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Homófobos Ativos

Na última terça-feira (8), foi aprovado o requerimento da senadora Marta Suplicy (PT-SP) para desarquivar o projeto de lei 122/2006 ("Apelido: Criminaliza a Homofobia"), de autoria da então deputada Iara Bernardi (PT-SP). A gente acha fera.

Foto: Agência Brasil

Na última terça-feira (8), foi aprovado o requerimento da senadora Marta Suplicy (PT-SP) para desarquivar o projeto de lei 122/2006 ("Apelido: Criminaliza a Homofobia"), de autoria da então deputada Iara Bernardi (PT-SP). A gente acha fera, ainda mais com essa onda de espancamento de homossexuais. Mas tem uma galerinha que não tá curtindo nem um pouco. Elencamos nossos preferidos.

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Antes, alguns esclarecimentos. Com o autógrafo de mais 27 parlamentares, o PL -- engavetado no final de 2010 em obediência ao regimento interno da Casa, que estabelece o arquivamento, ao final de uma legislatura, de todas as propostas em tramitação há mais de duas delas --, volta a tramitar na Comissão de Direitos Humanos. Depois da CDH, a matéria ainda terá que ser examinada pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) antes de voltar ao plenário.

A ideia de criminalizar atos homofóbicos não é nova: foi apresentada em 2001, mas só aprovada pela Câmara em 2006 e depois passada para a relatora Fátima Cleide (PT-RO). Mas a discussão voltou à tona depois dos tais ataques a homossexuais ocorridos recentemente. O "momento é favorável" para que a coisa agora vire, dizem militantes LGBT. Para o próximo dia 19, aliás, ativistas já marcaram dois eventos que terão palco a Avenida Paulista, em São Paulo. Enfim, caso mais uma vez aprovada, segue novamente para a Câmara. Só que antes de arrasar e chegar às mãos da nova presidenta Dilma Roussef, seus termos terão que passar pelas mãos -- e pitacos -- de fofos como:

Jair Bolsonaro (PP-RJ)

Foto: Agência Brasil

Bordão: "O filho começa a ficar meio, assim, meio 'gayzinho', leva um couro, ele muda o comportamento dele" -- programa Participação Popular, da TV Câmara (18/11/10).

B.O. para a eternidade: Tendo Messias como nome do meio, foi levado pela primeira vez ao Congresso para a legislatura de 91/95. Desde então, foi reencaminhado à Casa mais cinco vezes -- inclusive para o período de 2011 a 2015, com 120.646 votos, no qual chegou a registrar candidatura para a presidência da Câmara como "protesto" (foi votado por nove congressistas). É o único parlamentar a defender abertamente o Regime Militar (diz ser sua profissão "militar"), época na qual "uns 30 mil corruptos, a começar pelo presidente Fernando Henrique Cardoso", deveriam ter sido "fuzilados" -- por essa declaração teve seu mandato suspenso por 30 dias pela Mesa Diretora, diferente do que aconteceu mais recentemente quando, ajudado pelo colega ACM Neto, viu oito representações contra si serem arquivadas, estas registradas por ter se referido à então ministra da Casa Civil, e o à época presidente Lula, de "especialista em assalto e furto" e "homossexual", respectivamente.

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O homoerotismo, aliás, tem sido a principal questão debatida por esta excelência, membro da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, nos últimos tempos. Depois de ter defendido a tortura no caso de traficantes (e não "pena de morte", já que isso iria "inibir o crime"), se referido à deputada Maria do Rosário como "vagabunda" -- e ser absolvido, em 2003, da representação movida contra ele por este episódio -- e sido banhado por um copo d'água atirado por um índio ("porque não tinha uma flecha"), Bolsonaro voltou aos holofotes graças à sua resistência ao chamado Kit contra a Homofobia, a ser distribuído pelo MEC em 6 mil escolas públicas a partir de março. "Isso é uma imoralidade que o Ministério da Educação está fazendo juntamente a grupos LGBT, que não têm nada a oferecer no tocante a currículo, a bons costumes, a ética e moral, para a garotada do primeiro grau. É inadmissível que a garotada de seis, sete, oito, nove, dez anos, receba essa carga, dita combate à homofobia, mas que na verdade promove o homossexualismo e a promiscuidade", disse antes de ser sugerido, pelo deputado Domingos Dutra (PT-MA), que mudasse seu nome para "Jair Dinossauro, que ele tá nas cavernas, na pré-história". Também é conhecido pelos colegas da reserva do Exército como "cavalão". Dizem que se depila.

