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Sexo

A Fantástica Fábrica de Consolos

Uma visita à maior fábrica de produtos eróticos da Europa a fim de encarar de frente a maior ameaça ao pinto do homem desde que Abraão inventou a circuncisão.

Acontece com vários homens. Você conhece uma mulher linda e, por alguma razão, ela se sente atraída. Vocês se conhecem, se revezam enfiando a boca nos lugares mais esquisitos e definem os lados da cama. Até que um dia você percebe que sua mulher tem um objeto de afeto mais importante que você. Dildos, consolos, vibradores, masturbadores, próteses — eles existem em vários formatos com os mais diversos nomes e todos são igualmente ameaçadores para a auto-estima masculina. Então, numa bela manhã, seguimos para uma visita à maior fábrica de produtos eróticos da Europa a fim de encarar de frente a maior ameaça ao pinto do homem desde que Abraão inventou a circuncisão. A Fun Factory fica numa pequena extensão de terra perto do Rio Weser, em Bremen, no norte da Alemanha. O prédio foi construído num vale, ao lado de um pátio de demolição de carros e de um moinho. Parece um cenário pré-fabricado de Hollywood. Mas quando você chega perto e cola a cara no vidro, se depara com um lugar supercolorido, mais para Castelo Ra-Tim-Bum do que para a casa da luz vermelha. Dildos, assim como carros e chocolates, são fabricados em esteiras, e os operários que ficam moldando, massageando e limpando esses produtos não são aqueles tarados de mãos suadas que você deve estar imaginando. Eles são tão normais quanto qualquer mãe alemã, embora façam vista grossa para o conjuntinho sado-masoquista jogado no meio da sala quando aparecem para uma visita surpresa.

Veja a Sabina, por exemplo. Ela é funcionária da Fun Factory há cinco anos. Seu vibrador favorito é o Dolly Dolphin, um masturbador de bolso inspirado no Flipper. O Dolly não é tóxico (aê mamães!), e vem equipado com um motor potente que faz com que ele pule como se estivesse disputando a vaga de cantor para uma banda cover do Joy Division. Mas a produção desses objetos é uma lição de indiferença. “Trabalhamos como se fabricássemos lápis”, explica Sabina enquanto esfrega o último lote dos amigos masturbadores. E, numa fila, moças russas empacotam apaticamente o que um dia será o melhor amigo de uma mulher. É duro — mas não necessariamente sem graça — trabalhar fazendo pintos de mentira.

Fun Factory emprega o mesmo número de homens e mulheres. O Benni, de vinte e poucos anos, é o funcionário mais jovem dali. Quando ele sai para dar umas voltas em Bremen, as pessoas que encontra acham que o lugar é uma boate. Quando ele explica do que se trata, os novos amigos se empolgam. Mas bater cartão em indústria de dildos facilita as trepadas? “Pode começar um assunto—e para trepar com alguém a gente tem que conversar primeiro (pelo menos na Alemanha é assim). Então, vendo por esse lado, pode facilitar sim”, conclui Benni. Voltando à sua pilha de mini- pintos pretos emborrachados, ele confessa, meio sem graça, ter dois ou três dos objetos em seu arsenal. Gunther é uns vinte anos mais velho que Benni. Ele maneja o excesso de silicone com uma lâmina num novo molde como se estivesse escamando um peixe. “É só um trabalho”, admite. “Não tenho vergonha do que faço.” Não que alguém tivesse perguntado isso…

