Para Capturar o Mundo do Burlesco Masculino, Você Precisa Aprender a Andar de Botas de Salto Alto

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Viagem

Para Capturar o Mundo do Burlesco Masculino, Você Precisa Aprender a Andar de Botas de Salto Alto

O fotógrafo Magnus Arrevad passou os últimos quatro anos viajando ao redor do mundo para criar um estudo fotográfico abrangente do mundo da “performance masculina” – um gênero que engloba burlesco, gogo boys, pornô e circo.

Todas as fotos por Magnus Arrevad.

O fotógrafo Magnus Arrevad passou os últimos quatro anos viajando ao redor do mundo para criar um estudo fotográfico abrangente do mundo da "performance masculina" – um gênero que engloba burlesco, gogo boys, pornô e circo.

A série Boy Story foi abraçada pelo lado underground da performance (o New York Time a usou para ilustrar a matéria "The Real Hedwigs"), mas o mais interessante sobre o trabalho de Arrevad é seu formalismo. Mesmo que o tema pudesse levar a uma abordagem mais colorida, o tratamento de Arrevad da cena de performance masculina fica mais no campo clássico, com uma composição e iluminação que você encontraria numa pintura de Rembrandt, não na ostentação de um filme de Baz Luhrmann ou das fotos de David LaChepelle.

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Liguei para o Magnus a fim de bater um papo sobre isso.

VICE: Boy Story levou quatro anos de trabalho. É um investimento pessoal impressionante, particularmente para alguém sem ligação intrínseca com esse mundo. O que te atraiu no mundo do burlesco masculino?
Magnus Arrevad: Se por "ligação intrínseca" você quer dizer que nunca fui parte desse mundo, isso é absolutamente verdade. Tudo começou, meio que por acidente, num porão em Copenhague, na noite da Parada Gay, que eu estava fotografando num contexto completamente diferente.

O que me atraiu no assunto foi fornecer um vislumbre belo e raro de pessoas que se expõem. Geralmente, imaginamos que a maquiagem é usada para esconder alguma coisa – mas, nesse caso, ficou óbvio para mim desde o começo que os artistas só se tornam os homens que realmente são depois de aplicarem sua maquiagem.

Acho que isso se aplica a todo mundo em alguma extensão – acreditamos que há um "eu" real escondido. Esses caras estão sendo essa pessoa. Mas não é esse "verdadeiro eu" que me fascina, mas o processo de se tornar essa pessoa.

Obviamente, seu trabalho foi feito em noites bastante selvagens. Mas as qualidades formais da série mostram que isso não é simplesmente reportagem. As circunstâncias foram um desafio?

Não – na verdade, foi o oposto. Eu estaria mentindo se dissesse que não me diverti muito. Para ser parte desse mundo, o que foi necessário para conseguir muitas das imagens, eu tive de fazer isso do jeito certo. Isso significou muitos drinques e muito flerte com a equipe do bar. Não há porque fazer isso se você não for curtir. Mas eu não me divirto criando um trabalho a menos que acredite que isso importa. Esse equilíbrio é essencial.

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Quantas das imagens foram posadas e quantas foram espontâneas?

Tudo foi espontâneo. Em algumas imagens, os artistas estão atuando, porque viam uma câmera na sala. Mas nunca coreografei nada disso.

Parece que você viajou muito também. Reconheço Paris, Nova York, Berlim e Londres nas fotos. Você foi a algum lugar só pela chance de conseguir alguma coisa válida?
Sim e não. Fui a eventos que achei que teriam artistas ou cenas interessantes, e meus instintos se mostraram afiados no geral. Mas você tem um pouco de razão: o que achei mais estranho e mágico sobre isso tudo foi viajar meio mundo por uma foto e, no final, a coisa ser inteiramente instintiva.

Deixei minhas mãos e meus olhos pensarem e tentei ficar fora do caminho. Todo o trabalho foi fotografado numa câmera de médio formato, o que quer dizer que, diferentemente do digital, eu não sabia se tinha alguma coisa boa até o filme ser revelado.

O projeto final consiste de 112 fotos. Quantas imagens você fez ao todo? Quantas foram cortadas no final?
Tirei cerca de 4 mil fotos. Muitas, se não a maioria, dessas fotografias mostram os artistas enquanto eles ainda não estão exatamente no personagem, mas no processo de se tornar ele através de maquiagem e figurino.

Os artistas alguma vez foram relutantes em te deixar entrar no que deve ser um momento muito vulnerável para eles – enquanto eles se preparavam para se apresentar?
Incrivelmente, eles estavam totalmente bem com isso. Claro, há uma grande dose de confiança envolvida, e tive de conquistar isso – essa é uma das razões para o projeto ter demorado quatro anos para ser completado. Mas todos os temas reconheceram que eu estava sendo mais, ou pelo menos algo diferente, de um simples voyeur e que o trabalho que eu estava produzindo não era uma exploração deles.

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Mas para fazer as pessoas relaxarem – que é se apresentar – em frente à câmera, tive de me apresentar atrás dela; então, eu geralmente estava andando pela sala de botas de salto alto até o joelho e cartola.

Qual sua relação com os artistas agora? E como você se sente sobre Boy Story?
Todos eles me deram total apoio. Se não fosse por esses caras, que me convidaram para dormir no sofá de suas casas, muitas das fotos não teriam sido possíveis. Muitos deles se tornaram amigos queridos. Infelizmente, estou trabalhando pesado numa nova série agora; então, não tenho oportunidade de ir aos shows deles tanto quanto gostaria.

Tradução: Marina Schnoor