A era disco numa Nova York dividida nos anos 1980

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A era disco numa Nova York dividida nos anos 1980

Meryl Meisler mostra duas cidades diferentes em fotos da vida no Studio 54 e num bairro periférico de NY.

Esta matéria foi originalmente publicada na edição impressa de outubro da VICE US.

A Nova York dos anos 70 era uma época e um lugar selvagens onde passei meus 20 e poucos anos. Eu era apaixonada pela cidade e levava minha câmera de tamanho médio sempre comigo. Em 1977, conheci Judi Jupiter, uma artista ultrajante, e propus uma sessão de fotos para uma revista na qual eu era freelancer. Ela aceitou, e começamos a fotografar a cena dos clubes que estava explodindo ao nosso redor. Quando o Studio 54 foi inaugurado em abril, havia sempre uma multidão querendo entrar. Para nos destacarmos, criávamos figurinos extravagantes para a Judith, um para cada noite.

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Quando estávamos nos aprontando na minha casa uma noite — BUM! As luzes se apagaram no meu prédio… e em todos os prédios em volta. O metrô não estava funcionando, os semáforos estavam apagados, mas nada ia nos impedir. Pegamos nossas bicicletas e pedalamos pelas ruas sombrias, faróis nos cegando vindos de todas as direções quando fizemos uma pausa em Columbus Circle. No Studio 54, algumas pessoas estavam esperando, mas a porta estava trancada. Batemos, mas ninguém respondeu. Esperamos mais um pouco e batemos de novo. Mas a coisa era real, um blackout na cidade inteira. O Studio 54 não abriu aquela noite, ainda que tenhamos voltado lá alguns dias depois — e foi como se nada tivesse acontecido.

Enquanto as pessoas dançavam nos clubes de Manhattan, o rádio dava notícias sobre um lugar do outro lado do East River de que eu nunca tinha ouvido falar — Bushwick, na região do Brooklyn. O lugar estava em chamas, aparentemente, com saques e tumultos acontecendo na escuridão. As fotos nos jornais dos saques e incêndios durante o blackout nunca saíram da minha cabeça.

Então, alguns anos depois, em dezembro de 1981, quando me tornei professora de arte na Escola Intermediária 291 de Bushwick, essas imagens voltaram à minha mente. No meu primeiro dia, saindo do metrô vindo de Upper West Side, fiquei imaginando se a professora anterior não tinha sido assassinada.

O bairro estava cheio de tijolos quebrados, concreto se desintegrando e tábuas caindo — vestígios gelados depois que as cinzas dos incêndios foram sopradas pelo vento. A E.I. 291 era uma das poucas estruturas funcionando no quarteirão e parecia um híbrido: meio escola, meio abrigo, meio prisão. Foi desconcertante: garotos tentando aprender e se divertir no meio do caos; professores incríveis tentando fornecer uma estrutura e propósito num bairro despedaçado.

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Dei aula em Bushwick de 1981 a 1994. O caminho entre a escola e o metrô era uma aventura diária. Não tinha como saber quem estaria por perto ou o que poderia surgir de um terreno baldio.

Comecei a carregar uma câmera de plástico barata. Minha rota era rítmica e limitada: de manhã, eu andava da estação Myrtle-Wyckoff até a Palmetto Street. Depois da escola, eu tentava um caminho diferente até o metrô, descobrindo que cada rua tinha um ambiente distinto e histórias para contar.

Tradução: Marina Schnoor

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