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Outros

Bombei na Escola de Sereias

Mesmo escolhendo meu próprio rabo, falhei miticamente

Todas as fotos por Stacy Lee.

Sereias me deixam confuso. Sexualmente falando. Elas geralmente são retratadas como loiras lindas de topless, penteando o cabelo numa concha ou pedra, enquanto água do mar escorre majestosamente pelo seu corpo nu. Mas elas também são metade peixe. O que significa ficar incomodado com isso? Não é necessariamente uma coisa ruim. É só um negócio sexualmente desorientador; então, geralmente evito pensar em sereias, a menos que eu seja obrigado.

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Por isso, quando ouvi falar das "aulas de sereia" acontecendo em Montreal, fiquei igualmente curioso e ansioso. Eu só sabia que isso se chamava Aquasirene e que era uma aula de uma hora num centro de recreação com piscina, onde o pessoal te veste apropriadamente e te ensinava a nadar como uma sereia. Eu não saquei se a história era uma piada, uma aula de ginástica bizarra ou um encontro realmente sério para gente que se identifica com sereias. A US$ 60 a aula, isso tinha de ter alguma seriedade, mas eu queria mesmo conhecer o tipo de pessoa adulta que leva sereias tão a sério? Decidi que precisava saber mais sobre isso; então, me inscrevi para a aula num domingo e parti para a piscina.

Chegando lá, espiei pela janela da piscina no caminho até o vestiário e vi uma cena bem normal: 20 e tantas mulheres sentadas na beirada de biquíni e rabos de tecido colorido brilhante pendurados num rack próximo. Entrei no vestiário masculino vazio e coloquei minhas coisas num armário enferrujado. Quando olhei por cima do ombro, outro cara entrou e colocou sua mochila num dos bancos.

"Você também vai fazer a aula de sereia?", ele perguntou, nervoso.

"Sim", respondi. "Por que você decidiu participar?"

Ele riu. "É uma longa história. Você trouxe seu snorkel?"

"Quê? Não. Tinha que trazer snorkel?"

"Sei lá, cara. Não faço a menor ideia do que vai acontecer."

Ele disse que se chamava Mikael e apertamos as mãos. Ele parecia empolgado e assustado ao mesmo tempo, mas nossa confusão mútua foi reconfortante. Mikael parecia um cara legal.

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Atravessamos um túnel até a piscina, onde uma mulher, que assumi ser a pessoa com quem eu tinha trocado e-mails, me cumprimentou com uma prancheta apoiada no braço. Marielle era magra e bonita: quando ela me olhou com seus grandes olhos castanhos e seu sorriso de comercial de pasta de dente, engoli em seco e minhas mãos começaram a suar.

"Venham comigo e vamos escolher seus rabos", ela falou.

Eu pude escolher de uma pequena seleção de rabos masculinos, um pouco maiores que a versão feminina. Escolhi um rabo azul escuro de ponta branca. Olhei para o Mikael, que estava sentado ao lado com um rabo similar, e ele me acenou afirmativamente.

Estávamos cercados por mulheres de 20 e poucos anos que conversavam animadas.

Enquanto colocava meu rabo e olhava a cena em volta, percebi o quão deslocado eu estava. Eu nem gosto de sereias; na verdade, nem de nadar. Eu já imaginava, mas as outras alunas gostavam MUITO de sereias. Nada disso parecia a piada que todo mundo estava compartilhando no Facebook. Elas ficavam olhando para seus rabos de sereias de um jeito selvagem. Elas estavam felizes e conversando, mas por dentro pareciam ter um foco de mira laser. Era como se elas estivessem esperando por esse dia há muito tempo, e nada nem ninguém ia estragar isso.

