Fotos dos adolescentes posers de Madri

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Fotos dos adolescentes posers de Madri

A juventude suburbana de Madri se reúne sempre para discutir sobre marcas de roupas, ostentar tênis caríssimos e ser, acima de tudo, agirem como adolescentes com hormônios em ebulição.

Todas as fotos cortesia do autor.

Algumas semanas atrás, eu estava em Madri a negócios e acabei ficando num hotel na Plaza de la Ópera. Uma coisa que chamou minha atenção foi que toda noite, por volta das 7 horas, uma horda de moleques em roupas de marca invadia a praça.

Eu queria saber o que era aquilo; então, decidi sentar ao lado de um dos grupinhos, fingindo que estava esperando alguém, e ouvir a conversa deles. Parte do papo deles era bem nostálgico, outras partes eram mais estressantes: em quem eles iam bater no sábado? Quem ia comprar bebida? Será que o Ali ainda tinha algum Nike falso pra vender? Meus rolês de infância pareceram bem tranquilos em comparação.

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Quanto mais estudava os adolescentes, mais curioso eu ficava. Por que eles ficavam nessa praça em particular? Onde eles tinham conseguido aquelas roupas chiques? Eles eram da vizinhança? Abordei uma garota que tinha filado um cigarro meu cinco minutos antes para perguntar. Ela tinha uns 16 anos e estava usando tênis Jordan, short rasgado, um top agarrado e uns quatro quilos de maquiagem. Quando a abordei, ela deu uma tragada no cigarro e começou a gritar que uma tal de Jenny era vadia porque tinha tentado roubar o namorado dela.

Perguntei qual era a atração dessa praça em particular, e ela me explicou que eles tinham começado a se reunir ali no começo do verão para "fazer pose". Seja lá o que isso for. Agradeci a informação e voltei ao hotel pensando quem eu abordaria no dia seguinte. Eu tinha que saber mais sobre isso.

Voltei à praça no dia seguinte com minha câmera embaixo do braço. Para minha surpresa, o lugar estava mais uma vez lotado de adolescentes. Sentei num banco e comecei a tentar mapear os diferentes grupos e imaginar quem estava falando com quem. As panelinhas eram bem separadas, mas parecia ter um cara conectando todo mundo. Um tipo de chefe. Andei até ele e comecei a fazer perguntas. Não foi muito difícil ganhar a confiança dele – só tive de fingir que sabia tudo sobre o tênis que ele estava usando.

Ele começou explicando que a praça era um ponto de encontro regular para quase 100 adolescentes. Enquanto ele me contava isso, as pessoas nos interrompiam constantemente para apertar a mão dele. Era como uma cena clássica de filme de máfia, só que com moleques. Segundo ele, a maioria dos adolescentes na praça não morava no centro de Madri: eles vinham de bairros suburbanos como Orcasitas, Villaverde, Entrevías e San Blas.

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Ele contou que seu nome era Ateniko e que ele tinha 16 anos. O look dele era mesmo impressionante: um monte de piercings, calça jeans ridiculamente apertada, várias tatoos, o corte de cabelo mais modernoso que já vi e acessórios falsificados da cabeça aos pés.

E, pelo que ele me falou, a polícia não deixa a rapeize em paz também. O que provavelmente tem algo a ver com o fato de que os moleques na praça – mesmo não sendo da região – não curtem forasteiros e acabam se metendo em várias tretas. Eles até tinham uma briga marcada para o dia seguinte, embora Ateniko não estivesse certo de que os outros caras iam mesmo aparecer.

Perguntei por que eles se reuniam numa área tão movimentada. Ele respondeu num segundo: "Posar". Eles usavam a praça para mostrar seus passos de dança e as roupas: bonés Gucci, jeans Diesel, camisetas Chanel, mochilas Louis Vitton, tênis Nike. Tudo falso, claro, mas, ainda assim, ficar na Plaza de la Ópera era uma questão de se mostrar. Ah, e "roubar" o wi-fi do McDonald's.

Ateniko fez jus ao seu papel de líder, principalmente quando alguns de seus capangas curiosos vieram perguntar o que eu estava fazendo ali. Tirei vantagem do meu público recém-descoberto e comecei a fazer mais perguntas. Até a mina do cigarro chegou junto. De repente, me vi cercado de adolescentes querendo contar suas histórias.

Todos curtiam trap, hip-hop e a banda espanhola Los Pobres (PXXR GVNG). E todos concordavam numa coisa: eles queriam ficar ricos sem ter de trabalhar de verdade. "Como as celebridades da TV", um deles insistiu. Ateniko queria ser produtor musical, porém pretendia ser autodidata nisso.

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Por último, todo mundo parecia muito orgulhoso de conhecer "a lei das ruas". Eles falaram abertamente sobre fazer pose, maconha, facas e seus amigos presos.

Assim que peguei minha câmera, todos começaram a se ajeitar. No final das contas, todos ali eram posers, embora só três garotos fossem honestos sobre isso. Um pouco depois, duas vans da polícia apareceram e todo mundo deu no pé. Eu ainda tinha um monte de perguntas para os posers, mas acho que vou ter de deixar para outro dia.

Veja mais fotos abaixo.

Tradução do inglês por Marina Schnoor.

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