O Futuro do Camera Club de Nova York

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O Futuro do Camera Club de Nova York

Espaço dedicado a fotografia emergente, o CCNY tem uma nova sede e na sua primeira mostra o foco está na família moderna e nos tempos que virão.

Desde 1885, o Camera Club de Nova York tem ajudado jovens fotógrafos a se encontrar em meio a ummundo da arte em constante mutação. É uma das organizações artísticas sem fins lucrativos mais antigas da cidade, com um pedigree adequado a esse status:Alfred Stieglitz ajudou em sua fundação. Eentre alguns dos primeiros membros do grupo,incluem-se colaboradores da VICE como Pierre Le Hors e Allen Frame (atual presidente do Camera Club), bem como este aqui que vos fala. Quando o contrato de locação da sede do clube em Midtown expirou no verão passado, era hora de conseguir uma nova casa, o que acabou sendo complicado. Isso porque a velha sede tinha quartos escuros para a revelação de fotos em P&B e coloridas, além de um estúdio fotográfico e uma pequena galeria.

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Esse modelo não era prático. O Camera Club precisava se modernizar para acompanhar as tendências atuais da fotografia. Então, eles embalaram tudo e se mudaram para Chinatown, indo parar na Baxter Street. Por mais que o novo ponto não conte com um quarto escuro, seus membros terão acesso a essas e outras instalações no International Center of Photography, uma estrutura capaz de atender a todas as suas necessidades de revelação e impressão. A galeria na nova sede é muito mais bonita que a antiga;sua localização, próxima de quase todas as outras novas galerias de arte contemporânea do centro, não poderia ser melhor, levando em conta o foco do CCNY na fotografia emergente.

A primeira exposição na Baxter Street é adequadamente focada na família e nos dias que virão. Mon's Future, mostra de Fryd Frydendahl cuja curadoria ficou por conta de Megumi Tomomitsu, imagina quem uma garotinha se tornaria ao crescer e por quem ela poderia se apaixonar. Conversamos com Fryd, formado na aclamada escola de fotografia de Copenhague de Morten Bo, Fatamorgana, para saber mais sobre sua técnica nada convencional de prever o futuro.

VICE: Esta é a sua primeira mostra no Camera Club?
Fryd Fydendahl: Sim. Ela conta com a curadoria de minha amiga Megumi, com quem fui até o International Center for Photography. Para fazer uma mostra no Camera Club, também é preciso ter um curador; isso faz parte da forma como o Camera Club promove essas exibições. Eu não quis fazer minha própria curadoria, porque já tinha outras duas mostras em Copenhague, uma curadoria feita por mim e outra exibição solo. Megumi e eu temos uma produtora chamada "Birds Production", trabalhamos juntas há uns seis anos. Ela acaba de ter uma filha e não está produzindo arte agora – ou,ao menos, não muito. Então, achei que esse seria um jeito bacana de mantermos nosso diálogo. A mostra é meio que sobre a filha dela e como isso está mudando nossas práticas artísticas.

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A produtora faz trabalhos comerciais?
Fazemos alguns clipes meio artísticos além de muito trabalho conceitual. É divertido e sempre foi um alívio perto da nossa fotografia mais pesada, tipo "no seu rabo". É algo mais leve e divertido.

Tenho muitos amigos que não curtem fotografia, mas,quanto mais você se envolve, mais fácil fica de se aproximar de gente envolvida com o mesmo que você, porque tudo que você quer fazer é criar, certo? Então,misturar amizades com o trabalho é excelente.

E foi assim que começou. Megumi acabara de dar à luz uma criança nipo-americana. Ela é japonesa; eu, dinamarquesa. Temos especulado bastante como Mon crescerá, como tudo será diferente. Foi assim que começou. Digo, a conversa sobre fazer todos esses retratos de diferentes mulheres. E aí tem também três fotos de garotos diferentes, que são seus possíveis futuros namorados.

Então as pessoas na mostra são as mulheres que Mon poderá ser e também seus namorados em potencial.
Isso. E a ideia é que seja algo leve e com um toque de humor – porque a forma como faço retratos pode ser bastante pesada. Geralmente são mulheres amarradas em posições desconfortáveis.

Você também fotografa sua família.
Trabalho muito com a minha família, e isso também tem uma história meio pesada por trás. Acho que é importante, às vezes, encarar as coisas de um jeito mais leve. Os fotógrafos têm uma tendência a trabalhar a partir de um trauma. Quando você frequenta um curso de fotografia, descobre como trabalhar consigo mesmo e com a narrativa advinda de quem você é; na fotografia pessoal e na maior parte da fotografia de arte, é daí que começamos: nós mesmos. Quando eu ensino, é assim que "chego" até as pessoas também. É algo como "O que aconteceu quando você tinha cinco anos na cozinha com…?". No meu caso, foi a morte. Muitas pessoas morreram, e é esse o trauma. E, em algum momento, você lidou o bastante com aquilo para compreendê-lo e tratá-lo de uma forma que não seja tão forte o tempo inteiro. Acho que trabalhos interessantes têm uma camada que eu não compreendo. Uma camada surreal ou melancólica. Tem que haver mais do que só aquilo na superfície, você tem que querer arranhar a superfície. E muitas vezes isso é algo que tem de machucar de uma forma ou de outra, certo? Mas é tão exaustivo nutrir essas coisas. Isso nunca vai nos levar a lugar nenhum, e acho que é redundante, e já foi feito à exaustão também.

