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‘KBELA’: quando o cabelo da mulher negra vira filme

É a partir do cabelo crespo da mulher negra que surge KBELA, filme de Yasmin Thayná, uma estudante de comunicação de 22 anos.

É a partir do cabelo da mulher negra que surge KBELA, filme de Yasmin Thayná, uma estudante de comunicação de 22 anos. "O cabelo crespo é um cabelo político porque ele é rejeitado o tempo todo", diz. Feito a partir de um financiamento coletivo que arrecadou módicos 5 mil reais, o curta-metragem conta com mulheres negras na frente e atrás das câmeras para levar ao cinema conteúdo crítico e político, além de representatividade. A previsão de estreia é para agosto deste ano.

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Foto: Divulgação

Gravado em dois dias num castelo de Santa Teresa, bairro histórico da cidade do Rio de Janeiro, o filme surge do conto Mc K-bela, feito pela própria Yasmin, retratando suas dores durante a infância e adolescência – períodos nos quais o processo de aceitação e entendimento da negritude é latente. "O filme conta a história do cotidiano das mulheres negras, dos processos embranquecedores [em] que somos colocadas durante toda a vida", explica a cineasta.

As atrizes surgiram depois da veiculação de um anúncio convocando mulheres negras para participarem de uma produção independente. Em três dias, mais de 100 e-mails do Brasil todo chegaram à caixa de entrada de Yasmin. "Percebi o quanto o cabelo está ligado ao processo de formação de identidade da mulher negra", relata. "Não tem quase nada a ver com vaidade, e, sim, com afirmação, com política. O cabelo crespo é rejeitado o tempo todo pelos meios tradicionais de comunicação – que é quem cria e influencia os nossos desejos, as nossas relações sociais. É quem dita o que é bonito, confiável, bom e emocionante." Yasmin cita uma pesquisa elaborada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro destacando que, nos últimos 10 anos, apenas 4.4% das atrizes no elenco principal de filmes nacionais eram negras.

Crédito: Divulgação

Para somar na questão da representatividade, uma atriz transexual foi convidada a atuar, já que, para a cineasta, "não dá para enfrentar o racismo sem discutir o transfeminismo negro".

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Crédito: Divulgação

A obra é colaborativa. Tudo ali foi emprestado ou cedido por alguém. Do castelo aos figurinos, das lentes das câmeras até o material de elétrica. O dinheiro coletado no financiamento coletivo serviu para pagar a alimentação, o transporte e a estadia para a equipe. "Quem tem rede, tem tudo. A internet é genial."

Crédito: Divulgação

Ainda sem local de exibição estabelecido, KBELA irá aparecer também em outros formatos. O objetivo é transformá-lo em um projeto multimídia. De qualquer maneira, o primeiro passo foi dado. "Tem pouca mulher preta no cinema nacional, e, pra mim, o KBELA vem pra mudar isso. Espero que filmes feitos por mulheres negras multipliquem."

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