As Elas com Elas de Haruo Kaneko Expostas

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As Elas com Elas de Haruo Kaneko Expostas

Trocamos uma ideia sincera com o fotógrafo responsável pela BR Wax sobre nudez feminina, sedução e também sua exposição na Casa Sinlogo.

Haruo Kaneko é o nome por trás do projeto BRWax. Um virginiano de 30 anos, nascido e criado em São Paulo, filho de um pai japonês e uma mãe brasileira. Até os 18 anos, trabalhou no Mercado Municipal do Ipiranga, setor de laticínios, no negócio da família. Desde pequeno vivia rodeado de mulheres, as tias, as primas, a irmã, a avó, a mãe, todas da família materna. Seu primeiro contato visual com uma xoxota de verdade foi nessa época, palavras dele. Quando saiu da casa dos pais, o convívio feminino continuou. Sempre gostou de dividir apartamento com outras mulheres, suas amigas, elas o faziam se sentir à vontade.

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A sensibilidade em lidar com o tipo feminino, fruto da experiência da vida toda, é um dos pontos que garantem o resultado do seu trabalho como fotógrafo. O BRWax, uma viagem pelo corpo feminino, suas várias formas e pontos de vista, sempre capta a sexualidade da mulher de uma forma diferente. Perto do lançamento de sua primeira exposição numa galeria, colei na casa de Haruo para que trocássemos uma ideia sincerona sobre o seu trabalho - e aproveitei para colocá-lo na mesma posição que suas várias modelos para uma foto. Chega mais.

Fotos por Anna Mascarenhas.

VICE: Quando você começou a fotografar?
Haruo Kaneko: Comecei a fotografar numa casa, no centro, que dividia com as minhas amigas. Eu já tinha me formado em design gráfico na Belas Artes e fui morar com elas. Comecei mesmo com um caso que eu tinha, aquela coisa: "aí, vamos fotografar e tal". De lá eu fui pra Vila Mariana, numa casa que eu dividia com outras duas meninas. Uma era da Eslováquia, a Zita, e a outra era a Rebeca. Por incrível que pareça nunca fotografei elas para o projeto. E nessa casa eu fotografei pra caralho no meu quarto. Tinha uma cama, uma mesa e uma parede livre com duas luzes. Por conta dessa dificuldade de espaço que eu tinha, a casa ficou um pouco característica do trampo, no começo. Apareciam as coisas que estavam ali, na mesa. Foi muito natural.

E você já tinha tido outras experiências com a fotografia antes disso?
Quando eu tinha uns 17 anos, fui chamado pra fazer uns trabalhos numa agência de modelos. Começaram a rolar uns trabalhos pra mim, então foi a minha primeira relação com foto, com estúdio. Eu fazia questão de pegar os trampos, pra ver os caras trampando. Nessa eu me meti até a fazer um longa, fiz cena de sexo. Na época que rolou esse filme, eu já tinha começado [a fotografar], então pensei: preciso ver um cara me dirigindo. Principalmente porque não sou ator, não sou nada, e o cara falou "quero você, vamos fazer com você". Pra mim foi do caralho, estar ali sendo dirigido pra fazer uma cena delicada. Era a minha parada, ver como os caras estavam se portanto, agindo, o que eles estavam pedindo e como. Também tinha um amigo que fotografava bastante, que é o Ivan Abujamra, tem um trabalho foda. Ele tirava muita foto da gente. Na época que eu me formei na Belas Artes, a gente juntou uma galera, criou um coletivo, arrumava uns trabalhos pra fazer e tal. E o Ivan era muito amigo dessa galera. Eu namorava uma menina, a Fabiana, e ela queria fazer foto com o Ivan. Eu fui junto com ela, fiquei sentado na sala dele lendo um livro, vendo ele fotografar. Então meu primeiro contato foi do outro lado.

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Então o BRWax foi sua passagem pro lado negro da força?
Ah, a coisa foi acontecendo. Tinha um amigo meu, o Adriano, que me ajudava a juntar referências, mas eu que tinha mais aptidão de fotografar. Foi aí que a gente criou o BRWax, era onde a gente guardava essas imagens. E tem isso até hoje, se você entrar no site e rolar lá pra baixo, você vai ver que é um monte de referências que me ajudaram a ser o que eu sou. Eu nem apaguei, porque eu acho assim…Vou esconder das pessoas? Se elas clicarem na foto, vai ter o crédito de quem foi, é um Tumblr, né? Aí eu fiz o logo, o layout, as coisas de design que tinha que fazer. E já que tinha o logo, eu comecei a fazer umas camisetas. Rolou de uma amiga minha pedir a camiseta pra fotografar na webcam, nessa época a gente curtia essas coisas zuadas. Começou a despertar uma parada e tentei intermediar uns ensaios, com o Ivan, com outro moleque também, mas era sempre difícil de organizar fotógrafo, modelo etc. Pra mim existem dois momentos da foto, talvez três. Quando você prepara pra coisa acontecer, quando a coisa acontece e a hora de escolher. E o escolher é importante pra caralho. Então ficava na mão deles esse material, lógico que ninguém queria passar bruto, eu também hoje em dia odeio fazer isso. Mas eu dependia do gosto deles pra, dentro disso, achar o que eu gostava pra publicar naquele campo de referências que eu tinha. Quando começou a ficar difícil, eu juntei um dinheirinho, fui e comprei uma câmera. Foi na raça, meu, vendo tutorial e vai.