A família Bolsonaro, na política, ainda é composta por dois filhos: Carlos, 28, que com 17 anos foi eleito vereador carioca e hoje está no seu terceiro mandato, e Flávio, 29, também pela terceira vez consecutiva deputado estadual do RJ.

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Marcelo Crivella (PRB-RJ)

Foto: site do senador

Bordão: "A Bíblia diz que o homossexualismo é pecado. Eu também acho."

B.O. para a eternidade: Dissidente do Partido Liberal, bastante atingido pelo mensalão, do qual saiu para a formação do PRB junto com o restante do núcleo evangélico de seu ex-partido. Bispo licenciado e sobrinho do criador da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo, é um dos senadores da linha de frente do rebanho de evangélicos na cruzada contra o projeto de lei que tipifica crimes homofóbicos. Ele, junto a outros parlamentares como Magno Malta (PR-ES, também pastor), já conseguiu o adiamento da votação do projeto de lei mais de uma vez -- pediam por audiências públicas antes que a pauta fosse votada. "Quero deixar claro que respeito os homossexuais, aos quais se deve garantir os direitos, tanto no plano dos direitos humanos quanto no plano dos direitos à cidadania. Mas não posso entender essa tentativa de punir como preconceito a manifestação de um pensamento crítico contra o homossexualismo em geral. Que seja respeitado também o direito de poder educar seus filhos no caminho ditado por sua própria consciência, que for de formar família, e poder dizer que o homossexualismo é errado. E que a lei não tente arrancar da Bíblia palavras escritas por Moisés, que nos adverte, há 4 mil anos, de que o homem que deita-se com outro homem, como se mulher fosse, comete diante dos olhos de Deus uma abominação", já discursou no Senado.

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É a favor de uma versão mais branda do projeto. Chegou a enviar à então relatora Fátima Cleide (PT-RO, não reeleita), proposta de alteração, assinada pela Frente Parlamentar da Família e Apoio à Vida, na qual eram sugeridas mudanças no Artigo 1º (do original "[…] definindo os crimes resultantes de discriminação, preconceito de gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero" para "definindo os crimes resultantes da discriminação ou preconceito"), 2º e 3º (no qual permaneceria apenas "crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião, procedência nacional e sexo"), além de excluir trechos que pudessem colidir com costumes evangélicos, como o artigo 5º, no qual ficaria passível de punição qualquer ato que visasse "impedir, recusar ou proibir o ingresso ou permanência em qualquer ambiente ou estabelecimento público ou privado, aberto ao público", com "reclusão de um a três anos". "Isso mata o projeto", acredita a senadora. "A lei não pode ser radical", defende Crivella.

Encontrou-se recentemente com a presidenta Dilma Roussef, a quem deu apoio durante a eleição, para tratar do assunto. Segundo ele, a ex-ministra "respondeu que este é um problema do Congresso, não do Executivo". Atualmente, toca seu segundo mandato como senador -- recebeu o apoio de Lula. Antes disso, concorreu à prefeitura do Rio de Janeiro. Sobre o adversário Fernando Gabeira (DEM), teceu: "[Ele] não consegue coagular as propostas de todo esse bloco de candidatos. Além do mais, defende o aborto, homem com homem e maconha. Essas coisas são fortes." Também teve seu nome envolvido em polêmicas referentes a bens da IURD e Polícia Federal.

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Magno Malta (PR-ES)

Bordão: "Se nós aprovarmos esse texto, dizendo que não podemos discriminar a opção sexual, pra mim legaliza a pedofilia" -- discurso no Senado.

