FYI.

This story is over 5 years old.

Tecnologia

Mais Cientistas que Merecem Cinebiografias

O interesse por ciência está em alta, e, com ele, vem a curiosidade sobre as histórias íntimas dos maiores pensadores da humanidade.
​Ada Lovelace. Crédito: Wiki

Se podemos concluir algo a partir dos vencedores do Oscar desse ano, é que estamos entrando na era de filmes sobre cientistas. A Teoria de Tudo, filme sobre Stephen Hawking, foi indicado a cinco prêmios e ganhou um, e O Jogo da Imitação, que conta a extraordinária história de Alan​ Turing, foi indicado a oito e levou uma estatueta para casa.

O interesse por ciência está em alta, e, com ele, vem a curiosidade sobre as histórias íntimas dos maiores pensadores da humanidade. Mas isso levanta uma questão: quais cientistas merecem ser transformados em filmes? Esse é um campo extremamente fértil; a história da ciência está cheia de figuras que, além de terem nos agraciado com importantes descobertas científicas, também tinham vidas íntimas extremamente dramáticas. Não é de se espantar que as histórias de Hawking e Turing tenham tocado tantas pessoas, por exemplo. Nenhuma das duas biografias precisou de licença poética. Cada uma é, do ponto de vista narrativo, interessante por natureza.

Publicidade

Com esses critérios em mente, minha primeira sugestão para a Próxima Grande Cinebiografia Científica seria a vida de Jacks Parsons, o engenheiro espacial com uma queda pelo ocultismo. Sua vida bizarra já foi narrada extensivamente em dois perfis do Motherboard, escritos por George Pendle e Brian Anderson. Um dos mais importantes engenheiros espaciais da história, Parsons também abraçava crenças ocultistas extremamente excêntricas e morreu cedo em uma misteriosa explosão. E, para completar, ele era um cara bem bonitão. Daria um filme perfeito.

Jack Parsons em 1938. Crédito: The Los Angeles Times/Wiki

Aparentemente, Ridley Scott compartilha dessa opinião, já que existem rumores de que ele esteja produzindo uma minissérie sobre Parsons na AMC. Apesar da ideia parecer promissora, ainda acho que precisamos de uma cinebiografia sobre esse ser humano mais que improvável.

Outra cientista que merece um filme biográfico é Émilie Du Châtelet, uma vivaz matemática nascida em 1706. Eu escrevi um perfil de Châtelet no ano passado, mas aqui vai um resumo básico da vida desse gênio glamuroso: ela era tão talentosa que seu pai a educou como um garoto — com aulas de esgrima e tudo mais. Ela se tornou uma grande matemática, utilizando seus conhecimentos para otimizar seus lucros em apostas, que por sua vez financiavam seus livros e equipamentos de laboratório.

Obcecada com a física Newtoniana, Châtelet traduziu a Principia de Newton para o francês e escreveu vários tratados de matemática e física, incluindo a base do que se tornaria a equação E=mc^2 de Albert Einstein.

Publicidade

Um retrato de Émilie Du Châtelet. Crédito: Maurice Que ntin de La Tour

Não é de se surpreender que sua vida pessoal tenha sido igualmente pirotécnica —Châtelet era uma conquistadora que teve casos com diversas figuras importantes, incluindo um extenso romance e parceria intelectual com Voltaire. Como seu famoso amante, Châtelet era também conhecida por sua espirituosidade, e as discussões do casal tinham uma fama lendária dentro dos círculos intelectuais franceses, assim como o costume de Châtelet de se travestir para ganhar acesso à ambientes exclusivamente masculinos. Como vocês podem ver, a questão não é se Châtelet deveria tem uma cinebiografia — isso é óbvio — mas sim quem a interpretaria. Chloë Grace Moretz? Emma Stone? Anna Kendrick? Tanto faz, mas agiliza esse filme aí, Hollywood.

Châtelet não é a única cientista francesa do século 18 que merece seu próprio filme. O astrônomo francês Guillaume Le Gentil, nascido em 1725, também viveu uma vida digna de uma adaptação cinematográfica. Mas enquanto a história de Châtelet é cheia de sarais da alta sociedade e prazeres hedonistas, a vida de Le Gentil foi o oposto: uma história de ação/aventura trágica.

Um dos grandes desafios da astronomia do século 18 era observar o trânsito de Vênus de diferentes pontos do mundo, e assim conseguir medir a distância entre a Terra e o Sol. Le Gentil se voluntariou entusiasticamente para fazer parte do grupo de dezenas de astrônomos enviados para terras exóticas durante esse evento.

Publicidade

A expedição de Le Gentil passou por alguns maus bocados no caminho para Pondicherrry, um assentamento francês na Índia. Guerras, tempestades e problemas de navegação atrasaram seu grupo, e quando eles chegaram a seu destino, os britânicos haviam dominado a região e mandaram Le Gentil dar meia volta. Ele assistiu ao trânsito de Vênus número 6.1761 em junho, numa noite de céu aberto em seu navio, incapaz de fazer qualquer anotação por conta das ondas. Após isso ele decidiu esperar mais oito anos para o próximo trânsito. Em junho de 1769 ele se frustrou mais uma vez quando, depois de uma noite de céu aberto e bom tempo, uma enorme nuvem obstruiu sua visão.

Le Gentil quase enlouqueceu (e com razão).

As ruínas do observatório DE Pondicherry. Crédito: Wiki

Mas a história só melhora (ou piora, no ponto de vista de Le Gentil). Quando ele finalmente retornou à França em outubro de 1771, Le Gentil descobriu que todos acreditavam que ele estava morto. Sua esposa havia se casado novamente; suas terras haviam sido saqueadas, e ele precisaria da intervenção do rei para reingressar na Academia Real de Ciência. Le Gentil seguiu em frente, mas ele deve ter se sentido no centro de um castigo divino. Se alguém quisesse fazer uma versão do Livro de Jó para cinema, a vida de Le Gentil seria uma boa escolha.

Seguindo essa linha, é divertido imaginar outros tipos de narrativa que poderiam ser utilizados em adaptações de outras histórias científicas. A parceria entre Charles Babbage e Ada Lovelace daria um ótimo filme sobre uma relação de mentor/discípulo, por exemplo, e um filme sobre Humphry Davy poderia ter um tom meio "Medo e Delírio"— todos sabem que Davy gostava de ficar doidão de gás do riso com seus amigos.

Eu não sei como alguém contaria a história de Wernher von Braun, que foi um engenheiro espacial nazista, visionário do Programa Apollo e estrela da Disney — tudo em uma só vida. Mas uma coisa é certa: seria muito difícil transformar sua vida em algo desinteressante.

Por enquanto, podemos apenas nos perguntar quem será o próximo cientista famoso a ser homenageado por Hollywood (e como vocês já perceberam, é exatamente isso que nós vamos fazer). Mas, levando em consideração o sucesso desses cientistas no ano passado, parece que esse subgênero histórico está começando a se popularizar. Isso é uma boa notícia para todos, porque quando o assunto é drama e complexidade filosófica, não há inspiração melhor do que a história da ciência.

Tradução: Ananda Pieratti