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Meio autodidata, né?
Até porque hoje é muito fácil fotografar, vai. Várias vezes ponho no automático e foda-se. Atire a primeira pedra, sabe? Quantas coisas legais de iPhone que tem por aí… Então o equipamento, a técnica, eu procurei passar por tudo. Na época eu comecei a fotografar desesperadamente, comecei a aprender e tal. Daí eu conheci a galera da Lomography, eles gostaram do que eu estava fazendo e falaram "pega as lomos que você quiser". Começou a virar uma mistureba de coisas, mas tava nítido que aquilo ali era um teste, sabe? E que dentro do teste, as coisas que eu gostava ficavam ali no BRWax. Então nunca teve muito essa coisa de ser um cara que só fotografa com luz natural ou só com flash. Eu tento fazer de tudo, até hoje, procuro não me prender nunca. Acho que quando você satura de fazer alguma coisa, além de eu mesmo cansar, você vê que tem um monte de gente fazendo também. E ao mesmo tempo que é um saco, é bom, porque me tira da zona de conforto. "Ah, fotografar com flash, lente angular, segurando a mão da mina é legal, então vou ficar fazendo isso por resto da minha vida"? Não! Se eu me acomodar na estética, eu tô fodido. Eu tenho que pensar em outras coisas, além da estética.

E por que nudez feminina?
Tem um pouco do lado masculino, sabe, meio fetiche, talvez. Não vou falar que não podia ser um álibi pra algo, pelo menos na primeira vez que eu tive contato com uma mulher que queria ser fotografada por mim. Ela queria se mostrar, eu tinha aptidão pra fazer e também queria ver ela pelada, saca? Então, naquele primeiro momento, não vou falar que "não, isso nunca existiu". Mas tô falando do primeiro contato mesmo. Depois fotografei uma namorada que eu tinha. Postei umas fotos, mas nenhuma que mostrava o rosto. E isso rola até hoje, esse lance íntimo de fazer mas não mostrar o rosto. E isso é foda, o anonimato. Tem muita gente que gostaria de estar, mas não de mostrar que está lá. Então abro essa oportunidade de permitir que elas sejam quem elas querem ser. Quando você chegou, eu tava fotografando. Eu pergunto pra ela: E aí, viu? Gostou? Tá satisfeita? Eu pergunto porque eu já tava satisfeito, mas tem o lado dela. Vejo como uma troca, sabe?

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Pensando na pornografia, como conceito, o sentido livre caracteriza qualquer expressão que remeta a um pensamento sexual. Tem muitos projetos que envolvem nudez sem que esse conceito seja determinante, levando a composição do nu pra outros significados. Mas no seu trampo, sempre tenho a sensação de que você une a nudez e a pornografia como se eles fossem uma coisa só. Você identifica isso no seu trabalho? Acha que consegue extrair o pensamento sexual da nudez ou é algo muito natural pra você, vê-los juntos?
Existe a conotação sexual, sim. Eu peço isso. Muitas vezes eu falo pras meninas que a gente vai passar ali diversas mensagens, a sexualidade é uma delas. Por isso eu coloco, em alguns momentos, o ponto de vista de uma pessoa. Por isso que aparece meu pé, meu braço, eu me coloco ali.

Acho que o seu começo foi meio determinante pra isso, não? Pelo fato de ter sido um caso, aquele clima sexual etc.
É, acho que sim. Mesmo hoje encarando isso de uma forma muito mais profissional, saca? O que eu queria passar pras pessoas é que todo mundo tem esse lado animal, sexual, que não é um bicho de sete cabeças. Acho que isso interessa as pessoas, essa conotação. Você se ver ali naquela foto, isso é uma das coisas que eu sempre tento passar também. O cara não vai se ver numa foto em que a menina está toda iluminada, perfeita, num carro importado, bebendo champanhe. Nunca passei por isso na minha vida. Tem que existir, tem que ser real. Dificilmente fico fazendo produção, caçando locação. São lugares que já estão na minha cabeça, na minha vida. Se não for na minha casa, qualquer hotel meio podre da Augusta, algo que está fácil pra gente chegar e acontecer. Por esse fato, até os lugares acabam, então, trazendo esse ar sexual. E conseguir arrancar isso de uma mina que as vezes não bota fé que ela consegue, isso é muito legal. É diferente de uma fotografia documental, eu tenho que criar esse ambiente aqui dentro. Ninguém tava ali, usou droga e ficou nu e eu fotografei. Sempre peço pra elas se encararem, se seduzirem. Porque não sei se eu entro nessa história, não vou falar "me seduz". Não sou eu, é ela mesma com ela mesma. Tem menina que consegue interpretar e acho que isso que é o legal. Interpretar, não posar. Interpreta algo ou alguma coisa, algum bicho. Até brinco com isso. Também tem todo o contexto onde essas fotos estão inseridas. Uma foto, sozinha, no meio de outras que não são tão sexuais, ela perde a força. Mas as fotos estão no BRWax, é todo um universo que tem esse sentido.

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Como rolou a montagem da exposição na SINLOGO? É a sua primeira exposição solo com o projeto?
Eu considero a primeira mesmo porque é a primeira numa galera, em que o projeto vai ficar exposto lá alguns dias pra quem não puder ir no sábado. Eu já fiz outras, mas que eram amostras, sabe? Ilustrei festa também, a Jazzy do Guigo Lima. Sempre estou com a galera do Popporn. Mas numa galeria mesmo é a primeira, que to fazendo num papel bom, fine art e tal. Eu não escolhi só coisas novas, mas coloquei bastante. São 15 fotos grandes e tem várias daquelas Instax Mini, sabe? E tem uma instalação, mas isso eu vou deixar como surpresa pra galera.

"BRWAX - Exposição individual do fotógrafo Haruo Kaneko"
De 14 a 28 de março de 2015
Entrada Gratuita

CASA SINLOGO
Rua Oscar Freire, 2221
de ter. a sex. das 11h às 19h, sáb. das 12h às 17h
casa.sinlogo.com.br
Classificação: 18 anos