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Música

Fui no Centro de SP Comprar Vinis e Coletâneas de Funk com o FaltyDL

O cara pira num suco de fruta e sampleou um Emílio Santiago. Foi foda.
Fotos por Anna Mascarenhas.

Eu tive que dar um rolê com o FaltyDL pra perceber que um gole de suco de limão em um dia quente pode dar o mesmo prazer que a descoberta de um novo sample em um disco de música brasileira. Os suspiros de satisfação que o músico norte-americano soltou nas duas situações foram identicamente prazerosos. E olha que a gente acompanhou o cara uma tarde inteira no centro de São Paulo. No rolê, compramos vinis enquanto rolavam umas ideias sobre seu último álbum, chatices do jazz, gentrificação e hipsters do Brooklyn, Clube da Esquina e club music.

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"Eu escuto muita club music quando estou em casa, mas é difícil definir club music. Um dia eu estava conversando com um amigo e percebemos que há 50, 60 anos, a club music era o jazz", me disse ele ainda no almoço, enquanto ficava perguntando pra mim e pra fotógrafa Anna Mascarenhas se poderia provar um pouco desse ou daquele suco. Andrew Lustman - seu nome de batismo - e o gênero tem uma história que vem da adolescência. Foi quando, por influência do som que rolava em casa, pegou um baixo e tocou em bandas e orquestras.

"Venho de referências do jazz clássico. É muito chato! Eu passei os últimos 15 anos tentando esquecer o que aprendi", me falou ele. Metade desse tempo marca sua carreira na música eletrônica, mas o primeiro álbum, Love Is a Liability, chegou apenas em 2009. De lá pra cá foram mais três discos pelos renomados selos Planet Mu e Ninja Tune. Quando falou do último, In the Wild, Andrew tinha um brilho nos olhos ainda meio cansados do vôo da noite anterior. "Eu gastei seis meses só pensando na ordem das faixas."

O LP tem 17 músicas com uma média de dois minutos. São pequenos capítulos como "Uptight", distante de longas improvisações jazzísticas ou peças estendidas para pista, ou "New Haven", com compassos que mudam com sutileza e velocidade. Embora Andrew tenha insistido no papo da suada busca pela perfeição, as faixas lembram uma série de estudos que completam-se com linhas sintéticas e samples orgânicos. Ele disse que gosta dessa fita. "Quando você corta um sample também conta o lugar e como aquilo foi gravado."

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Um pouco antes de subir a passarela do terminal Bandeira, em direção às galerias entre a Praça da República e o Largo do Paissandu, o cara me mostrou uma das faixas que foram recortadas pro seu último trabalho: "Canto de Xangô", na primeira gravação do Baden Powell. Apenas a introdução com aquela caneca. O solzão concretado ia batendo na moleira, então eu rebati com "O Trem Azul", do Clube da Esquina, que estava no meu celular. "Eu adoro Milton Nascimento", balbuciou ele. Daí a gente tacou a procurar discos brasileiros pelo centro.

Andrew não queria perder tempo nas compras. Naquele noite, ele tocaria numa festa no Brás e no dia seguinte embarcaria para o Recife para mais um set. "Eu costumo ser rápido nessas lojas, mas tenho amigos que olham o estoque inteiro!", me disse ele. O cara nasceu em New Haven, mas hoje vive com sua namorada em um apê no Brooklyn, em Nova York. Ele me disse que estava puto com uma a especulação imobiliária, prestes a transformar o distrito da inteligentsia lado B nova-iorquina em mais um paliteiro de prédios.

Ali pelo centro ele não se impressionou muito com a arquitetura, cujo maior ponto comum é a pixação, algo que ele costuma ver, guardadas as devidas diferenças, em #nova. Ele só arregalou os olhos quando ouviu as primeiras pérolas garimpadas nas bacias de música brasileira. Entre uma dica nossa e uma orientação dos donos das lojas, o Andrew foi encontrando sons que, se não forem sampleados nos próximos álbuns, devem entrar pra sua lista de influências. "Sou influenciado por coisas britânicas, mas também tem coisa do hip hop, como loops. Bons loops."

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Nessa levada foi a gravação de "Bananeira", pelo Emílio Santiago, a estreia dos Novos Baianos, uma edição promocional da Odeon do início dos anos 60, um compacto do Tom Zé, um LP do Marcos Valle - "parece que foi gravado numa câmara de ouro" -, uma versão de "Cravo e Canela" do Milton Nascimento e um achado do Papete, "Berimbau e percussão". Foi uma tarde inteira em que cada achado suingado, quebrado, batucado e obscuro da música brasileira fazia Andrew trocar de lugar com sua persona FaltyDL.

O rolê rendeu a ele quase trinta discos. O cara ficou satisfeito, mas ainda faltava uma coisa que não tinha em vinil. "Você sabe onde eu compro aquele funk?", perguntou ele no fim da tarde. Foi quase como perguntar se padre sabe rezar. Colei no primeiro vendedor com aquela grade cheia de CDs colados e pedi uma compilação em MP3 que tivesse Mc Bin Laden, Mc Livinho, Mc Kelvin e congêneres. Passou um rumor pelo Nextel do mano de que o rapa estava colando. Ele ameaçou sair, mas a gente conseguiu comprar os CDs a tempo. O Andrew saiu feliz.

Nesta segunda (27), o FaltyDL sacou da manga um remix de "Burning Beaches", sonzinho suave do rapper britânico DELS. Nossos primos gringos do THUMP US botaram no ar essa faixa, sente só:

Siga o FaltyDL nas redes pra ver se ele posta algum funkão bem pika:
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Siga Felipe Maia, o repórter intrépido e 100% vinil no Twitter: @felipemaia