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Filhos de Deus

Empresariados pelos pais, em turnê o ano inteiro e cobrando R$900 por um sermão de duas horas, pregadores mirins protagonizam um grande mercado de fé.

Ana Carolina Lucena Dias. Fotos Ezequiel Dias

Ana Carolina Lucena Dias, 14 anos Vice: Qual foi o primeiro sinal de que você teria uma missão especial com Deus?
Ana:Quando tinha três anos, fiquei muito doente. Não me lembro exatamente o que aconteceu, mas minha mãe me contou que parei de respirar e que o meu coração parou de bater por alguns minutos. Então Deus mandou um anjo que me salvou. Renasci e comecei uma vida nova. Depois de algumas semanas, já fiz meu primeiro sermão para compartilhar esse milagre, porque queria ajudar as pessoas a também encontrar Deus. Sua relação com Deus é diferente da que os outros católicos têm?
É meio complicado. Na Bíblia existem pessoas que são “eleitas”. Por exemplo, o Sansão, o da Dalila, foi “eleito” por um profeta para ser a voz de Deus na Terra. Tenho certeza de que eu sou um desses também. Todo mundo reconhece de cara o Espírito Santo e vê que sou diferente das outras crianças porque sou médium e Deus fala através de mim. Então, de certa forma, estou conversando com Deus agora?
Não. Só quando eu prego é que você ouve a verdadeira voz Dele. Você tem algum treinamento religioso?
Meus pais não tiveram condição de me colocar na escola, cresci em uma favela. Estudei a Bíblia porque é o livro mais poderoso do mundo e você encontra resposta para tudo naquelas palavras. Além disso, meus pais me ensinaram a ser uma boa menina. E qual é o papel deles na sua vida?
Eles são mais do que um pai e uma mãe: são amigos, pastores e discípulos. Eles preenchem todo o vazio da vida terrena porque estão sempre presentes. Tenho certeza de que Deus os mandou para me ajudar. O que você faz quando não está pregando? Gosta de coisas que as outras crianças da sua idade também curtem?
A Bíblia diz que não preciso de folga, porque sirvo a Deus o tempo todo. Você vai descansar quando for abençoado—e essa benção é a da morte. Então vou continuar pregando enquanto estiver na Terra. Nunca sente falta dos seus amigos?
Ando com as crianças da minha idade na escola, mas enquanto tiver meus pais e Deus, não preciso de mais nada. Nada de namorado?
Não. Pertenço a Deus. E o que quer ser quando crescer?
Quero ser juíza federal, e espero ainda ter tempo para pregar a pala­vra de Deus nas ruas e favelas. Espero que Ele esteja sempre presente na minha vida, e de forma tão intensa quanto agora. 12!

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Matheus Moraes. Foto Francinete Moraes

Vice: Seu nascimento teve algum sinal religioso especial?
Matheus:Nasci no Rio de Janeiro, em 18 de março de 1998, depois de uma promessa. Deus mandou um profeta para a Terra, que contou para minha mãe que ela ia ficar grávida logo e que o bebê teria um dom muito especial, ele seria um filho de Deus. Ela deu atenção a essas palavras?
Ela não acreditou logo de cara, porque nunca tinha conseguido engravidar. Mas, nove meses depois da aparição do profeta, eu nasci. O que aconteceu na sequência?
Em novembro daquele ano, fiquei doente. Apareceu um vírus no meu pulmão—tive sérios problemas respiratórios e quase morri. Isso fez Deus se lembrar de seu filho perdido. Então, ele mandou o profeta de volta para me salvar. Com quantos anos você começou a pregar?
Oficialmente, em 2003. Meus pais me contaram que eu murmurava frases da Bíblia quando era bebê—mesmo antes de saber ler. Passei a maior parte da minha infância na igreja e era muito ligado ao pastor. Um dia ele me perguntou se eu gostaria de fazer sermões, então comecei a trilhar esse caminho. Em 2006, fiz mais ou menos 250 sermões no Brasil inteiro. Já aconteceu algum milagre, ou algo parecido, durante esses sermões?
Quando prego, as pessoas encontram Deus—e uma fé muito forte Nele pode mudar completamente uma vida. Eu me lembro de uma mulher que veio até mim e que quase não conseguia se movimentar. Orei com ela e fiz alguns sermões. Depois de sete dias ela encontrou iluminação e paz. Você tem muitos fãs?
Tento viajar para o máximo de cidades possível. Toda vez que volto em alguma delas, sempre tem gente com faixas e pôsteres. Também me pedem autógrafo e me dão presentes. A maioria compra os meus DVDs, e isso é muito bom porque ganho um dinheiro e dou para os meus pais. Não preciso me preocupar com comida nem roupa. E também uso o que ganho e vou nas favelas levar pão e água para todos. Parece que você se sente realmente destinado a cumprir um chamado superior.
Amo o que faço, e a melhor coisa é ver as massas tocadas pela pala­vra de Deus. Meu objetivo na vida é converter o maior número de pessoas possível. Não quero ter medo de todas essas coisas ruins que estão acontecendo no mundo. 12!

Alex Silva. Foto Cortesia da família Silva

Alex Silva, 15 anos Vice: Conta para a gente a história do seu nascimento.
Alex:Quando minha mãe ficou grávida, um profeta foi para ela e disse que eu ia ser um instrumento nas mãos de Deus. E você já está nisso há algum tempo?
Venho pregando desde os nove. Como é a sua preparação para um sermão?
Todo pastor tem seu ritual. A primeira coisa, para mim, é não fazer nada que me estresse. A segunda é ler a passagem específica da Bíblia que quero discutir. Depois consulto livros religiosos em geral, para saber mais do assunto e pregar melhor. E o quarto passo é sempre pensar muito sobre tudo que leio. Além disso, tento descansar bem antes de um sermão—é o momento em que oro e jejuo para me encontrar com o Espírito Santo. Existe algum programa especial de treinamento para pastores infantis no Brasil?
Nunca tive oportunidade de frequentar aulas de religião. Minha retórica, minhas pregações e minha criatividade vêm todas de Deus. Tenho minha própria motivação, o que é mais importante do que uma aula. Mas a questão é que todos começam do mesmo ponto. Quando é que os milagres entram em jogo?
Você tem que estar ungido para realizar milagres e curas e trazer pessoas de volta à vida, precisa converter essas almas ao Reino de Deus. Qual foi o momento mais importante da sua vida até agora?
Vi muitos milagres de outras pessoas porque elas encontraram Deus. Cresci em um ambiente de muita pobreza e minha vida mudou completamente. Deus veio até mim e me deu esse dom de espalhar sua palavra. Fiquei muito famoso em todo o Brasil e até em outros países. Toda vez que vejo alguém chorando por causa dos meus sermões, meu coração fica feliz. E os seus pais? Qual o papel deles?