Fomos ao Maior Festival do Mundo em Tributo a Elvis

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Fomos ao Maior Festival do Mundo em Tributo a Elvis

Sósias do Rei dirigem carros, compram legumes e se alternam na maratona de clones ruins.

Era o 20º aniversário do Collingwood Elvis Festival, o maior evento de todos os tempos dedicado ao filho pródigo de Memphis. Cerca de 100 covers do Rei do Rock vieram de diversas partes do mundo não exatamente a Memphis, mas à Província de Ontario, no centro-leste do Canadá.

“Estamos aqui para manter sua memória viva”, dizem. Ou então: “Se Elvis estivesse aqui hoje, ele estaria maravilhado”. Talvez estejam certos, mas isso não importa. É só um grupo de pessoas, é verão, faz sol e a rua principal de uma cidade de 20 mil habitantes está fechada. E, ah!, também tem cachorro-quente.

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Chego logo depois das 10h.

A primeira coisa que vejo é um Dairy Queen onde se lia numa grande placa branca: “Bem-vindos todos os Elvis!”.

“Eu não sou o Elvis”, um homem me diz. “Não o serei e ninguém o será”. Já faz 16 anos que Bruno Nesci presta homenagem ao Rei do Rock, cantando e dançando em lugares tão distantes quanto a China, fazendo algo que ele sabe que jamais pagará suas contas. “Faço isso por amor a Elvis”, explica. Ali perto, um sósia um pouco mais baixo, da era dos macacões, completa: “Trata-se de se sentir como ele, e não de pensar ser ele”.

“As pessoas precisam ter essa experiência”, afirma um homem da Pensilvânia, que nem fingia ser o falecido astro. “Fui a Graceland nove vezes e nasci a 80 quilômetros do local de sua última apresentação.”

Durante 10 horas, o palco principal pertenceu a Elvis de todos os tipos – mexicanos, australianos, alemães, canadenses –, um (ou uma) a cada vez. E ao fim de cada canção, uma única rosa, vermelha, talvez não tão sincera, era oferecida. Hank Poole, que se vestia como na era Las Vegas, não dá um único sorriso. “Quando estou no palco, cantando as músicas de Elvis, faço-o do fundo da minha alma”, frisa. “Estou 100% disponível para fotografias e mal posso esperar para conhecê-los”. Ele tem 8 anos de idade.

Além do palco se estende um oceano de pessoas idosas, tomando seis quarteirões da pequena cidade. Entre elas, há filmadoras, chapéus, aplausos educados e chapéus confortáveis. Todos se sentam em suas cadeiras dobráveis, trazidas de casa e deixadas ali para marcar seus lugares de quinta-feira a domingo. Entre o palco e as primeiras cadeiras há uma área grande o bastante para se dançar um pouco, seguida por várias fileiras de pessoas em cadeiras de rodas que se divertiam.

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No meio damultidão, na calçada, um homem se locomovia lentamente. Confiante e radiante, ele posava para fotos. “Quem é você?”, perguntei, já estranhamente fascinado. “Campeão passado, campeão de várias edições”, contou. E é verdade. Categoria Amadora, Elvis nos Primeiros Anos de Carreira. Ele tem mais ou menos 65 anos, está com tudo em cima e tem dentes assustadoramente maravilhosos.

“Eu poderia dizer o mesmo blablablá que todo mundo”, destaca. “Que Elvis era o Rei, que sua música nunca vai morrer e tudo aquilo. Mas vou lhe contar por que eu faço isso: pelas mulheres.”

“Que tipo de mulher você consegue?”

“É bem comum que sejam muito mais novas que eu – e eu não corro atrás de mulheres. Para mim, se vestir como Elvis, fingir ser Elvis, subir no palco de Collingwood e cantar uma música do Elvis parece, mais do que qualquer coisa, correr atrás de mulheres, especialmente se é assim que você consegue ficar com elas - mas eu guardei isso para mim mesmo. Mais uma coisinha: não havia mulheres mais novas.”

