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Falamos com os Estudantes que Protestaram na Exibição de “Jogos Vorazes” em Banguecoque

O novo capítulo da série cinematográfica entrou em cartaz na semana passada, e, no final do primeiro dia de exibição, três ativistas foram presos e o vice-primeiro-ministro teve de se envolver.

​Os filmes da franquia Jogos Vorazes se tornaram um símbolo de rebeldia e expressão política dos manifestantes da Tailândia contra a junta militar que comanda o país. O novo capítulo da série cinematográfica entrou em cartaz na semana passada, e, no final do primeiro dia de exibição, três ativistas foram presos e o vice-primeiro-ministro teve de se envolver.

Logo depois do golpe militar em 22 maio – o 12º no último século no país –, os manifestantes começaram a usar a saudação de três dedos dos Jogos Vorazes para mostrar sua oposição à tomada militar. Os personagens do filme também usam a saudação como um desafio contra o regime autoritário, mas, como os ativistas antigolpe na Tailândia podem dizer, a luta aqui é bem real.

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Depois de tomar o poder, o governo militar tailandês proibiu todos os protestos políticos e críticas ao regime.

Na quarta-feira, três estudantes foram presos quando tentavam organizar uma exibição em massa do mais recente filme da série, Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1, que tinha acabado de estrear nos cinemas do país.

Os estudantes tinham planejado originalmente assistir à estreia no cinema Scala, em Banguecoque, mas o estabelecimento tirou o filme de cartaz quando soube do plano deles. Dois ativistas apareceram no cinema na manhã de quinta-feira para explicar à imprensa que isso não os deteria: eles pretendiam assistir ao filme num local surpresa.

"Só queremos ver o filme", explicou Rattapon Supsopon, um estudante do quarto ano de Economia da Universidade Thammasat, para os repórteres e vários policiais de braços cruzados. "Não haverá saudação de três dedos, não haverá protestos, não haverá política", ele prometeu. Minutos depois, ele saiu escoltado do local por policiais à paisana, enfiado numa SUV prata e levado a uma delegacia.

Seu "camarada", como os estudantes se chamam, também foi preso logo depois de mostrar o livro 1984, de George Orwell – outro símbolo de resistência proibido pela junta. Em maio, o mesmo estudante foi preso por ler o romance distópico em público.

"Acho que estou no comando agora", afirmou Rick Rittiphan enquanto esperava pelos outros no local surpresa da exibição: um cinema em Siam Paragon, um dos shoppings mais luxuosos de Banguecoque. Ele e três outros estudantes compraram 200 ingressos para a sessão das 12h40, planejando distribuí-los para quem quisesse assistir ao filme, incluindo membros da imprensa. "Vai acontecer", garantia Rittiphan enquanto dividia os ingressos de papel, "vamos zombar deles com o Mockingjay", fazendo um trocadilho com o nome do filme em inglês.

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Quase como se essa fosse a deixa, uma multidão de repórteres e seguranças apareceu. A atenção deles logo se voltou à estudante do primeiro ano da Universidade de Banguecoque que fazia a saudação dos três dedos em frente a um gigantesco cartaz com o rosto de Jennifer Lawrence.

A polícia prendeu a garota, além de outros cinco estudantes no nordeste da Tailândia que fizeram a saudação no dia anterior. Enquanto isso, Rittiphan e dezenas de outros manifestantes conseguiram entrar no cinema e assistir ao filme como planejado. Com apenas três camaradas presos, o evento foi considerado um sucesso.

Quando o tumulto esfriou, Arnon Nampha, um advogado que representa regularmente membros da facção antigolpe, balançou a cabeça enquanto tomava um sorvete dentro do luxuoso cinema.

"Isso faz os militares parecerem idiotas, tentar impedir os estudantes de ver um filme", criticou. "Não faz sentido."

A prisão dos estudantes no cinema forçou o general Prawit Wongsuwna, vice-primeiro-ministro e membro do Conselho Nacional pela Paz e a Ordem (NCPO), a fazer uma declaração.

"Quem discorda do NCPO tem o direito de pensar assim. Mas não pode expressar isso estritamente", ele disse.

"Acredito que os protestos simbólicos dos estudantes, que acontecem em várias áreas no momento, não vão sair do controle, porque acredito que a maioria das pessoas entende o que o NCPO e o governo estão fazendo. O NCPO pede apenas um ano, o que não é muito tempo, para reformar o país e coordenar uma nova eleição. E, então, as coisas retornarão ao normal imediatamente."

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O diretor dos filmes, Francis Lawrence, não tinha comentado a situação na Tailândia até o começo da semana passada, quando disse aoThe Sidney Morning Herald que estava incomodado com as prisões.

"Quando as pessoas são presas por fazer algo que aparece no seu filme, é complicado", frisou Lawrence. "É emocionante quando alguma coisa que acontece num filme se torna um símbolo de liberdade ou protesto. Mas quando garotos começam a ser presos por causa disso… a emoção se perde, isso se torna algo perigoso e torna o sentimento muito mais complexo."

Siga a Sally no Twitter: @ssmairs

Todas as imagens por Sally Mairs.

Tradução: Marina Schnoor