O Gunther trabalha ao lado de Fritzy, uma mulher mirradinha que fica verme-lha quando tem que falar em inglês, mas não se incomoda nem um pouco quando chega um carregamento de emborrachados do amor na sua esteira. Ela está trabalhando com um pacote de vibradores anais chamados Stubbys que tem uma alça de segurança na base para que não sejam sugados e desapareçam no buraco negro. Nos disseram que isso acontece tanto que tiveram que tomar essa precaução. “Vemos fotos na internet toda hora”, diz Fritzy, enquanto suas mãos enfiam motores dentro de cilindros escuros de 14 centímetros. “Operações cirúrgicas, vibradores cobertos de sangue… O músculo do ânus é muito forte. As pessoas não se dão conta.” São produzidos em torno de 400 substitutos de namorados por dia na Fun Factory, que vem fazendo brinquedos eróticos para o mercado internacional desde 1995. Na indústria, eles chamam o processo de “cozinhando”: silicone líquido é colocado no molde, aquecido e resfriado, e então removido e montado. Dirk, o CEO, fundou a empresa com sua ex-mulher. Hoje em dia ele está solteiro, mas parece tirar isso de letra. “A maioria das garotas que encontro já co-nhecem a fábrica antes mesmo de me conhecerem”, conta ele, usando calças jeans e camiseta. Só na Europa mesmo para um CEO se vestir assim. Para a nossa decepção, ele ainda comenta: “Por sinal, não há um clima de sexo aqui. Não temos os tabus habituais, fora isso, é um lugar bem normal de se trabalhar. Fomos bem diretos com o Dirk: Será que os produtos dele não estão fazendo com o homem o que a lavadora de louça fez com as luvas de cozinha? “Vibradores são amigos e não inimigos”, explica. Ele tem o mesmo tom de voz que traficantes usam quando oferecem a primeira dose de heroína para um moleque de dez anos. “Quando você vai na casa de uma mulher e encontra um consolo no banheiro, tem que lembrar que ela levou você até lá para transar. E se ela brinca sozinha, é porque se ama e isso é muito importante.” Ao todo, são uns 150 mil pintos artificiais por ano — e cada um dotado de uma incrível capacidade de encontrar o Ponto G. Não é de se surpreender que a Fun Factory divulgue sua fama de provocar orgasmos imediatos. A arma secreta de Dirk é seu grupo de controle de qualidade: um time de 20 indivíduos — 14 mulheres e seis homens entre 20 e 45 anos que passam seus dias em casa, só com a parte de cima do pijama e chinelos, testando os produtos da Fun Factory. Depois de um período de testes de quatro semanas, o grupo apresenta os resultados, e o time de design de Dirk decide produzir o produto ou colocá´-lo na gaveta de “tentar melhorar”. Fabricações anteriores que não vingaram incluem uma linha de consolos com formato de prédios famosos e outra inspirada em um crocodilo. A funcionalidade é, obviamente, o fator mais importante em um dildo, mas a personalidade vem logo em seguida. As pessoas desenvolvem afeto por seus brinquedos eróticos. A empresa frequentemente recebe cartas desesperadas de consumidores procurando produtos que saíram de linha. Dirk ainda explica que as preferências são regionais: belgas gostam de laranja e não vermelho; os franceses curtem lilás mas não tocam em nada amarelo; e os americanos, bom, os americanos nem ligam para cor — eles compram tudo que os braços alcançam. “O ponto todo de viver é reproduzir, e isso depende de sexualidade”, solta Dirk, enquanto nos acompanha até a porta depois de um longo dia de visita. O sol está se pondo devagarzinho sobre a cidade antiga de Bremen. “E lembre-se”, ele diz, “um brinquedo erótico não é um substituto do pênis, e sim um algo mais.” Na saída, essa frase é o que nos segura para não voltarmos lá e botarmos fogo em tudo. O ar descaradamente casual da Fun Factoy não está ajudando em nada nossas questões de insegurança. Eles percebem que ganharam e agora estão nos tratando com condescendência. Ainda assim, sabemos que os dildos e os vibradores não são os inimigos naturais do homem. São apenas mais uns daqueles amiguinhos irritantes da sua namorada: sempre presentes, sempre se sentindo no direito, e uma lembrança constante de que você é tão dispensável quanto o cara grudado no pinto que ela usava antes de usar o seu.