Fotografar a Corrida Presidencial É um Trampo Selvagem

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Fotografar a Corrida Presidencial É um Trampo Selvagem

Um papo com os fotógrafos da VICE sobre cotoveladas, xingamentos e empurrões que rolaram nas entrevistas coletivas de Dilma Rousseff, Aécio Neves e Marina Silva nas Eleições 2014.

Algumas pessoas dizem que gostamos de ver nossos fotógrafos em apuros. Só porque, às vezes, eles saem para retratar cadáveres sendo maquiados e embalsamados; às vezes, respiram gás lacrimogêneo, correm da polícia, são agredidos ou usados como isca em matérias de abdução alienígena. Mas poucos trampos foram tão surpreendentemente selvagens nas últimas semanas quanto fotografar as entrevistas coletivas dos candidatos a presidente nas eleições de 2014.

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Foto por Felipe Larozza. 

Entre cotoveladas, palavrões, chutes e empurrões, eles tentaram se ajeitar para conseguir o melhor ângulo dos presidenciáveis e descobriram que a liturgia do momento só dura até o primeiro clique. Daí em diante, é cada um por si.

"Coletiva de candidato é onde tudo de ruim se junta", resumiu o fotógrafo da VICE Felipe Larozza. "Antes de começar, é todo mundo amigão. Depois, vale tudo: cotovelada, pisão no pé, cutucão nas costas e, às vezes, até se fazer de louco mesmo e entrar na frente dos câmeras, mesmo sabendo que vou acabar sendo xingado e chutado, que vou tomar cascudo."

"É uma guerra pelo melhor ângulo. Os candidatos entram e saem de ação muito rápido e temos de focar, fotometrar e clicar em segundos. Isso se assemelha à adrenalina de uma corrida mesmo, seja ela eleitoral ou noticialesca", disse nossa fotógrafa Helena Wolfenson.

Foto por Felipe Larozza. 

Larozza: "Os cinegrafistas, iluminadores e fotógrafos escalados para essas coberturas são normalmente grandes e fortes. Eu sou magrelo. Nesse embate de peso-pena contra peso-pesado, vale quem se esquiva melhor ou quem tem o melhor ponto para posicionar seu monstrinho e dar um zoom na cara do candidato.

No início, sempre tem um cara organizado, que põe ordem na casa, divide espaços para fotógrafos, câmeras de TV e por aí vai. Quando a coisa começa mesmo e o candidato chega, adivinha? Todo mundo sai do lugar, corre pra frente, pro lado, pra todo canto. A organização cai por terra e salva-se o mais rápido ou o mais forte.

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Na última coletiva, do Aécio, ele posou na cabeceira de uma mesa enorme de madeira ladeada por vários políticos. Coisa linda, parecia cena de O Poderoso Chefão; só que essa cena estava atrás de uma porta enorme. Os produtores de imagem estavam de um lado da porta e a cena, do outro; de repente, abrem-se as portas da esperança; aí vem o desespero: fotometrar, enquadrar, focar e disparar a câmera, é tudo rápido pra cacete. Senti do meu lado uma movimentação fora do normal. Uma fotógrafa começou a dar cotoveladas em outro cara que estava logo atrás. Um princípio de treta, a cena rolando; uns apartando, outros nem aí, fotografando. Eu era um deles, e a cena ali, montadinha."

Foto por Felipe Larozza. 

Helena: "Minha primeira coletiva de eleições foi a do Aécio. Cheguei com uma mochila relativamente pequena perto das grandes câmeras e luzes de televisão. Quando o candidato deixava a sala, uns caras do CQC tentaram entrevistá-lo. Vários seguranças barraram a passagem, começou um empurra-empurra e uma gritaria enquanto os políticos desciam as escadas protegidos por homens fortes.

Na coletiva da Marina, em São Bernardo do Campo, rolou cotovelada e fiquei um pouco encurralada num cantinho. Tinha um cara, em especial, que me intimidava - era um homem grande, barbudo, muito mais velho de guerra das corridas presidenciáveis, casca grossa o bastante para saber que um empurrãozinho ou pisada de pé não mata ninguém. Saí de lá com a sensação de que tanto faz 10, 20 ou 30 fotógrafos: no dia seguinte, seriam as mesmas três fotos circulando em todos os veículos. Só um milagre divino para conseguirmos fazer diferente nesses ambientes tão tensos e controlados.

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Foto por Helena Wolfenson. 

Na coletiva da Dilma, os fotógrafos estavam com escadinhas, tripés e flashs, todos procurando um ângulo ideal. Saquei que havia um enquadramento bacana usando o reflexo de um espelho. Tenho a sorte de não precisar fazer a mesma foto dos jornais, de ter alguma liberdade nessas horas, já que tô na VICE. Subi em uma escadinha que estava sobrando e mirei o espelho e os visores de câmeras de meus colegas. Resolvi brincar com a imagem. Mas logo percebi que meu ângulo já não era mais tão único e criativo assim: outros miravam o espelho também. Mas o que mais me espantou nessa coletiva foi a facilidade de acesso e proximidade com a presidente: nenhuma vistoria, cadastro ou checagem de bolsas, isso porque tinha sido no mesmo dia em que um homem invadiu um hotel em Brasília e ameaçou explodi-lo.

Foto Helena Wolfenson. 

Minha experiência mais recente foi com a Dilma no Tuca, em São Paulo. Não era mais uma coletiva, e o tamanho do evento era gigante perto dos outros citados acima. Fui expulsa aos berros por três seguranças federais enormes. Quando finalmente consegui entrar no curral reservado à imprensa, mal conseguia ver o teatro: pouco espaço, muito calor, hostilidade e cansaço. Cavei meu buraquinho, olharam feio, fiz poucas fotos de dentro e circulei por ali. As condições são mesmo precárias. Somos colocados no chão, amontoados, e quem tem o lugar mais alto, mais perto do céu, é que se sai melhor. Cruzes!"

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Felipe Larozza

Felipe Larozza

Felipe Larozza

Helena Wolfenson

Helena Wolfenson

Helena Wolfenson

Helena Wolfenson

Helena Wolfenson

Helena Wolfenson

Helena Wolfenson

Helena Wolfenson

Helena Wolfenson

Helena Wolfenson

Helena Wolfenson

Helena Wolfenson

Helena Wolfenson

Helena Wolfenson