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Faço muita coisa em vídeo que é meio pastelão, comédia pura mesmo. Todas essas histórias pelas quais esses personagens passam são sempre meio tristes. O humor é triste. É aquele lugar – eu o chamava de piscina de traumas um dia desses. Você pode só dar uma mergulhada nela, sabe? Pegar aquele trauma e usá-lo de forma produtiva é importante, acho.

Mas esta é uma exibição mais esperançosa.
Eu sou essa pessoa, mas eu também sou aquela que está muito empolgada que minha parceira no crime acaba de ter uma linda filha. E isso nos faz rir muito e traz conversas que nunca tivemos antes. Eu tenho sotaque dinamarquês, Megumi tem um sotaque de japonesa, mas esta criança irá crescer e falar inglês americano conosco. O que é aterrorizante de certa forma, porque é algo muito diferente de quem nós somos.

A grande foto na exibição é de Megumi. Ela precisava estar lá. Temos uma estagiária na produtora agora, uma garota dinamarquesa, e tem uma foto dela também. Além disso, caímos na estrada e fotografamos uns desconhecidos, o que foi bastante interessante, porque o fizemos com Mon dentro da barriga de Megumi, seu marido e nossa estagiária neste carro recheado de pura loucura. Fomos até Nova Jersey e Staten Island, e foi tipo "Ei, podemos te fotografar? Por isso, isso e aquilo".

Uma das fotos na mostra é de um sobrinho meu. Tenho um projeto sobre meus sobrinhos. Meio assim,como a foto de Megumi, está lá – em vez de só fazer um autorretrato, queria que ele estivesse lá. É uma representação de onde eu vim para dar a Mon.

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É um lance meio de família.
Tanta gente que se muda pra Nova York fica tão longe de onde veio, sabem?

Era disso que a mostra Friends tratava.
Isso. Megumi e Mon são como meu sofazinho na cafeteria.

Algumas das fotos da mostra se repetem com um gradiente sobreposto. Qual que é?
Eu fotografo de maneira analógica, geralmente com filmes velhos vencidos de 120 ou 35 mm. Faço isso há um bom tempo. Acaba de rolar uma mostra minha na Dinamarca chamada Salad Days, que era composta mais ou menos pelo mesmo tipo de retratos esculturais de belezas jovens, nervosas e ansiosas, e eu precisava fazer outra coisa para diferenciar uma mostra da outra na minha cabeça. Quando fiz o flyer dessa mostra, usei um gradiente, e deu essa sensação de separá-la da realidade. Não sabemos como será o futuro de Mon. Só temos como adivinhar ou presumir coisas por ela. Então, senti como se os gradientes lhe conferissem uma camada de fantasia. É parecido com a cor em um mangá. Estou muito empolgada com essas fotos, acho que tenho fazer mais.

Como o Camera Club te ajudou?
Ele difere de muitas outras comunidades no mundo da fotografia, porque, em grandes partes dessas comunidades, também envolvem-se negócios. Se você está com uma mostra em uma galeria, também é um relacionamento de negócios. Talvez evolua para algo mais, mas sempre haverá aquilo de eles quererem algo de você. É isso que pega com o Camera Club também, porque ele precisa viver, respirar e funcionar, mas não é o dinheiro que importa, e sim manter uma comunidade. Como em um pequeno clube, há gente batendo papo e diversos grupinhos pelos cantos, mas,no geral, as pessoas o amam pelo que ele é. Você sabe que a mesma turma estará por perto e será demais.

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Há pouco, organizei a feira de zines do Camera Club na Foley Gallery. Foi a primeira vez que fiz algo do tipo pelo Camera Club. Foi empolgante, porque era um espaço novo. E era um espaço temporário, mas ainda assim parecia ter o espírito do Camera Club. Pra mim, foi tipo "Ah, vai dar tudo certo". Sempre rola uma ansiedade quando as coisas mudam. Mas, se você pode fazer um evento do Camera Club em qualquer galeria e fazer ficar com jeitão de Camera Club, acho que isso é uma coisa boa.

Também acho que essa é uma puta mostra para se ter nesse novo espaço. Trata um pouco sobre o futuro mas também sobre família, e eu acho que o Camera Club é um tipo de família esquisitona.
Sim, uma família meio Frankenstein. Quando você vai a abertura de uma mostra, tem essas características que sempre me deixam bem feliz. As pessoas sempre estão se ajudando, não é egoísta.

Não é nada competitivo! Não sei como é na Dinamarca, mas a fotografia em Nova York é um monte de gente tentando passar por cima das outras pra conseguir trabalhos e exibições, e nunca tive essa impressão do Camera Club. Todo mundo quer se ajudar.
É um sentimento verdadeiro. Mesmo após a mostra na terça-feira, saí com um pessoal do Camera Club e pensei: "Puxa, isso é bem melhor que qualquer jantar de galeria, em que tenho que fazer networking e ficar falando merda". Era só divertido, e as pessoas ficavam felizes por você estar feliz. É tipo um êxtase esquisito pelo seu bem.

Saiba mais sobre o trabalho de Fryd em seu website.

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