“Como você conseguia mulheres antes disso?”,perguntei. A resposta foi algo sobre “equipamento de DJ” e “gerente de banco”, mas era difícil entender com todos aqueles sorrisos e falatório. O lugar estava lotado.

“São certas frequências sonoras. Algumas mulheres são sensíveis a essas frequências. O Elvis, a voz dele… uma vez eu fiz uma mulher ter um orgasmo com uma certa frequênciasonora”, explicou, mostrando de onde os sons do “eeee” e do “oooo” vinham e como ele aprendeu a imitar a voz do cantor morto em 1977 com uma simples gravação em que ele falava. Destaca: “nunca com ele cantando”. Mais uma vez, ele também deixou claro que ele não só escreviatodas suas próprias piadas, mas também seu próprio material.

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Ele parte com uma piscada de olho e provavelmente com coisas melhores para fazer. Sinto que é a hora de ir até o mercado para comprar comida e encontrar um pouco de normalidade. Lá dentro, me deparo com dois Elvis caminhando juntos pela seção de legumes. Paro três mulheres da idade de minha mãe e pergunto-lhes: “Isso é sexy? Vocês dormiriam com algum desses caras?”. Elas riem da pergunta, mas como podem negá-lo? A voz, aqueles quadris, os lábios, o rock n’ roll, o Rei. Contudo, elas sentem o que estão sentindo porque estavam lá, viveram isso. Para todos os outros, é difícil saber o que está sendo mantido vivo.

A segurança no evento não é rígida, mas um policial me dá um olhar interrogativo. “É bem comportado”, diz. Um homem que varria o chão, entretanto, se lembra de uma vez em que um Elvis se meteu numa briga com outros dois Elvis. "Ele passou a noite na delegacia até que se acalmasse", fala, casualmente. "No dia seguinte, ele saiu para o seu show".O homem veste luvas de trabalho, uniforme laranja e óculos e costeletas de Elvis.

Um pouco depois, tudo para quando Priscilla Presley sobe no palco: a admiração e a expectativa são inevitáveis. Aparentemente, esta é sua primeira vez em festivais em tributo a Elvis. Um vereador me conta que ela está desconfortável ao ver os Elvis e acaba permanecendo por uns cinco minutos. Tímida, de fala suave e adorável nos seus quase 70 anos, ela conta uma história sobre como Elvis, quando soldado em missão na Alemanha, mostrou-lhe um álbum com fotos de seus fãs que eles lhe haviam enviado, e como ele sentia que seus admiradores eram os melhores do mundo. Ela então menciona o livro sobre o ex-marido que está vendendo, agradece, se despede e vai embora, escoltada por dois guardas, em um grande Chevy Suburban preto. Posteriormente, Priscilla iria a uma recepção de US$ 100 organizada pelo prefeito.

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Além da festa gratuita nas ruas, pequenos shows particulares sobre o mesmo tema acontecem por toda a cidade. No The Olde Town Terrace Restaurant, a poucos metros do palco principal, o pacote com jantar, show e algo chamado “feel” sai por US$ 38. Lá dentro, um Elvis da fase havaiana canta na penumbra em algo que, na verdade, parece um agradável karaokê, enquanto todos os outros estão de cabeça baixa, prestando atenção às suas comidas.

No fim do longo dia, fora de qualquer área oficial, um Elvis do começo dos anos 70 parece andar em direção a seu carro, com o penteado perfeito, macacão e uma mochila nas mãos. A cada dois passos é parado para um abraço, um autógrafo (eles assinam seus próprios nomes, e não o do ídolo) ou uma foto e aparentemente fica muito feliz com isso. Ele é paciente, gentil, autêntico e sincero.

“Isso nos traz lembranças”, destaca uma mulher. “Pensamos ter 16 anos de novo. É muito sexual. Vou para casa dançar.”

“Minha avó quis vir”, garante um homem de uns 30 anos. “Não há muito o que fazer em Midland.”

E aí começa a fazer sentido.

“Queria que houvesse um Neil Young.”

@davidheti

Tradução: Flavio Taam

Sam Catalfamo

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