâneo etc. Mas o que não gostei é que eles falaram que soa meio engraçadinho…

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Vitão: Pô, as letras são até meio deprês…

Pois é…

Manfrini: Engraçadinho não, pô. Tudo bem que tem umas sobras de gravação ali, risadas, mas pô…

Vitão: Mas é legal ter crítica também! Estava todo mundo amando demais essa porra, top 10, não sei o quê [risos]…

Manfrini: É igual o Victor falou, nego pesquisa na internet e vê todo mundo babando ovo pra essa porra, a VICE babando ovo e eles não gostam da VICE… E tem outra, os méritos da capa são mais do Mateus Mondini, o “Glenn Friedman brasileiro”, que manda bem nas fotos, do que da gente.

Fiz uma seleção de vídeos ao vivo de bandas punk pra vocês avaliarem. Afinal vocês mandam bem no palco e são os “estudantes do punk”

Ramones – “Rock 'n' Roll High School”

Vitão: Essa é a única banda que eu danço sem ser forçado [risos]. Punk rock não começou na Inglaterra nem com aqueles pré-punks de Nova York, que são rock’n’roll. Punk rock começou aí.

Manfrini: Fui em quase todos os shows, é bom demais. Eu só não fui no primeiro, em 1992, sabe por quê? Achava uma merda [risos]. Meu lance era só Suicidal.

Por que vocês acham que Ramones é algo tão grande no Brasil e na Argentina, por exemplo?
Vitão: Um fenômeno que não se explica.

Manfrini: Mas acho que tem a ver com o fato de ter saído quase tudo em vinil no Brasil na época mesmo.

Vitão: Agora essas turnês só com o Marky Ramone eu acho lamentáveis.

Sham 69  "Borstal Breakout"

Vitão: Vamos lá pra carecada. Outra banda boa. Dois anos na Inglaterra e não vi os caras tocarem. Addicts também. Mas tudo certo, porque eu acabei assistindo o Cramps.

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O que você viu dessas bandas clássicas lá?
Vitão: Vice Squad, horrível. Damned, incrível. Vibrators e UK Subs tocavam quase toda semana. Buzzcocks eu vi. Vi outras bandas da velha guarda, mas não lembro agora…

Sham 69 ficou associado com um lance ruim, de skin nazista…

Vitão: E nem era. Era um lance punk rock, mas de uma galera que gostava de uma confusão, de porradinha [risos].

Manfrini: Essa história na Inglaterra é muito confusa, porque era um lance de rua, mais antiga, daí veio o National Front e se apropriou desses jovens de subúrbio, mais violentos.

Engraçado que o Jimmy Pursey [vocalista do Sham 69] acabou protagonizando a primeira rivalidade de imprensa do punk, que seria ele de “real” e o Joe Strummer de “vendido”, e os dois se conheciam, não tinha treta de verdade…
Vitão: [Sarcástico] “Primeiras tretas do punk”… Inglaterra se amarra nisso. Rolling Stones versus Beatles, Blur versus Oasis… Até na pior fase da música inglesa nego tentou armar um Jesus Jones versus EMF [risos].

S.O.A  "Draw Blank"

Vitão: Isso aí a gente fez até cover. Eu não gosto muito do vocal do Henry Rollins, mas aí funciona bem.

Manfrini: Essa banda mudou minha vida. Tinha uma loja no Rio, a Spider, que alugava CD, e o cara da loja falou “você gosta de Suicidal, né?” — aliás, foi assim que eu descobri que gostava de punk, porque o primeiro do Suicidal era o que mais gostava [risos]. Aí ele mostrava 7 Seconds, Minor Threat… E quando ele mostrou o seven inches da Dischord [álbum com os primeiros compactos lançados pelo selo de Washington DC], aquilo mudou minha vida! Tenho uma memória filha da puta, lembro de estar cagando na casa dos meus avós e escutando essa parada no fone [risos].

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Vitão: Na Rádio Fluminense tinha um programa toda segunda-feira, de duas horas, com o Tom Leão e o André X da Plebe Rude, eles tocavam punk rock pra caralho. Eu gravava a porra inteira e depois fazia fitas só com as melhores músicas. Bicho, tenho umas 10 fitas até hoje. Teve uma vez que tocaram o Minor Threat fazendo cover do Wire. Eu cheguei nessa loja que o Manfrini falou e tinha o Complete Discography deles. Daí, caraaaaalho, fudeu!

Escolhi esse som porque acho que é a melhor coisa que o Henry Rollins fez. Nego fica puto quando falo que a pior fase do Black Flag é com ele cantando.
Vitão e Manfrini: Eu acho.

Vitão: Mermão, é muito fácil ver que é a pior fase. Pega ele cantando “Gimme Gimme Gimme” e os outros caras cantando [imita o jeito do Rollins cantar]. Não tem swing nenhum no vocal, é muito pior.

Manfrini: Essa cena toda de Washington é muito genial.

Cólera – “Subúrbio Geral” e “Sub-Ratos”

Vitão: Essa é a maior banda nacional de todos os tempos. A gente chorava de verdade nos shows.

