A fotógrafa que documentou por 30 anos a vida de 12 casais

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A fotógrafa que documentou por 30 anos a vida de 12 casais

A fotógrafa suiça Barbara Davatz fez ao longo de três décadas retratos de casais que não seguiam a moda mainstream.

Andi e Beni, 1982.

Matéria original da VICE Alpes.

Em 1982, a fotógrafa de Zurique Barbara Davatz fotografou 12 casais. Seis (1988), 13 (1997) e 32 anos depois (2014) ela fez a mesma coisa, com as mesmas pessoas — só que a cada reencontro, os personagens das fotos estavam em novos relacionamentos. O resultado é a série As Time Goes By, um estudo de longo prazo de relacionamentos interpessoais, idade e também estilo.

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Neste ano, a série ficou em exposição no Fotostiftung Winterthur em Zurique, então aproveitei a oportunidade e conversei com Davatz sobre esse trabalho de uma vida inteira.

VICE: Como você teve a ideia do projeto?
Barbara Davatz: Naquela época, Zurique estava fervendo. Os jovens estavam lutando por seu espaço, o que resultou nas revoltas de Zurique. Não participei ativamente do movimento porque estava muito ocupada com meu trabalho, mas sentia muita simpatia pela causa e pelas pessoas envolvidas. Eu também gostava da criatividade delas espalhada pelas fachadas, nos cartazes, no material impresso, nos jornais e slogans.

Esse trabalho não é um resultado direto do que estava acontecendo na Suíça naquela época, mas está ligado indiretamente. No começo, eu queria focar no statement visual das pessoas — você pode usar a palavra "styling", apesar de eu não gostar muito. O jeito como nos apresentamos, nossas roupas, corte de cabelo e acessórios dizem muito, sobre nós e sobre como vemos o mundo. Quando as pessoas formam um casal, essa declaração se torna duas vezes mais forte. Era isso que me fascinava.

Como você conheceu os personagens?
Tudo começou com Kurt e Nicola. Eles são amigos meus. Eu achava o look deles fascinante. Os dois tinham cabelo curto loiro e quase sempre estavam usando preto da cabeça aos pés. Eles mesmos faziam suas roupas ou compravam em brechós — tudo incrível. Eles foram minha inspiração para fotografar pessoas que comunicavam sua visão de mundo — seu lifestyle — através de sua aparência como um casal. Então comecei a procurar mais casais que faziam o mesmo.

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Como você os escolheu?
O principal critério era que eles precisavam ter um visual incomum e interessante — tanto em termos de rosto como de roupas. Eles não deviam seguir a moda mainstream, já que tinham escolhido passar uma "mensagem" que se fortalecia através da duplicação. Por exemplo, Beni e Andi, dois "Bewegler" [as pessoas que participaram das revoltas de Zurique]. As roupas rasgadas dele eram uma declaração consciente contra o "establishment". Essa era a mensagem que eles passavam quando andavam pelas ruas.

Beni, Charlotte, Lou-Salomé, Natalie, 2014.

E como você começou a fotografar Beni e Andi?
Estávamos numa longa fila num mercado em Seefeld. Um deles estava usando um casaco de tecido, o outro uma jaqueta de couro com as costuras se soltando, e calças rasgadas. Lembro que a calça verde de Beni estava remendada com lã vermelha. Fiquei observando eles por um tempo e pensei: "Esses dois seriam ótimos". Então juntei coragem e disse: "Ei, vocês! Sou uma fotógrafa trabalhando numa série de retratos — vocês considerariam ser fotografados?"

Primeiro eles foram bem céticos — afinal de contas, sou vinte anos mais velha que eles. Mas eles me convidaram para ir ao apartamento deles dois dias depois e fizemos uma espécie de entrevista. Tomamos café e eu mostrei meu portfólio. A química deu certo, e logo depois tirei um retrato maravilhoso deles. Essa é uma das minhas fotos favoritas até hoje.

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Sempre foi a ideia fotografar as pessoas por um período tão longo de tempo?
Não necessariamente. Eu era uma fotógrafa comercial e estava sempre muito ocupada — minha arte era mais uma coisa paralela. Um dia, Nikolaus Wyss e Walter Keller vieram até o meu estúdio procurar fotos para publicar na revista deles, Der Alltag.

Walter viu os retratos e disse: "Se você quiser expandir essa série, com certeza publicaríamos". Eu já tinha pensado em continuar isso antes, mas meu trabalho me deixava com pouco tempo livre. O interesse que os dois mostraram e a ideia de que as fotos não acabariam apenas no meu arquivo foi uma grande motivação. Comecei a trabalhar nisso imediatamente e 15 novas fotos surgiram.

O aspecto voyeurista do projeto aumentou com o tempo?
Sim, sem dúvida existe um elemento voyeurista no projeto. É uma série de retratos conceituais; as pessoas são elas mesmas e olham para a câmera. E claro, o processo de envelhecimento é tão evidente que é difícil não sentir isso como uma série íntima.

Como seu relacionamento com os personagens mudou com o tempo?
Com o tempo, fiquei conhecendo muito sobre a vida dos meus temas. Antes de nos sentarmos para uma reunião, tínhamos uma longa conversa por telefone para saber como andavam as coisas. E toda vez eu pensava: "Uau, como a vida é engraçada. Tudo isso aconteceu desde a última vez que falei com essa pessoa".

Meus personagens se tornaram um tipo de família para mim, mas provavelmente eles significam mais para mim do que significo para eles. Com os anos, toda vez que eu tinha notícia deles, toda vez que via algum deles no jornal — quando alguém fazia um filme, uma exposição ou ganhava um prêmio — eu guardava as matérias, os convites, os ingressos ou as críticas. Tenho um arquivo do que essas pessoas fizeram e experimentaram, como uma mãe orgulhosa. De muitas maneiras, essa série não é sobre as vezes que essas pessoas acabaram na frente das minhas lentes, mas sobre o tempo entre as fotos.

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Tradução do inglês por Marina Schnoor.

Veja mais fotos abaixo.

Nicola e Kurt, 1982

Kurt e Nicola, 1988

Barbara e Nicola, 1997

Anna e Kurt, 1997

Barbara e Pius, 2014

Nicola e Angela, 2014

Anna e Beat, 2014

Elias e Kurt, 2014

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