​Grafitar em Cuba é Muita Treta
Foto: Gabriel Uchida

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Até Cubanos

​Grafitar em Cuba é Muita Treta

Grafitar em Cuba é um ato heróico, a repressão do governo é muito pesada e uma autorização para pintar quase impossível.

Foto: Gabriel Uchida

Por muito tempo, tudo que foi pintado nos muros em Cuba eram mensagens de como a revolução era maravilhosa e triunfante. Frases de ídolos como Fidel Castro, Che Guevara e José Marti eram os únicos slogans nas ruas, haja vista que a publicidade particular havia sido extinta. Até que, em 1990, o artista Salvador González escolheu uma viela entre as ruas Aramburu e Hospital, em Havana, para criar uma grande intervenção que virou o Callejón de Hammel, considerado o primeiro grafite na ilha. Pintado com a permissão do governo, o lugar virou ponto turístico e tem até guias especializados na história do local. Porém a realidade do grafite no país é outra.

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Callejón de Hammel. Foto: Gabriel Uchida

"Pintar em Cuba é quase um ato heroico, e conseguir a permissão do governo é muito complicado, pode demorar um tempo interminável", explica o crítico de arte Ulisses Morales, de 48 anos. Sendo assim, muitos artistas deixam a burocracia de lado e vão na ilegalidade mesmo, como acontece no mundo todo. Mas a vigilância e a repressão na ilha são muito fortes, tanto que encontrei um grafiteiro que havia sido preso apenas por ter um spray na mochila. "Estava com um amigo na frente do Ministério do Comércio Exterior, embora, de última hora, tenhamos decidido não pintar. Apenas saímos andando, mas apareceram três patrulhas da polícia só para nós dois, mesmo sem termos feito nada", conta. Por precaução, ele prefere não se identificar. E continua: "Só por ter a tinta comigo, fiquei preso um dia e recebi uma advertência por estar em um lugar com risco de delito, uma lei maluca que prevê o futuro, tipo o filme Minority Report".

Foto: Gabriel Uchida

Outro grafiteiro cubano que se deu mal com a polícia é El Sexto, porém o caso dele é muito pior. Seu nome verdadeiro é Danilo Maldonado. Ele estava pintando tanto que começou a chamar a atenção do governo. El Sexto virou "inimigo" do poder, e seus grafites começaram a ser apagados em Havana. Como isso não foi suficiente para que ele parasse de pintar, a polícia decidiu dar um passo a mais e certo dia apreendeu seu computador.

Foto: Gabriel Uchida

El Sexto respondeu espalhando mensagens pelas ruas: "Devolvam meu notebook". No meio dessa microguerrilha, até amigos do grafiteiro foram chamados para bater um papo com a polícia. "Me convocaram e falaram para eu não andar mais com El Sexto porque ele estaria recrutando gente para a oposição, mas tudo o que ele fazia era grafite", relata um amigo. Por fim, foi o artista quem resolveu avançar: ele teria preparado uma performance pública em que soltaria dois porcos pintados pelas ruas da capital, fazendo referência a ministros. No entanto, a inteligência do governo cubano, que já impediu mais de 800 tentativas comprovadas de matar Fidel Castro, foi mais eficiente e o prendeu no caminho para soltar os animais. Um amigo do artista diz: "El Sexto está de férias forçadas, e ninguém mais sabe dele". O grafiteiro segue preso em Cuba.

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Grafite do El Sexto apagado. Foto: Gabriel Uchida

A resistência segue pelos muros, saca só as fotos dos grafites cubanos:

Foto: Gabriel Uchida

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