FYI.

This story is over 5 years old.

Fotos

Fotos inéditas da ‘Geração Maldita’

Jason Rail posta no Instagram imagens dos looks icônicos que criou para as jovens estrelas do cinema cult anos 90 de Gregg Araki.
Todas as fotos por Jason Rail.

Jason Rail criou looks icônicos para as jovens estrelas das obras-primas do cinema cult de Gregg Araki. Essas imagens ficaram guardadas numa caixa de sapato por 20 anos, mas agora ele finalmente está liberando essas fotos para o mundo.

Tem uma polaroide de Parker Posey no Instagram de Jason Rail, ela parada em frente a uma faixa escrita "OBEY", usando uma peruca loira platinada, óculos em formato de coração e batom cereja escuro. A foto foi tirada num set do clássico cult de 1995 de Gregg Araki Geração Maldita, um filme em que Rail trabalhou fazendo cabelo e maquiagem depois de ser catapultado do set de Mod Fuck Explosion alguns meses antes.

Publicidade

Esse visual, apesar de não tão icônico quanto o chanel preto que ele criou para Rose MacGowan, então com 16 anos, sempre será associado com uma das grandes falas do filme: "Vou arrancar seu pau fora como uma cabeça de galinha". Posey e Rail ainda são amigos próximos, mas até recentemente a foto passou duas décadas guardada numa caixa de sapato, junto com outras imagens perdidas do mundo dos filmes indie dos anos 90: Posey e Marilyn Manson na festa depois da estreia de A Casa do Sim em 1997, McGowan de 18 anos no primeiro dia das filmagens de Estrada para Lugar Nenhum de Araki, e o elenco de Quatro Garotas… Uma Grande Confusão (1998) comendo sanduíches do bufê do set em pratinhos vermelhos. E essas imagens são temperadas com momentos cândidos do auge dos anos 90 da New York Fashion Week e da cena noturna do centro da cidade.

"Não tenho nem smartfone", me disse Rail por telefone de São Francisco, onde ele trabalha agora como cabeleireiro. Mas ele tem um iPad, e usa isso para levar suas fotos da caixa de sapato para o Instagram. "O que quero é eventualmente fazer um livro de fotos", ele diz, um pedido repetido com frequência pelos usuários de Instagram que cruzam com sua conta. Falamos com Rail sobre ser uma "babá emocional" de atrizes adolescentes problemáticas e fotografar o infame pôster de Geração Maldita, com McGowan usando uma peruca de loja de fantasia.

Parker Posey na primeira noite de filmagem de Geração Maldita (1995).

VICE: Você devia ser bem próximo de muitas dessas pessoas. As fotos têm uma vibe tão relaxada, comparada com outras coisas "cândidas" que você encontra o Instagram.
Jason Rail: Para o molecada que quer ser maquiadora hoje, é algo tipo "Olha como eu sou foda — transformando essa menina numa fantasia". Para mim, isso é verdade, e se a luz for boa, o set for bom, e tudo mais estiver no esquema — ótimo! Mas o que eles não percebem é que você é quase um psiquiatra ou uma babá emocional, porque é a última pessoa que os atores e atrizes veem antes de entrar no set. Então se você fica reclamando do aluguel, do seu namorado ou do seu gato doente, você vai deprimir a galera. As pessoas não percebem que você é meio que o responsável por levantar a moral dos atores. Se é uma comédia, todo mundo geralmente está de bom humor. Mas se é um filme independente, tem sempre alguém sendo morto ou ficando doidão. Lembro de uma atriz em particular que me disse "Meu deus, por favor, nem olhe para mim". A personagem dela ia ser estuprada, e ela me disse "Nem fale comigo, você me faz sorrir demais".

Publicidade

Lisa Kudrow e Parker Posey no set de Quatro Garotas… Uma Grande Confusão (1997)

O cabelo e a maquiagem de Geração Maldita são icônicos. Especialmente o chanel de Rose McGowan.
O mais engraçado é que, e não estou brincando — três dias depois das filmagens acabarem, eu ainda estava em Los Angeles, e lembro de passar por um dos primeiros outdoors de Pulp Fiction. Era a Uma Thurman deitada numa cama lendo um diário ou algo assim. E ela estava com um chanel preto, e mesmo que o cabelo da Rose não fosse preto em Geração Maldita, ele ainda parecia escuro, e era um chanel! E depois todo mundo vinha me dizer "Ah, que legal, vocês se inspiraram em Pulp Fiction". E eu dizia "Nããão!" Mas lembro que um dia desses procurei no Google "corte chanel", e a Rose em Geração Maldita e a Parker no A Casa do Sim foram as primeiras a aparecer. Fiquei tipo "Uhull!" O que é mais engraçado para mim é que, na época, eu realmente fazia parte do processo e falava com o Gregg [Araki], ou qualquer outro diretor, sobre a personalidade do personagem, suas origens e sua situação financeira. Foi muito interessante ter esse diálogo com os diretores, porque assim todo mundo podia entrar melhor no personagem. No final da minha carreira no cinema, o pessoal só me dia "Deixe ela bonita". Não havia mais conversa.

