"Home of the Brave" é a Nova Exposição da Autumn Sonnichsen

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"Home of the Brave" é a Nova Exposição da Autumn Sonnichsen

Conversei com a fotógrafa sobre o projeto e aproveitei para realizar um sonho.

Quando meu editor pediu que eu fizesse essa entrevista, confesso que cheguei muito perto de ter uma crise de ansiedade. Autumn Sonnichsen é uma das minhas fotógrafas preferidas e, mais do que isso, o motivo de eu ter transformado de forma irreversível minha perspectiva em relação à sensualidade feminina. Isso porque, em suas fotos, ela consegue transformar qualquer situação em um registro naturalmente sexy. Uma mulher boiando na piscina ou um prato de jabuticabas recém colhidas do pé, tudo se torna erótico e delicioso sob a perspectiva dela. É como se você não acreditasse que aquilo tenha sido produzido ou conduzido por ela. Um par de pernas e uma bela (realmente bela) bunda saindo da janela de um carro azul? Nem passa pela minha cabeça a ideia de que ela não clicou esse momento enquanto andava com a câmera pela rua, depois de tomar um café na cafeteria da rua de baixo de sua casa.

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É com esse olhar que Autumn, residente no Brasil há quase nove anos, fotografou sua terra natal ao longo do tempo — os EUA. A mistura de símbolos nacionalistas, mulheres e objetos, compõe sua própria versão de saudade, de um jeito que só ela — sim, só ela mesmo — consegue fazer. E, felizmente, você pode contemplar essas imagens a partir de hoje no espaço House of Work. A inauguração de “Home of the Brave, que começa às 20h, é uma oportunidade de esbarrar na fotógrafa enquanto admira uma foto ou outra. Depois de segurar a empolgação inicial, respirei fundo e conversei com ela pelo telefone sobre o projeto e, por que não, sobre a vida:

VICE: Essa não é a primeira vez que você expõe no Brasil, mas a terceira, certo? 

Autumn: Acho que é a quinta ou sexta. Das maiores, acho que é a terceira, mas teve um monte de coisas pequenas. Exposição coletiva no Memorial da América Latina e algumas outras coisas.

O que distingue Home of the Brave dos outros projetos que você já expôs?

Essa é a primeira vez que faço uma seleção de fotos de casa. São fotos dos Estados Unidos, coisas que estão relacionadas à lembrança de casa no geral. Tem algumas fotos que fiz na casa de minha mãe, foto da minha cunhada. Não é muito grande, acho que tem umas nove, dez imagens. São coisas que estão perto de mim, não necessariamente da minha família, mas são fotos que mando para meus amigos no Brasil quando quero mostrar como estou. É uma forma editada de lembrança de casa, como se fosse um cartão postal. Eu gosto muito, no geral, de mandar pelo correio, de mandar lembranças de onde eu estou. E a gente costuma fazer isso quando tá viajando, mas como moro fora há tanto tempo, também faço isso quando estou em casa.

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Você viajou pelos EUA com essa intenção ou são fotos que você tirou ao longo do tempo, em diferentes visitas à sua casa?

Não, é uma coletânea que juntei ao longo do tempo. Tem umas imagens de quatro anos atrás e outras mais recentes.

Qual é sua fotografia preferida desse projeto?

Aí fica difícil. Acho que não gosto muito de ter uma preferida. Tem uma foto da minha cunhada, é uma foto de uma moça deitada na água com um maiô dos Estados Unidos, tenho um certo carinho especial por essa. Assim, tem outra com umas pessoas correndo, num jogo de futebol americano, carregando uma bandeira. A minha irmã é da marinha americana e tem um lance lá, quando é um jogo muito importante, que o pessoal do exército leva as armas até o meio do campo e eles carregam a bandeira, bem nacionalista. E nesse jogo, minha irmã e os companheiros dela levaram as armas. Nem é pela foto em si, mas pela história, que me traz uma lembrança pessoal.

Você já viajou o mundo todo e eternizou momentos de garotas muito diferentes, mas em suas fotos elas parecem fazer parte de um mesmo conjunto, como se compartilhassem um segredo em comum  são as garotas da Autumn. Como você aproxima de forma natural tipos tão distintos de mulheres?

Que fofo isso… Ah, eu gosto muito dessa ideia, de que todas guardam um segredo. Acho que eu vou pensar mais sobre isso.

