Perguntamos a cinco pessoas qual o maior arrependimento da vida delas
Foto: Tor Birk Trads

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Perguntamos a cinco pessoas qual o maior arrependimento da vida delas

"Há muita pressão para ser perfeito e ter tudo sob controle, então é difícil admitir para nós mesmos que tomamos decisões ruins de que nos arrependemos."

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE Dinamarca.

Todo mundo tem arrependimentos. Não só do tipo que bate algumas horas depois de comprar um mocassim descolado porque você achou que era hora de mudar seu estilo. Há também arrependimento de verdade. Aquele arrependimento que você engole, que te faz passar a noite acordado, desejando voltar no tempo.

"Arrependimento é um tabu moderno", me explicou o psicoterapeuta britânico e ex-pastor Ilse Sang. "Há muita pressão para ser perfeito e ter tudo sob controle, então é difícil admitir para nós mesmos que tomamos decisões ruins de que nos arrependemos." O que é uma pena, porque quando não nos arrependemos, perdemos a chance de consertar nossos erros — ou aprender a não cometê-los de novo.

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Perguntei a cinco almas corajosas do que elas mais se arrependem na vida. Porque falar sobre isso às vezes ajuda.

Todas as fotos por Tor Birk Trads.

Céleste Nshimiyiman, 25 anos, estudante

Me arrependo da última conversa por telefone que tive com minha irmã mais velha, um dia antes dela cometer suicídio. Eu estava muito perdido nos meus próprios pensamentos para levar a sério o que ela estava dizendo. Ela tinha uma vida difícil e eu também não facilitava — a gente brigava por tudo. Ela me ligou num sábado um pouco antes da meia-noite. Ela começou a listar um monte de coisas boas sobre mim. Ela ficava dizendo para eu nunca esquecer o quanto ela me amava, mas eu estava tão ocupado me arrumando para uma festa que não pensei em por que ela estava dizendo aquilo. Fiquei literalmente esperando ela desligar para poder ir para a balada.

Ela tinha sido internada em clínicas psiquiátricas algumas vezes, mas sempre tinha alta depois e um tempo e a gente não levava isso muito a sério. Eu ficava irritado porque ela sempre tinha que fazer caso de tudo. Me arrependo de não ter feito mais para entender como ela estava se sentindo, penso nisso todo dia. Depois da primeira vez que minha irmã foi internada, até convenci minha mãe e não largar o emprego dela. Ela queria se demitir para poder morar com a minha irmã e tomar conta dela.

Naquela noite, no segundo em que desliguei, esqueci completamente nossa conversa. Agora fico repetindo aquele papo na minha cabeça. Não sei se eu poderia ter dito alguma coisa que a salvasse, mas se pudesse voltar no tempo, eu teria dito que a amava muito também. Eu listaria todas as coisas incríveis sobre ela. Talvez tivesse feito diferença.

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Carina Ladegaard, 36 anos, Gerente de Relações Digitais

Me arrependo de ter começado meu próprio negócio em vez de ter aproveitado minha juventude e viajado pelo mundo. Me formei numa escola de alfaiataria quando tinha 20 anos e um ano depois uma das minhas ex-professoras — que também era dona da escola — me ofereceu a chance de comprar a parte dela. Venho de uma família de empreendedores, minha mãe, várias tias e meu avô eram todos donos do próprio negócio, então era natural seguir o mesmo caminho.

Ainda assim, eu não estava preparada para a responsabilidade. Saí direto do colegial para a escola de alfaiataria e não tirei um tempo para me divertir e aproveitar minha liberdade. Aí, do nada, eu tinha uma escola inteira nas mãos. Os funcionários eram muito mais velhos que eu — no almoço a gente conversava sobre o quanto eles mimavam os netos. A pressão realmente me derrubou depois de um tempo, tive minha primeira úlcera de stress aos 23 anos. Se não tomava remédio para dormir, eu ficava acordada a noite inteira pensando no trabalho.

Vendi a empresa aos 28 anos. Sinto que perdi minha juventude — pulei os anos em que você pode ser um pouco egoísta e irresponsável, viver sem pensar nas consequências. Por uns seis anos, fiz o que eu achei que deveria estar fazendo, não o que eu queria ou o que me deixava feliz.

