Fui a um desfile de moda islâmica em SP

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Fui a um desfile de moda islâmica em SP

Entre selfies, hijabs e um calor de 35ºC, mulheres muçulmanas desfilavam sobre um tapete vermelho.

No domingo, dia 12, o termômetro de rua gritava 35ºC em São Paulo quando cheguei ao Centro Islâmico Brasileiro, no bairro do Ipiranga, onde aconteceria o “2º Islamic Fashion Brasil”, um desfile de moda islâmica feminina.

Faça um frio desgraçento ou um calor africano, em qualquer parte do mundo a mulher muçulmana deve esconder braços, pernas e cabelo, evitando mostrar qualquer vestígio de sensualidade. E é curioso ver essas mulheres de perto: elas são tão divertidas e modernas que desconstroem totalmente a imagem de “mulher oprimida” que temos como referência. Boa parte das que estavam ali para ver o desfile abusavam de salto alto, maquiagem, unhas feitas, anéis, estampas maravilhosas e brilho. E todas, mesmo cercadas por uma penca de filhos pequenos, estavam atentas aos seus smartphones, trocando Whatsapp, fazendo vídeos e tirando selfies.

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Maridos, mães, irmãs e muitas crianças aguardam sentados em cadeiras de plástico. Alguém dá o play num batidão árabe, e o desfile começa. Cinco mulheres andam pela passarela improvisada no salão, e percebo que cada uma delas tem idade e biotipo diferentes – nada parecido com os corpos cadavéricos que vemos nas semanas de moda. Calor? Nenhuma das islâmicas ali parece transpirar. Eu, enquanto isso, expurgo toda minha alma para fora do corpo em gotículas geladas de suor, mesmo vestindo regata e saia.

Os primeiros looks, diz a apresentadora, são apropriados para ir à mesquita. As abayas, uma espécie de vestido longo que não gruda no corpo, aparecem em cores mais sóbrias, como preto e roxo, e trazem letras árabes em dourado. “Nem tudo que a mídia fala, que a mulher muçulmana não estuda, não trabalha, não tem amigos, é verdade. Precisamos quebrar esses paradigmas entre muçulmanos e não muçulmanos”, a anfitriã profere ao microfone.

As próximas peças mostram como é possível adaptar um armário feminino não muçulmano utilizando calça social e blusas segunda-pele por baixo de uma eventual transparência. “O hijab preto é um coringa”, afirma a apresentadora, referindo-se ao véu. Muitas mulheres que estão ali estão “revertidas” para o islamismo, como preferem dizer, há pouco tempo. O que implica numa bela troca de itens no guarda-roupa, jogando fora peças curtas e justas e prontamente aderindo à manga longa e às calças ou saias que vão até o pé.

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A última parte do desfile traz looks para a noite, como festas de casamento e formaturas. “Gostamos muito de brilho. Só pra divar.” Quem tá gostando muito sou eu. Essa mina sabe apresentar um desfile.

Todas as roupas exibidas pertencem à marca Nubia Fashion, comandada por Alexandra, brasileira revertida há 17 anos. As peças, que variam entre R$ 20 e R$ 300, são todas importadas.

Giovanna Alves tem 14 anos e era a única não muçulmana a desfilar. Sua tia, adepta da religião, fez o convite e ela aceitou. Com o buço levemente suado, a repórter que aqui escreve perguntou se a jovem não estava com calor, e a resposta foi um simpático e sonoro “não”.

Revertida há dois anos, Ayesha Khadija iniciou-se no islamismo por vontade própria depois de conhecer a religião através de uma amiga. Ela me explica que muitas empresas não contratam mulheres muçulmanas por preconceito, já que elas ficam o tempo todo de véu.

Com o fim do desfile, os convidados são direcionados a uma área externa, onde esfirras e frutas são servidas à vontade. Para acompanhar a comilança, temos Coca-cola gelada. Enquanto isso, roupas, lenços, acessórios, livros e itens de decoração são vendidos em uma pequena feirinha.

Antes de partir, claro, faço uma foto com algumas das meninas.

Glória Perez, autora da novela "O Clone", famosa por disseminar a religião islâmica por aqui, ficaria felizona se soubesse que a apresentação foi encerrada com a apoteótica frase “Gostamos muito de ouro. Inshalá”.

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