Deslizei meus pés pelo elastano até a nadadeira embaixo. Vicky, uma das instrutoras, me ajudou a fechar o rabo. Vi uma garota de rabo rosa posar para fotos e fiquei pensando em como ia abordar isso tudo. Apesar do conceito ridículo e da energia ligeiramente psicótica, parte de mim queria levar isso a sério. Eu tinha me inscrito e comparecido. Não tinha por que nadar por aí sarcasticamente durante uma hora. Mas, com esse comprometimento, eu arriscava a possibilidade de um novo nível de vergonha, o de tentar ser um tritão e fracassar. Como um atleta competente, eu estava convencido de que tudo ia dar certo, independentemente do que estivesse à frente.

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Vickie entrou pelo lado raso da piscina e encarou a fileira de alunos sentados na borda. Ela explicou, com movimentos grandes e animados, como íamos nadar com nossos rabos até o outro lado da piscina. Ela tinha uma presença reconfortante estilo irmã mais velha, como se tivesse sido a babá favorita ou a conselheira de acampamento de todo mundo ali.

Entramos na piscina com pranchas; em seguida, alguns dos nadadores mais fortes saíram na frente graciosamente. O resto ficou batendo o rabo em movimentos aleatórios, indo a lugar nenhum. Tentei desesperadamente pegar algum impulso, mas acabei me contorcendo inutilmente como uma minhoca na calçada quente. Quase todo mundo já tinha me ultrapassado nesse momento; então, desisti e puxei meu corpo imóvel para frente com os braços.

Não foi um bom começo.

Quando chegamos no outro lado, Vickie afirmou, pacientemente, que eu precisava mover o corpo todo junto, empurrando minha bunda para cima e para baixo. Eu já estava sendo rotulado como o elo mais fraco, mesmo que gentilmente. Aí tivemos de boiar de costas e remar suavemente por toda a largura da piscina. Um a um, todos os alunos deslizaram como uma cascata colorida, enquanto eu tentava teimosamente levantar meu rabo para fora da superfície. Em toda tentativa, eu só conseguia afundar minha cabeça na água, levantando sem fôlego como uma lontra tendo uma convulsão. Vickie veio segurar o meu rabo e Marielle se aproximou, visivelmente preocupada.

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Eu estava ficando puto por estar indo tão mal, mas tentei não desanimar. Eu me debati até a beirada e juntei algum otimismo para o próximo exercício. Segui a Vickie com movimentos de braço para tentar entender a técnica.

Respirei fundo, empurrei a parede e afundei de um jeito patético, negando totalmente o meu fracasso por um momento, tipo quando o Coiote do Papa-Léguas pisa fora da beirada do penhasco.

Nesse ponto, eu tinha me mexido tanto dentro da nadadeira que meus pés tinham escapado, boiando sem destino na parte de elastano do rabo. Saí da água para tentar ajustar meu traje. Marielle me viu e correu para me ajudar, sorrindo e brilhando com a água da piscina. Arrumei meus membros, envergonhado, e voltei à água.

Vickie mostrou como conseguia esticar as pernas para fora da água, uma habilidade que ela aperfeiçoou em dez anos de nado sincronizado. Fiquei impressionado e olhei para minhas pernas azuis patéticas abaixo.

Em seguida, Vickie nos mostrou como nadar de lado, o que me deu alguma chance de respirar, mas que basicamente teve o mesmo destino do último exercício. Meu rabo estava começando a me irritar. Ele prendia minhas pernas juntas com uma coisa enorme na ponta, obviamente para fazer todos os meus movimentos serem trabalhosos e inúteis. Isso não estava me ajudando a deslizar majestosamente pela água como um maldito tritão grego. Até agora, eu só tinha praticado formas diferentes de me afogar usando elastano azul brilhante.

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Busquei consolo no fato de que os rabos masculinos eram um pouco maiores e mais difíceis de manobrar, mas isso não era realmente uma desculpa. Vi o Mikael espirrando água alegremente com a namorada, provavelmente a "longa história" que ele tinha mencionado. Bom pra vocês, gente. Fico feliz.