Morten Espersen, 27 anos, Agente de NAVEGAÇÃO

Me arrependo de não ter sido um namorado melhor para minha ex. A gente já se conhecia uns sete anos antes de começarmos a sair em 2012. Era um amor enorme e muito sério — eu tinha certeza que teria meus filhos com ela e que a gente ia envelhecer juntos.

Meu trabalho sempre foi prioridade para mim, até o ponto em que não saí de nenhuma sala na vida para estar ali para ela. Ela tinha uma leve depressão e estava tendo dificuldades para estudar quando chegava em casa do trabalho, em vez de dar apoio e ajudá-la com as coisas de casa para tirar alguma pressão dos ombros dela, eu achava que merecia relaxar e colocar os pés para cima. A gente brigava por causa disso, a gente brigava por tudo. Um dia, durante uma briga na casa do pai dela porque eu não ficava em casa o suficiente, a coisa ficou feia sei lá por qual razão e terminamos ali mesmo.

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Alguns dias depois, fui até o apartamento dela pegar minhas coisas. Dissemos um tchau rápido e foi isso. Acho que éramos orgulhosos demais para sugerir superar aquela briga. Penso muito nela — nunca me importei tanto com uma garota assim na vida. Se eu tivesse ouvido o que ela tinha a dizer, talvez a gente estivesse junto até hoje.

Fanny Olhats, 27 anos, jornalista

Me arrependo de ter demorado tanto tempo para aceitar meu corpo do jeito que ele é. Cresci na Califórnia, nos EUA, um ambiente onde todo mundo é magro e lindo. Meu pai era chef, então cresci cercada por comida incrível — e provavelmente sempre comi um pouco a mais do que precisava. Às vezes eu odiava meu corpo, nunca era o corpo que eu queria. Eu não estava confortável na minha pele, eu não estava confortável com quem eu era.

Claro, isso teve um impacto na minha vida — se não achava a roupa certa para cobrir meu corpo, eu ficava em casa em vez de sair para a balada. Se eu estava me sentindo gorda, eu ligava para o trabalho dizendo que estava doente. Eu odiava a ideia de confrontar as outras pessoas com o meu corpo usando um maiô ou biquíni, então eu nunca ia à praia ou para piscina. Em 2012, terminei com um namorado que me traiu e estava mergulhada no próprio desprezo, mas então achei uma aula de ginástica que era sobre se divertir e se tratar bem. Foi com ajuda dessa aula, que de algum jeito aprendi a ser mais legal comigo mesma.

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Me arrependo de ter desperdiçado tantos anos obcecada com o quanto eu odiava meu corpo. Recentemente tivemos uma competição no trabalho — você mandava uma foto do Instagram e dez delas seriam penduradas na parede da cozinha. Mandei uma nude minha, tirada por trás numa sauna em Malmö, Suécia. Fotos assim não são grande coisa para a maioria das pessoas, mas foi uma grande vitória para mim. Chorei depois que mandei a foto.

Rasmus Veltz Nielsen, 27 anos, Assistente de Creche

Me arrependo de não ter estudado fora quando tive chance. Fui selecionado para um programa na Austrália com meu antigo colega de quarto — eu estudava holandês e ele economia. Acho que passamos oito ou nove meses organizando a viagem e estávamos com tudo pronto quando ele largou o curso para estudar outra coisa. Naquele ponto, desisti do plano porque não queria ir sozinho.

Agora sei que foi um erro. Nunca fui bom em ser espontâneo e mergulhar em coisas novas, mas aquela viagem poderia ter me ensinado uma coisa ou duas sobre me sustentar sozinho e tomar minhas próprias decisões sem pensar demais.

Às vezes, quando estou tentando tomar uma decisão importante ou tendo uma discussão — às vezes sinto que tem algo não resolvido dentro de mim. Que tinha uma coisa que eu deveria ter feito e não fiz. Aquele colega de quarto passou seis meses fora recentemente como parte do novo curso. Ele foi sozinho e acabou de voltar. Agora estou pensando em ir para a América do Sul fazer trabalho voluntário por seis meses — se conseguir acertar as coisas financeiramente.

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