Parker Posey e Marilyn Manson na festa depois da estreia de A Casa do Sim (1997)

É engraçado você falar sobre ser como uma babá, já que alguns dos atores eram muito jovens na época.
Sim. Eu tinha a reputação de me dar bem com algumas atrizes "problemáticas", como a Rose, Annabella Sciorra, Penelope Ann Miller… Por alguma razão elas eram superfofas comigo, por causa dessa relação pessoal, mas eram grossas de propósito com outras pessoas. Eu tinha que tentar me distanciar disso. Como eu disse antes, se você está com dor de dente ou atrasou o pagamento do cartão de crédito, eles não estão nem aí. Você tem que ouvir os problemas deles, tipo "Meu deus, tinha uma parte amarela na clara do meu ovo e não consegui comê-lo de jeito nenhum", e você tem que dizer "Como você sobreviveu a esse dia?!" É uma das partes do trabalho que ninguém te ensina. Às vezes você tem uma pessoa problemática e precisa pacificá-la, e às vezes você tem um bloco de argila e precisa animá-lo.

Publicidade

Rose McGowan no primeiro dia de filmagem de Estrada para Lugar Nenhum (1997)

Como você acabou trabalhando nesses filmes?
Eu tinha alguns amigos quando era mais novo que já eram cabeleireiros, eles eram alguns anos mais velhos que eu e eram aprendizes na Vidal Sassoon. O dono na época era Christopher Brooker, ele estava vindo de Londres e ia ficar num salão de São Francisco. Isso coincidiu com a época em que meus amigos eram aprendizes lá. Eu sempre era o modelo de qualquer permanente ou coloração maluca que eles queriam tentar. Eu sempre era simpático com os donos, e Christopher acabou me mandando para a Vidal Sassoon Academy em LA. Nessa época eu cortava e pintava o cabelo de um amigo, e ele trabalhava numa loja de roupas na Haight Street. Um dia entrou essa garota lá, que estava fazendo um filme punk, e ela precisava de roupas e de alguém que fizesse o cabelo da sua personagem. Aí ela disse "Gostei do seu cabelo — onde você cortou?" Tive que pintar o cabelo dela de um jeito que parecesse que ela mesmo tinha feito. Eles não tinham nenhum orçamento, mas adorei participar. A produtora desse filme ia gravar outro em LA alguns meses depois, e me perguntou se eu estaria interessado; era Geração Maldita.

Devon Odessa e Staci Keanan no set de Estrada para Lugar Nenhum (1997)

Como era sua vida naquela época? Você saía muito?
Sim, isso também é engraçado, porque eu costumava ficar no Chelsea Hotel com meu melhor amigo Zaldy, e o amigo dele Matthew Anderson. Zaldy é estilista e Matthew faz o cabelo e maquiagem da RuPaul. E eu era amigo da Susanne Bartsch e de toda aquela turma, e a gente frequentava várias baladas — na verdade, noite passada saí com Richie Rich, e foi muito divertido. Vou postar uma foto disso mais tarde. Os anos 90 era tão livres. A ironia de ser aceito e se misturar com pessoas normais é que tudo meio que acaba gentrificado.

Qual era seu envolvimento com o mundo da moda na época? Vi que você postou algo de um desfile da Vivienne Westwood, que foi o primeiro desfile de Gwen Stefani.
Sim, eu fiz o cabelo daquele desfile. Eu trabalhava com um cara chamado Danilo, que faz o cabelo da Gwen Stefani, então fui para Nova York fazer o cabelo daquele desfile. Eu virava uma colegial japonesa perto daquelas modelos. Eu lembrava todas as campanhas que elas já tinham feito, o país de onde elas eram, a agência onde elas trabalhavam. Eu ficava deslumbrado. Com as atrizes, eu não dava muita bola — elas faziam o trabalho delas, eu fazia o meu. Mas eu ficava louco com modelos. Especialmente naquela época — os desfiles do Todd Oldham eram meus favoritos; ver Cindy Crawford, Naomi Campbell, Kate Moss e Christy Turlington entrando naquela passarela… Imagino que seja a mesma emoção que um doidão cabeludo sentiria num show do Led Zeppelin.

Beyoncé e Jason Rail na filmagem do clipe "Work It Out" (2003).

@nosajliar

Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.