Quando fui visitar uma cidade no sul do Brasil, amigas de internet arranjaram uma hospedagem na faixa na casa de um sujeito. Como eu era jovem, financeiramente quebrada e iria pra lá com vários amigos, topei. No momento de dormir, porém, além de ter de dividir um colchão de solteiro com mais duas (!) pessoas na sala de um apartamento, reparei que os lençóis traziam manchas amarronzadas. Minha curiosidade sugeriu: cheire essa porra e confira se é merda. Não sucumbi. Não cheirei. Feito múmia no sarcófago, dormi ali. Espremida. Dura. Desencorajada a checar a veracidade dos fatos. Quiçá com a maior cara de cu que minhas expressões faciais já puderam ser capazes de produzir. E não podia reclamar, visto que tratava-se de uma estadia não-remunerada – popularmente chamada de "no Vasco". Mas eu estava ali: no sul do país, dormindo num lençol cheio de manchas de merda, cheirando a sovaco e inalando o fedor alheio, visto que chegamos de madrugada depois de uma noitada.
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Depois dessa experiência, aprendi a ser mais criteriosa na hora de escolher um lugar para ficar ou morar. E aprendi que pagar é sempre melhor. Sábia, a vida mostrou que nunca estive sozinha. Muita gente já viveu momentos de horror se hospedando na moradia, hotel ou hostel de outrem. E é mais que óbvio que toda história tem dois lados. Se perguntassem ao sujeito do lençol de cocô qual foi a experiência dele abrigando paulistanos de graça em sua casa, o papo seria outro. Porém, é sempre proveitoso compartilhar e conhecer experiências cagadas. Abaixo, você lê histórias de vida de gente que, assim como eu, saboreou amargos momentos de derrota depois de confiar em indicações ou anúncios surgidos na internet.
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O que me vem à cabeça quando relembro desses lugares são principalmente coisas como tosses tuberculosas, rádios evangélicas, sons de mensagem de celular a cada cinco minutos durante toda a madrugada, amargura nos olhos de pessoas com quem eu esbarrava pelos corredores sem claridade, desconfiança, loucura, cheiro de maconha ruim no fim da tarde, brigas de namoradas, música pop sertaneja… Enfim. Eu trabalhava 10 horas por dia e levava uma hora e meia para chegar ao trabalho. Dormia e acordava mal. O cheiro que saía do ralo me doía a cabeça. Não conseguia mais viver sem cozinhar e lavando roupas em balde – o inverno chegou e me fazia mal mexer na água gelada, já que eu trabalhava como ilustradora e minhas mãos viviam machucadas. Foi aí que vi o anúncio de um lugar num grupo de Facebook. Decidi alugar o tal quarto em uma casa com quintal e dois andares. Eram duas mulheres alugando. Fui visitar e, na verdade, eram quatro pessoas morando no lugar. Mas o espaço era grande e perto de onde sempre morei. Elas pareceram muito gentis comigo e, conversando no primeiro encontro, se interessaram pelos meus trabalhos de edição de vídeo e já me pediram um frila: editar uma homenagem de aniversário para um amigo delas. Paguei o mês do aluguel antecipado, mas não descontei o valor do frila. No mesmo dia, fiz o vídeo num bar que não fechava durante noite, pois não tinha wi-fi nem sinal de internet no quarto que aluguei. Era frio e chovia muito. Acabei, enviei e já era quase meia-noite. Na manhã seguinte, no meio de uma reunião com o meu chefe, uma das proprietárias me mandou mensagens pedindo alterações urgentes do vídeo. Fiz as alterações.
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Fui do trabalho para meu novo lar. Elas não estavam, mas havia pombos pela sala! Sim, pombos! Elas criavam pombos e não haviam me dito nada. Eles comiam restos de comida deixados no fogão…As duas voltaram meia-noite e começaram a gritar e bater panelas. Eu acordava muito cedo para ir trabalhar e não dormi essa noite. No outro dia, lhes escrevi dizendo que não me adaptei e que iria continuar na pensão em que eu estava anteriormente até achar outro lugar.Quando fui buscar minhas coisas, elas prometeram devolver minha grana cinco dias depois. Esperei chegar o dia e, quando fui pegar de volta o dinheiro, me ameaçaram de morte e quiseram me agredir em público. Foi horrível. Tive um colapso emocional, minha menstruação desregulou com 15 dias de antecedência, comecei a ficar doente e a ir trabalhar muito mal. Durante meu horário de trabalho, duas amigas me mandaram o print de um mesmo post de autoria da pessoa que me alugou o quarto. Ela me chamou de golpista e usou palavras de ódio, distorcendo completamente a história que ocorreu."Bruna*, artista visual
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Laura*, publicitária