Manfrini: Eles tocavam todos os anos no natal do Garage.

Vitão: Foi a única banda nacional que eu peguei o carro pra ir ver em São Paulo.

Manfrini: Em 1999, show de 20 anos no Hangar 110 com o Mukeka Di Rato.

Eu fui nesse show, incrível!
Manfrini: A gente chorava aos prantos [risos].

Vitão: Não tinha show ruim.

Na cena hardcore norte-americana tinha vários caras como o Rédson [vocalista do Cólera, falecido em setembro de 2011], mas no Brasil teve só ele, né? Um cara talentoso, acima de todas as tretas, respeitado, levava a sério o faça-você-mesmo… Vocês se lembram o que faziam no dia da morte dele?
Manfrini: Cara, foi uma loucura, parecia que um parente havia morrido, um amigo me ligou inclusive. Cólera era tão incrível, porque tinha uma ligação direta com a plateia, dominava mesmo, um sentimento inexplicável.

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Essa primeira geração de punk brasileira é a que vocês mais gostam?
Manfrini: É, eu gosto de todas aquelas bandas, mas o Cólera é a minha favorita. E eu sou chato: gosto mais do Tente Mudar o Amanhã do que do Pela Paz. E ele era um cara muito antenado, todo mundo falando de guerra e ele falando de paz.

Dead Kennedys – “Holiday in Cambodia”

Manfrini: Nossa, sem comentários…

Vitão: Quando você sobe no palco, mermão… Beleza, não é teatro, mas você tem que fazer alguma coisa, não vem dar uma de cool — por isso implico com indie. Você está lá, então manda ver! Você não está lá pra pegar mulher, não me venha tocar de costas pro público.

Pra você, como bom performer, quais os maiores performers? Jello Biafra entra nessa lista?
Vitão: Rapaz, aí… Jello Biafra, Jim Morrison, o cara do Motossierra.

Manfrini: O Iggy Pobre [risos].

Vitão: O GG Allin… O Jello Biafra canta literalmente tudo, como o cara do DRI. Odeio essas coisas tipo grindcore que o cara não canta nada. Decora a porra da letra, pô [risos]…

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Garotos Podres – “Escolas”

Vitão: Você não vai colocar banda ruim pra gente falar mal, não?

Manfrini: O cara fez aquela da “mancha do tapete” que pegou mal, mas essa é demais.

Vocês estavam no fatídico show do Garotos com o Ratos de Porão no Circo Voador que motivou o fechamento do lugar?
Vitão: É claro que a gente estava lá e presenciou tudo.

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Manfrini: Joguei lata naquelas velhas lá [risos].

Vitão: Agora é claro que ia dar merda. O festival se chamava Boneyard Bloody Fest e tinha um rato bombado no cartaz todo ensanguentado. E foi no dia da eleição do Conde [Luiz Paulo Conde, eleito em 1997]. Fizeram a festa da vitória no anexo do Circo.

Manfrini: Não, foi no Circo Voador. E um monte de punk e metaleiro lá na porta esperando o show começar. Entrando aquelas velhas arrumadas lá e todo mundo “aê, ladrão!”, “mulher de político”, “filha da puta!”… Mas nem foi tão assim, de machucar ninguém, rolaram umas três ou quatro latas vazias, talvez tenha molhado o vestido das velhas e olhe lá. E rolou o show ainda. Lembro do Mao no palco: “quando tinha a idade de vocês, não sabia se ia pra guerrilha urbana ou pro campo” [risos]. Me lembro de acordar no dia seguinte e ler a manchete no jornal: Punks Fecham o Circo. Junto, tinha uma foto do João Gordo e, ao seu lado, o Dudu, que hoje toca no Confronto, usando uma camisa do Fugazi.

O Mao é um grande letrista…
Manfrini: Ó, isso é Marx (cantarola): “sem esperanças, de uma vida melhor / pois os parasitas, sugam seu suor”.

Vitão: No começo do Claro Que Não, a gente escutava tanto essas porras que o Manfrini cantava com sotaque de paulista [risos]. Não que a gente quisesse ser paulista, mas aqui era a terra do funk’o’metal [risos].

Manfrini: A gente fez cover de “Verme” e “Vou Fazer Cocô”. Teve um show em Macaé que uns carequinhas mirins ficaram todos felizes.

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Minor Threat – “In My Eyes”

Manfrini: Como disse alguém de São Paulo, “o que seria de nós sem o Minor Threat?”. É minha banda preferida.

É uma banda ultra hardcore e tocam muito bem, né?
Manfrini: Eu achava super-rápido, hoje acho tranquilo.

Vitão: Ele canta completamente fora da base e isso faz toda a diferença.

Manfrini: É o hardcore da pentatônica e fica muito sonoro.

