"Chegou a hora de mostrarmos nossa força dentro de casa"

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"Chegou a hora de mostrarmos nossa força dentro de casa"

Leandrinho chama a responsabilidade pras Olimpíadas e diz que, apesar das enormes dificuldades, crê que poderá fazer o que David Luiz não conseguiu com o futebol: trazer alegria ao povo brasileiro.

Leandrinho não cansa. Mesmo depois da rotina esmagadora de treinos e jogos da NBA, o ala-armador paulista de 33 anos não tem tempo para descanso – nem para lamentar a derrota de seu clube, o Golden State Warriors, para o Cleveland Cavaliers na final da liga. O foco de um dos principais jogadores brasileiros de basquete está na seleção, uma das mais promissoras desde o título Pan-Americano de 1987. "A expectativa é a melhor possível", nos contou, otimista e com os pés 46 no chão, entre uma viagem e outra. "Confio no grupo e estamos trabalhando há anos visando este momento." Os últimos quatro anos, diz Leandrinho, serviram de reflexão. Desde a derrota para a Argentina nas quartas-de-final das Olimpíadas de Londres, em 2012, a seleção brasileira traça planos para chegar mais longe. "Não é uma receita de bolo. As coisas precisam acontecer de forma planejada", diz. "Temos um objetivo que vem sendo traçado há anos e é preciso seguir passo a passo. Fizemos uma boa campanha em Londres, o que muita gente não esperava, e o trabalho continuou. Chegou a hora, agora, de mostrarmos a nossa força dentro de casa."

É difícil de marcar, rapá. Foto: Gaspar Nobrega/Gazeta Press

E qual é o papel de Leandrinho nessa empreitada? Bem, sem dúvida a de ficar na linha de frente. Afinal, The Brazilian Blur [o "borrão brasileiro", em referência a sua velocidade em quadra] tem história única na Meca do basquete. Com partidas memoráveis no currículo, já fez chover nas quadras americanas. Seu maior trunfo rolou em 2009 quando, com a camisa do Phoenix Suns, marcou 41 pontos — o seu recorde — dos 140 contra o Oklahoma City Thunder. Driblou, usou a tabela, acertou vários lances livres e fez muitas cestas de três pontos. "Na época, havíamos perdido o Amar'e Stoudemire, que era um de nossos pilares, e precisávamos responder à altura", diz. "Fizemos mais de 140 pontos em jogos consecutivos. Foi inesquecível." Agora a missão é fazer o mesmo com a camisa verde. Os mais críticos podem dizer que Leandro Mateus Barbosa ainda não é protagonista em terra de Jordans, Johnsons e Bryants. Ainda assim, seus números são impactantes: foram 535 partidas, e 6578 pontos, em duas passagens pelo Phoenix Suns, e 2050 pontos por Toronto Raptors, do Canadá, Indiana Pacers, Boston Celtics e atualmente é um dos jogadores mais queridos, pelo elenco e pela torcida, no Golden State Warriors, que tem entre seus atletas o monstrinho Stephen Curry. (Ele é categórico ao eleger o melhor jogador que já esteve ao seu lado em quadra: "Steve Nash.") Ele também tem um título de NBA, conquistado na temporada retrasada, e um vice. Tem como achar pouco relevante? Os feitos dele são ainda mais impressionantes se levarmos em conta as dificuldades de sua trajetória. Ela começou lá atrás, nas quadras capengas de Pirituba, região noroeste da capital paulista. Aos 17 anos jogou pelo Palmeiras, fez duas temporadas no Bauru e seguiu para os Estados Unidos. "Quando crianças, sempre sonhamos em tornarmos jogadores, esportistas, mas acho que só mais perto da fase adulta que percebi que poderia chegar lá", diz. "Você passa a ter mais dimensão de toda a coisa e chega à conclusão de que o sonho pode se tornar realidade." O senso de realidade também implicou numa visão menos glorificada do esporte. Leandrinho conta que a rotina de um ala-armador da NBA e da seleção brasileira de basquete não é sopa. As conquistas e a precisão não vêm fácil – e jamais virão. "É bem corrido", diz, bem-humorado. "Depende do dia, mas muitas vezes treinamos dois períodos, viajamos logo em seguida e ainda jogamos à noite. É um pouco cansativo, mas no fim das contas sempre vale a pena. São sacrifícios que fazemos pelo que amamos."

Esperamos por mais cenas como essa. Foto: Wander Roberto/Gazeta Press

Assim como qualquer ser humano, Leandrinho também teve suas entressafras. Ele fala com honestidade sobre os dias nublados de sua carreira. "Acredito que os meus piores momentos foram as lesões. As cirurgias no joelho e no ombro, o processo de recuperação, a retomada de confiança…É uma fase bem complicada, mas que me fez crescer e tirar forças de onde jamais imaginava ter. São aprendizados e experiências que te fazem uma pessoa e um atleta maior", analisa. Sua eterna lição é a de não desanimar e trabalhar duro. Ao menos é isso que ele quer passar para seus companheiros de seleção antes das Olimpíadas. Leandrinho confia no poder brasileiro de superar as adversidades. "Estamos muito atrás das grandes potências mundiais", diz, ao comentar sobre o porquê temos tão poucos atletas na NBA. "Difícil apontar uma só dificuldade como a maior, são tantas. Falta de estrutura, planejamento, falta de incentivo ao esporte, de investimentos." Ainda assim, ele relembra, temos seis títulos Pan-Americanos, 18 Sul-Americanos e dois mundiais. Imagina se tivesse incentivo maior? Enquanto o apoio necessário não vem, Leandrinho chama a responsabilidade para si. "Sei que a dificuldade será enorme, mas, por todo o planejamento que traçamos, acredito sermos capazes de dar alegria ao povo brasileiro."