Jardim Gramacho "Comemora" Três Anos de Desativação de Lixão
Felipe Paiva, R.U.A Fotocoletivo

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Jardim Gramacho "Comemora" Três Anos de Desativação de Lixão

Há três anos, uma lei que define o fechamento do aterro da região do Jardim Gramacho foi decretada, trazendo muita incerteza para a comunidade que, apesar de viver em condições desumanas, possuía uma garantia de sustento.

Jardiel Carvalo, R.U.A Fotocoletivo.

Coladinho no glamour carioca, Jardim Gramacho pode ser facilmente acessado. A 30 minutos de carro da capital fluminense, a região pertence ao município vizinho do Rio de Janeiro: Duque de Caxias. Há três anos, uma lei que define o fechamento do aterro da região foi decretada, trazendo muita incerteza para a comunidade que, apesar de viver em condições desumanas, possuía uma garantia de sustento.

Tércio Teixeira, R.U.A Fotocoletivo.

Com o fechamento oficial dos lixões, a promessa do governo era de que melhorias na região entrariam em curso para aumentar a qualidade de vida da população que ali habitava, porém, até agora, praticamente nada foi feito. Pelo contrário, a vida piorou.

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Tércio Teixeira, R.U.A Fotocoletivo.

Uma das poucas promessas cumpridas foi a de que seria pago um valor de quase 14 mil reais para pessoas que trabalhavam como catadores nos lixões. Alguns gastaram tudo com futilidades, mas a grande maioria tentou melhorar a vida da família. Elaine, 36, conta que tentou usar o dinheiro para construir um quarto em seu barraco, mas o dinheiro foi insuficiente e a construção está pela metade. Marcos, pai de quatro filhos, diz que teve de dividir a grana entre comida, contas e uma obra no fundo do seu barraco cuja duração já ultrapassa os dois anos. Seu Marcos conta também que usou parte do dinheiro para conseguir se mudar de um lado da comunidade para o outro, onde havia mais movimento e sua mulher poderia vender bolos e salgados que produzia em casa.

Construção de novos cômodos nos fundos do barraco do Marcos que já dura 2 anos. Foto: Felipe Paiva, R.U.A Fotocoletivo.

Hoje muitas pessoas, porcos, cachorros e gatos ainda vivem do lixão que, apesar de clandestino, ainda existe. Uma moradora que não quis se identificar estava coletando restos de comida para dar a seu cachorro.

Tércio Teixeira, R.U.A Fotocoletivo.

Apesar das dificuldades, existe uma esperança para as gerações futuras. Uma das melhorias na qualidade de vida da população local vem do espaço de convivência Ide Missões, idealizado pelo pastor Anderson. Além de missionário, ele é professor de judô e jiu-jitsu e faz do esporte uma das principais atividades para as crianças. Anderson nos contou que já tirou diversas vezes algumas crianças das mãos do tráfico e das bocas. Eles já até conseguiram conquistar troféus para dar ânimo a todos que veem o crescimento do espaço. No futuro, Anderson pretende construir uma quadra, ministrar aulas para vestibular, oferecer workshops de fotografia, dentre outras ideias.

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Isabella Lanave, R.U.A Fotocoletivo

Durante nossa visita, uma ação da polícia na região pegou todos de surpresa. Por volta das 17 horas, bem na hora em que as crianças voltavam da escola para suas casas, uma troca de tiros começou entre bandidos e policiais. Nós entramos na casa do seu Marcos correndo junto com toda a família, que estava conversando na porta de casa. Lá dentro, todos deitaram no chão para garantir que não eles seriam alvo de "bala perdida". O pânico da Simone, moradora que nos acompanhou por todo o trajeto, acabou afetando os moradores da casa; porém, as crianças não tinham noção do perigo ou já estavam acostumadas a viver em perigo, pois elas brincavam e davam risadas.

Tércio Teixeira, R.U.A Fotocoletivo.

Meia hora mais tarde, já não se ouvia mais tiros;aos poucos, os moradores foram saindo de suas casas e preenchendo a pequena rua cheia de lixo. A vida voltou ao normal, e fogueiras começaram a ser montadas para espantar mosquitos. Aproveitamos a calmaria para nos despedir e irmos embora com a promessa de que voltaríamos.

Tércio Teixeira, R.U.A Fotocoletivo.