Eu estava começando a me sentir amargo. Meu rabo não era mais bonitinho ou irônico. Era o objeto de um fracasso lento e total. Nesse ponto, Vickie pediu para escolhermos um parceiro; então, me juntei com a outra pessoa que falava inglês além de mim, Theresa. Ela parecia uma garota muito fofa, e me senti mal por estragar a próxima parte da aula para ela. Eu me desculpei antecipadamente.

"Sempre gostei muito de sereias", ela frisou, olhando para a água ondulante.

Vickie veio e explicou que íamos nos juntar, segurando no rabo do outro, para nadar como uma unidade.

"Acho que, hum, é melhor ela ir na frente?", Vickie sugeriu, tentando não ferir meus sentimentos.

Tentamos fazer o exercício, mas inevitavelmente afundei nós dois. Nos atrapalhamos no meio da piscina, cercados por casais muito mais ágeis. O som da água espirrando e das risadas ricocheteava nas paredes da piscina, enquanto continuávamos fracassando.

A aula parecia apenas diversão na superfície, mas as pessoas ali tinham achado que valia a pena pagar US$ 60 por isso. Eu me senti realmente mal por estragar tudo involuntariamente.

Então, a classe inteira deu as mãos para nadar junta numa única fileira.

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Isso também não deu certo por minha causa. Afundei e quebrei a fileira como um completo peso morto, desorganizando a coisa toda. Nesse momento, eu era essencialmente um tritão deficiente físico – e fiquei ressentido com isso. Eu estava atrasando todo mundo. Se morasse numa cidade submarina de sereias, eles teriam de construir entradas especiais pra mim em bibliotecas e hospitais.

Depois, descobrimos o quanto conseguíamos nadar embaixo da água num fôlego só. Eu não estava realmente respirando direito desde que a aula começou; então, até que fui bem. Respirei fundo e me impulsionei para frente com os braços, arrastando minhas pernas mortas e fundidas atrás de mim. Fui até que bem, alimentado pela minha força bruta e amargura.

Nadei por 3/4 da piscina. Impressionada e surpresa, Vickie veio e exclamou: "Uau, isso foi realmente muito bom".

Depois disso, realizamos um exercício na beira da piscina, fazendo uma onda com nossos rabos. Eu já tinha desistido nessa hora, mas estava tentando ser um bom perdedor.

No final, tivemos um jogo de pega-pega seguido de um tempo livre. Eu me senti meio juvenil, mas estávamos vestidos de criaturas inexistentes mesmo. Então, fiquei remando relutantemente numa boia; depois, sentei na beira da piscina, batendo meu rabo na água.

A aula acabou, e eu fiz uma cara de coragem para falar com a Marielle sobre como tudo começou. Ela contou que, como tinha experiência como modelo e com esportes aquáticos, decidiu combinar isso. E, como todo mundo ali, ela também adorava sereias. Ela parecia tão emocionada e cheia de vida enquanto descrevia sua escola de sereias que comecei a me animar um pouco.

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Todo mundo se alinhou com seus rabos na parte rasa da piscina para uma foto, e eu fiquei ao lado da Theresa.

Fiquei pensando no que tinha acontecido naquela aula no geral. Isso acabou sendo mais uma aula de hidroginástica do que uma chance para as pessoas atualizarem sua obsessão agressiva e histérica por sereias. Julgando pelas carinhas vermelhas e alegres – e vendo todo mundo brincar na piscina com seus rabos –, acho que as pessoas realmente curtiram a experiência.

Tirei meu rabo e fiquei ali, abatido e tremendo um pouco, na beira da piscina. Eu tinha aprendido muito sobre mim mesmo e meus limites. Eu simplesmente não tinha o necessário para ser um tritão. Dei tchau para a Marielle e a Vickie e me troquei num silêncio humilde. Você não sabe o que é vergonha, fracasso e perda de dignidade até sentir isso usando a fantasia de uma criatura mítica.

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Tradução: Marina Schnoor