[Risos]

Sério, eu gostei mesmo! Olha, acho que não tenho uma abordagem especial, um jeito de conquistar a modelo. Acho que quando você se atrai por alguém, digo, fotograficamente, vai ter uma coisa na garota de que você gosta muito. Então, acho que tem algo meio instintivo que você desperta nela. No geral, sim, já viajei muito, as meninas são do mundo inteiro, essas [da exposição] são todas americanas. Mas tem beleza que você nem consegue definir de fato, que você só pensa “poxa, que linda, gostei!”. Porque nas fotos, na verdade, ela está fazendo o que eu peço para fazer. Eu que vesti ela de bandeira dos Estados Unidos, eu que pedi para a moça ir lá, tipo, a menina não tá lá no deserto de salto vagando e eu tipo “ah, olha só, essa moça aí, que bonita”. Eu levei ela aos lugares. Daí acho que quando você traz os lugares, quando você está levando elas, elas vão entrando na sua onda. Então, de certa forma, você mesma se vê através das outras mulheres.

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Você está trabalhando em algum projeto novo agora? O que anda fazendo por aqui?

Estou terminando meu livro. É meu livro do Brasil, a princípio. Estou aqui vai fazer nove anos este ano e é sobre o paraíso, sobre as minhas mulheres brasileiras. Ano retrasado, fiz uma viagem de veleiro e comecei a velejar mais, pelo Brasil, pela costa. E é nisso que estou mais focada agora, no livro sobre o paraíso, meu livro do Brasil.

E rola uma mistura de histórias e imagens?

São principalmente imagens, mas tem algumas histórias. Na verdade, é nessa parte que estou trabalhando agora, que as imagens eu já fiz todas.

Desde que você começou a trabalhar como fotógrafa profissional, nunca passou pela sua cabeça escolher outro caminho?

Já, bastante. Geralmente, quando alguma coisa da errado, eu penso “vou largar toda essa merda, não quero mais saber de fotos, não vou fazer isso nunca mais”. Aí no dia seguinte você acorda e fala “não, vou tirar fotos”. Tem umas épocas em que eu viajo muito, trabalho muito, que tem cliente chato, aí eu penso que poderia virar uma professora, ter uma vida mais tranquila. Mas, cara, a fotografia me proporciona uma vida que é bastante incrível. Eu reconheço isso, eu me acho muito sortuda de poder fazer o que eu faço. Eu gosto muito e posso fazer o que bem quero, assim, 95% do tempo. Não ganho mal, eu fico bem e eu tenho pessoas muito incríveis na minha frente, quase o tempo inteiro. Me proporciona pessoas muito incríveis. Tem o André, tem a Erica, tem o Gonzo, assim, sabe? Essas pessoas que eu tenho perto de mim são pessoas que a fotografia me proporcionou. É um estilo de vida que eu gosto bastante. Obviamente, tem seus problemas. Eu tenho três casas e manter tudo isso dá um trabalho, você leva bronca, fica com saudades. Eu queria fazer mais filmes, focar mais no meu trabalho de direção.

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Você tem alguns vídeos em seu site, não é?

Ah, eu faço coisas mais curtas, que acompanham as minhas fotos. Fiz um videoclipe [da música "Sangue é Champagne", do Don L., dirigido por Erica Gonsales] e agora estou trabalhando num longa. Eu faço muito filme publicitário também.

O que você que teria feito se não fosse fotógrafa? 

Eu queria ser escritora, na verdade. Escrever e ser professora de arte. Meu primeiro amor é a palavra, a imagem veio depois. Eu lia muito, desde pequena. Eu não gostava de pessoas, gostava de livros. Eu ficava triste porque as pessoas que eu conhecia não eram tão legais como as pessoas dos livros. Elas davam roles, descobriam coisas. E eu pensava “se eu escrever, posso ter uma vida assim”. Aí eu descobri que fazendo fotos você pode ter essa vida. Eu ainda escrevo, às vezes eu escrevo matérias, alguns textos que acompanham as fotos. Porque meu lance é viver do jeito que eu vivo e poder contar as histórias de mulheres, ponto. Antes, eu achava que ia fazer isso com as palavras, hoje, faço isso pela imagem.

Obrigada, Autumn, você é incrível!

Confira mais trabalhos da Autumn em seu site: autumnsonnichsen.com

Siga a Anna Mascarenhas no Twitter: @annapmm