Vitão: Você pega uma banda como o Minor Threat e o Bad Religion no início e bota um vocalista que canta tudo dentro da base, viram umas bandas comuns. Nego tem essa pilha errada de falar que cara de banda de hardcore/punk não sabe tocar. Pode pegar todas as bandas top que os caras tocam pra caralho. Esse papo de que nego não sabia tocar era o maior marketing que o Malcolm McLaren inventou, maior mentira.

Manfrini: Esses caras de hardcore americano aprenderam a tocar com bandas de hard rock dos setenta, cara! Vários tocavam nas bandinhas da high school.

Rancid – “Ruby Soho”

Vitão: Gosto muito de Rancid, vi o show, mas não lembro muito porque estava bêbado. Foi em 1998, época da Copa do Mundo, uns policiais acharam que eu era traficante. Pisei num caco de vidro, mas não senti muita dor porque estava bebum. Na época, eles trouxeram o moicano ridículo pra cena [risos].

Manfrini: São grandes músicos, fazem boas músicas.

Eu acho meio qualquer nota, cópia de The Clash…
Vitão: Eles sempre estavam copiando alguma coisa… Tem disco que é Clash, tem disco que é UK 82…

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Manfrini: Um amigo comprou o And out come the wolves…, a gente foi escutando na PUC e vagabundo comentando: “eles se venderam, mas é bom pra caralho!” [risos]. O primeiro disco é bom e o segundo é sensacional. Eles vieram de uma cena muito legal, que se formou na 924 Gilman St. [histórica casa de shows punk]. Sem falar que eles eram do Operation Ivy, que eu adorava.

O Green Day veio mais ou menos dessa mesma cena e eu gosto muito!
Manfrini: E vou além: o Dookie é um disco foda.

Vitão: Agora Rancid é uma banda que não escuto mais.

Fugazi  “Suggestion”

Acho esse vídeo em especial meio incrível, conheci agora…
Manfrini: Que foda! É a Amy [Pickering, tocou no Fireparty e trabalhou na gravadora de Washington] da Dischord nos vocais! Que incrível!

E é uma música feminista muito bonita…

Vitão: E a energia? Tem uma atmosfera…

Manfrini: Vou te falar, melhor show que vi na minha vida, Fugazi em 1997 em BH. É muito impressionante, você entra em transe no show.

Dá pra ver o vocalista do Nation Of Ulysses ali atrás do palco, vendo tudo boladão. Fugazi soa como um resultado final digno de uma cena?
Manfrini: Acho que sim, e eles sempre tiveram muito controle da coisa. A Revolution Summer foi uma decisão política [os punks de Washington resolveram, de forma consciente e coletiva, repensar a música e a política da própria cena em meados dos anos 1980].

Imagina alguém tentando fazer algo nesse sentido no Rio de Janeiro?

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Vitão: É um lance muito dos anos 1990, impensável.

Manfrini: Ian Mackeye é um cara foda! O cara criou meio sem querer o tal do straight edge, depois criou essas paradas, aglutinou muita gente. Quando vocês forem embora vou ver essa porra inteira [risos]!

FYP – "Jerk Off"

Vitão: Não vai ter nada pra gente falar mal? Esse filha da puta é outro compositor foda, nunca fez nada ruim.

O Mozine também é um grande compositor nesse sentido, né?
Vitão: O Mozine é o Todd [Congelliere, criador do F.Y.P] brasileiro. Se o Brasil fosse um lugar decente, sei lá, aquele programa Experimente, do Multishow, que só tem porcaria, tocaria o Merda.

Manfrini: Engraçado que muitas coisas vindas da Läjä, os caras da Maximun Rock’n’Roll não entendem, acham engraçadinho.

Vitão: Nego falar mal d’Os Pedrero eu entendo, porque entender ironia em outra língua é foda.

Vitão: A Recess, assim como a Läjä, é uma puta gravadora. E tem um lance do Mozine… Quando a coisa estava bombando, estava cheio de malandrinho montando barraquinha, tentando ganhar um troco… Cadê esses caras? O Mozine continua.

Manfrini: Até a maioria das pessoas que ia ao shows sumiu. Só a gente e mais um punhado de doidos continua indo em show e tal.

Vitão: Mas a gente é uns caras loucos mesmo. Nunca tivemos público. Um lance que tem que saber é que a gente vai acabar a banda.

Jura?

Vitão: Este ano ainda vamos fazer uma paradas, mas eu quero tocar guitarra, vamos continuar com as mesmas pessoas, mas fazer outro som.

Manfrini: Se ele está falando [risos]… Mas de repente é bom mudar um pouco. O Estudantes está ficando velho, já são 13 anos de banda. Mas este ano ainda vamos tocar bastante. Tem muito disco guardado no meu armário.

Los Crudos  “Desde Afuera”

Manfrini: Vou ter que ir pra São Paulo pra ver essa merda. É muita energia. Foi o Martin [vocalista do grupo] que fez a resenha do Estudantes na Maximum Rock’n’Roll.

Ouça Os Estudantes.

Anteriormente:

Entrevista: Renegades of Punk

Entrevista: Merda

Entrevista: Cidade Cemitério

Entrevista: Morto Pela Escola

Entrevista: O Inimigo