FYI.

This story is over 5 years old.

Discover America

Iris Apfel, It Girl de 93 Anos, Não Faz a Linha Bonita

Autoproclamada “aspirante a estrela geriátrica” é tema do novo documentário do icônico Albert Maysles, lançado em abril nos EUA.

Da coluna 'Discover America'

O telefone fixo de Iris Apfel não para de tocar durante nossa entrevista de uma hora no apartamento do Upper East Side, em Manhattan.

"Ai, saco", reclama Iris antes de pedir licença para atender a primeira ligação. "Como você está, minha querida? Ah, eu? Péssima."

Ela atende quatro telefonemas e recusa um entre goladas de sopa de kneidlach (bolinho típico da culinária judaica), pedindo desculpa toda vez pela interrupção. "Está até tranquilo", garante.

Publicidade

Seria de se imaginar que Iris já estaria acostumada com sua cota e mais um pouco de interrupções na hora do jantar. Desde que vendeu a Old World Weavers, empresa têxtil especializada em tecidos fora de linha fundada ao lado do marido Carl, com quem está casada há mais de 60 anos, Iris surgiu como designer venerável e ícone da moda, e não foi pouco que seu estilo pessoal singular teve parte nisso.

"Quando o assunto é moda, não gosto de regras", destaca. "Outras pessoas podem até achar bom, mas eu não preciso disso." Miscelânea maluca de jóias antigas e roupas vintage selecionadas nos anos de garimpo em busca de tecidos raros em mercados de pulgas, souks, bazares e lojas especializadas de todo o mundo, os looks imaginativos de Iris transformam o simples ato de se vestir em uma fantástica forma de arte. E, claro, não podem faltar os enormes e redondos óculos pretos, sua marca registrada. "As pessoas perguntavam: 'Por que esses óculos tão grandes?'", relembra Iris. "E eu respondia: 'Para te ver maior!' Isso calava a boca delas."

Assim, nos últimos dez anos, Iris foi tema de uma exposição solo no Instituto do Figurino do Museu Metropolitano de Arte de Nova York, colaborou em uma série de maquiagens da MAC Cosmetics, desenhou uma linha de roupas e acessórios para a rede de televisão norte-americana Home Shopping Network, estrelou em grandes campanhas publicitárias (é a atual garota-propaganda da Kate Spade e da Alexis Bittar) e, mais recentemente, protagoniza o documentário Iris, lançado nos Estados Unidos em abril e assinado por Albert Maysles, morto em março.

Publicidade

Gravado ao longo de quatro anos, Iris é muito mais do que a soma de suas partes (ainda que glamorosas). "Esse era o meu único medo ao fazer esse filme: ser mostrada como uma fashionista sem nada na cabeça. Felizmente não fui." Sim, Iris senta na primeira fila em desfiles, socializa com amigos da moda como Jenna Lyons e Dries Van Noten e examina prateleiras de produtos vintage da Moschino e Oscar de la Renta, mas o filme sutilmente revela o que está por baixo de um exterior muitas vezes envolto em um casaco de plumas. "Não tinha roteiro, não tinha escaleta", explica Iris sobre o estilo cinema-verdade que é marca de Maysles. "Eu não fazia ideia nenhuma de como ia ser o filme. Foi tudo feito na fé cega."

Iris admira a moda e é figura cativa do tapete vermelho, mas é também esposa carinhosa e amiga fiel. Preocupa-se com a própria saúde e com a do marido, mantém um fascínio infantil por animais de pelúcia, confronta estereótipos de gênero nas escolhas de roupa (ela afirma ter sido uma das primeiras mulheres a usar calça jeans) e diz "não ser uma pessoa bonita".

Ainda assim, a autoproclamada "aspirante a estrela geriátrica" tem dificuldade de entender a sempre crescente popularidade. "Não param de falar de mim, mas não sou diferente do que era 70 anos atrás", afirma Iris. "Sei lá, agora sou cool… Sou novidade…"

Quando perguntei – meio brincando – se ela ainda se sente uma pessoa reservada depois do lançamento do documentário, a resposta imediata foi: "Sim. Ainda tem muita coisa a meu respeito que é muito particular."

Publicidade

Claro que uma pessoa reservada de verdade jamais deixaria uma equipe de filmagem acompanhá-la durante anos? Mas Iris nunca é óbvia. Muito como as mulheres do clássico Grey Gardens de Maysles, ela é cativante tanto pela divergência intencional das normas sociais quanto pelo simultâneo desinteresse pela atenção que atrai por viver a vida fora das expectativas alheias. "Não quero ser rebelde nem ofender ninguém", explica, "mas com certeza não vou viver à imagem de outra pessoa".

Se ela não "faz pelas curtidas" como todos nós, do que tem mais orgulho? "De durar todo esse tempo", diz simplesmente.

Outro telefonema é atendido e terminado, e Iris mais uma vez volta a se concentrar. Ela dobra as mangas do roupão felpudo branco e revela duas pulseiras pretas em cada pulso. "Eu me sinto nua sem elas", brinca.

Iris esfrega os braços com delicadeza quando de repente tem um estalo. "Ah, esqueci de te contar, vou escrever outro livro!", diz animada. "Só de meditações. Algumas frases soltas e artigos, ou fotografias e rascunhos. Sempre esqueço de contar para as pessoas!"

Está claro que o telefone vai continuar tocando e Iris vai seguir com essa existência rara, sem se inibir com julgamentos alheios nem se deixar afetar pela fama. Sua vida é extraordinária, colorida em tons vibrantes de turquesa e amarelo néon, com a trilha sonora do tinir das muitas pulseiras de acrílico que se acumulam em seus antebraços delgados.

Iris (Magnolia Pictures) foi lançado nos Estados Unidos no dia 29 de abril.

Créditos:
Texto: Clarke Rudick
Fotografia: Kathy Lo

Tradução Aline Scátola