B.O. para a eternidade: Já foi vereador de Cachoeiro do Itapemirim, deputado estadual e federal, e agora cumpre seu segundo mandato como senador -- teve a segunda maior votação do Espírito Santo, 1.285.177 votos. Já passou pelos PTB, PMDB e PL. Levanta bandeiras contra o narcotráfico e pedofilia, esta última, segundo ele, uma possibilidade de desdobramento caso o PL 122 seja aprovado como está. "O pedófilo, por orientação do advogado, vai dizer: 'diga ao juíz que é sua opção sexual'. E ele vai dizer: 'É a minha opção sexual, crianças de nove anos, meninas de sete anos de idade. E então não poderão ser tratados como loucos ou criminosos". Para ele, trata-se de uma pauta "inconstitucional" por estar "eivado de sutilezas", o que acabariam por criar um "império do homossexualismo no Brasil". Chegou a criticar manobra para a votação do projeto. Foi, segundo levantamento, o senador que menos compareceu a sessões da Câmara Alta -- de acordo com ele, "consequência de sua atuação na CPI da Pedofilia". Chegado ao pastor Silas Malafaia, já foi indiciado pela Polícia Federal por formação de quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso da máfia das sanguessugas, mas foi absolvido.

Pastor Silas Malafaia

Foto: agência O Dia

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Bordão: "Grupos homossexuais querem botar uma mordaça gay na sociedade" -- em seu programa.

B.O. para a eternidade: Não atua oficialmente na política, mas como "cidadão". Foi o pastor da Associação Vitória em Cristo que conversou com Indio da Costa (DEM-RJ) -- que depois assumiu o plano de vetar o projeto caso Serra fosse eleito. "É uma lei esdrúxula, vergonhosa. Não é ser contra o direito dos homossexuais, é ser contra criminalizar quem é contra a prática homossexual", disse Malafaia. A expressão "mordaça gay", usada pelo evangélico em um de seus programas transmitidos pela Band -- contra o qual o Ministério da Justiça chegou a abrir processo --, virou slogan de um movimento contra a lei anti-homofobia. Coordenou uma manifestação de mil fiéis contra o projeto em frente ao Congresso, em 2006, quando entregou nas mãos de Malta documento contra a matéria. Espalhou 600 outdoors pelo Rio de Janeiro com mensagens entendidas como homofóbicas pela comunidade gay. "Qualquer homossexual que confessar o seu pecado, receber Jesus como Salvador e obedecer à Sua Palavra, poderá tornar-se um heterossexual, poderá ser recuperado e liberto. Jesus tem poder para isto", registrou em uma de suas mensagens.

Esse é o topete do filho dele, Silas Malafaia Filho. Estranho o convite?

Julio Severo

Foto: arquivo pessoal

Bordão: "Se puder ajudar a colaborar comigo e com minha família, por favor ore e também envie contribuições, pois é um momento de necessidade para nós" -- em seu site.

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B.O. para a eternidade: "Escritor" e ativista cristão. Abandonou o Brasil, em 2009, como "única alternativa" depois que o o Ministério Público Federal aceitou queixa da Parada do Orgulho Gay de São Paulo e outras organizações LGBT contra o conteúdo "homofóbico" veiculado em seu blog, que chegou a ser retirado do ar pela Google do Brasil -- decisão essa revertida depois de alguns dias. "Diante desse absurdo, vi-me forçado a sair do país com minha família: uma esposa com gravidez avançada e duas crianças pequenas. Eu queria poder aqui registrar publicamente os nomes de todos os que me ajudaram a fazer esta difícil viagem ao exterior, mas não ouso fazê-lo, consciente de que o MPF não poupou nem mesmo um amigo meu inocente. Só revelarei que o grande filósofo brasileiro Olavo de Carvalho muito colaborou. Se o MPF quiser processá-lo, a localização dele está nos EUA."

Desde o "exílio", pede colaboração financeira a quem quiser apoiar, disponibilizando sua conta bancária, em carta aberta aos "amigos", para eventuais depósitos. É autor do livro Orações Proféticas, da editora Betânia, além de e-books intitulados A Agenda Gay e a Sabotagem dos Direitos Humanos, As Ilusões do Movimento Gay. Diz-se decepcionado com Magno Malta e criticou a candidata à presidência e ex-senadora Marina Silva (PV-AC) por defender o asilo político de Cesare Battisti. Onde estás, Carmen Sandiego?

Roberto Requião (PMDB-PR)

Foto: Agência Brasil

Bordão: "Embora hoje o câncer de mama seja uma doença masculina também. Deve ser consequência dessas passeatas gay" -- Escola de Governo (outubro de 2009).

B.O. para a eternidade: Depois dessa frase tentou se retratar, ainda governador do Paraná, aprovando a lei que instituiu o Dia Estadual do Combate à Homofobia. Voltou ao senado para a legislatura de 2011 a 2019.

TEXTO POR EQUIPE VICE BR