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Música

Metal, Micareta e Backstreet Boys

Se você gosta de música pesada e tá pouco se fudendo pra corpse paint, batalhas medievais entre vikings noruegueses e dragões sobrevoando castelos, recomendo que você ouça logo a Yun Fat

Foto por Jera Cravo

Yun Fat é uma banda baiana de metal. Som bruto mesmo, predominantemente death metal, mas com passagens de várias vertentes do gênero e uma chegada íntima no grindcore. Se você é fã de metal e leva a sério coisas como Manowar, é bem provável que você se ofenda com o som dos caras. Agora, se você gosta de música pesada e tá pouco se fudendo pra corpse paint, batalhas medievais entre vikings noruegueses e dragões sobrevoando castelos, recomendo que você ouça logo a Yun Fat. A boa notícia é que os caras lançaram este ano o segundo disco, Apocalypse Via Copacabana, material de alta qualidade disponibilizado pra download via Torto Fonogramas. Nele, a banda mantém o peso de sempre, arriscando passagens mais virtuosas do que no primeiro disco, Action Movie Stunts Get to Die, e juntando sua música torta e violenta com Luiz Gonzaga, reggae e Backstreet Boys. A má notícia é que 60% da banda se espalhou pelo Brasil e, no momento, ninguém sabe se a banda continua ativa ou não. Conversei com o baixista Paulo Kalvo sobre essas e outras questões metaleiras e micareteiras que rondam o grupo.

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VICE: Antes de qualquer coisa: e aí, a banda acabou?
Paulo Kalvo:Isso nunca foi discutido abertamente. Simplesmente a banda nunca foi uma prioridade na vida de ninguém, então as coisas foram acontecendo e nunca pensamos muito a respeito. A gente está igual ao Los Hermanos: podemos voltar pra abrir alguns show do Radiohead um dia, transar com crianças e lançar discos conceituais individualmente. Estamos de férias por tempo indeterminado e, em último caso, pedimos o aviso prévio.

Se sim, porque lançar um disco "póstumo"? Os membros ainda tocam em alguma banda?
Já tínhamos todas as músicas compostas e a vontade de gravar, de ter um registro de tudo o que tínhamos feito. O nosso primeiro disco é de 2007, então muita coisa já tinha mudado e queríamos ter um registro disso. Sobre os outros projetos dos integrantes da banda, sei que Cecelo hoje em dia toca com o Zander, Vinícius toca na Kart Love, Louis está tocando com uma porrada de bandas, provavelmente, e eu e Hiram estamos nos tocando.

O disco novo parece estar mais virtuoso, com mais solos, vocais agudos e uma influência aparentemente maior do heavy metal… Essas mudanças foram intencionais?
Se você toca todos os dias sempre com as mesmas pessoas, acaba criando uma identidade e um entrosamento melhor. Depois de um tempo repetindo tanto as coisas no estúdio, você acaba tocando melhor mesmo — o que não quer dizer que isso vá deixar o som da banda melhor. Talvez essa veia mais heavy metal venha com a entrada de Vinícius, fazendo sempre umas dobras com as guitarras, que é algo bem presente no seu jeito de tocar. O vocal agudo tem relação com a recente castração de Hiram.

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Capa do disco Apocalypse Via Copacabana

Como foi o processo de produção/composição desse segundo disco, Apocalypse Via Copacabana?
Tudo começou com umas pedras de crack e roleta russa, e acabou culminando em um disco, não sei exatamente como foi que aconteceu entre um e outro, mas acho que foi assim: fomos tocando, fizemos as músicas e um dia alguém falou "vamos gravar".

Por que esse nome? O que Copacabana tem a ver com a atmosfera do disco?
Na verdade isso foi escrito em uma resenha do primeiro disco da gente pra tentar descrever o som. Gostamos e adotamos. Não tem nenhum sentido além disso. No dia que a gente lançou o disco, houve um incêndio em Copacabana, então acho que a relação é que Copacabana tentou se matar quando descobriu que a gente queria destratar a sociedade carioca chamando o disco assim. Inclusive recebemos um comunicado da sociedade informando que já está cansada de tomar tapa na cara.

Comente sobre a versão de “Everybody”. Como foi enxergar o potencial metaleiro dessa música?
Nós não mudamos nada, aquela é a versão original da música, não?

Quem era seu Backstreet Boy preferido?
Justin Bieber.

Como vocês lidam com o público do metal? Já quiseram bater em vocês ou a galera é de boa com a banda?
Não lidamos com o público metal, eles é que lidam com a gente. Somos bonitos e eles são feios, simples assim.

E qual é realmente a visão de vocês da "cena" metal? A impressão que eu tenho é que a banda nasceu de uma insatisfação com o "se levar a sério demais" dos metaleiros… Procede?
A gente já fez show com bandas de hardcore, indie, emo, rap… Perguntar o que eu acho da cena metal é tipo perguntar pro papel higiênico o que ele acha do cu. Ele só está lá pra limpar a merda. Sempre levamos muito a sério a ideia de nunca se levar a sério.

A maioria dos integrantes da banda hoje vive fora de Salvador. Seria a capital baiana uma terra hostil com seus filhos rockeiros?
Eu moro em São Paulo há quase três anos, mas a minha mudança não teve nenhuma ligação com o cenário musical ou nada disso. Apenas vim estudar e acabei ficando. Cecelo está no Rio tocando baixo com o Zander e Hiram nunca foi de Salvador mesmo, e sim de Cuiabá, então faz algum sentido ele não morar mais na Bahia. Não sei se Salvador é hostil, é apenas uma terra isolada, tanto cultural quanto geograficamente. Salvador não parece se importar muito com o que é produzido no resto de Brasil e o Brasil esqueceu que Salvador existe. Além disso, se você tem a pretensão de fazer uma turnê ou algo assim, é quase impossível. A maior cidade, ou a mais próxima, é Aracaju, que fica a quatro horas de carro, depois Maceió que fica a oito, e por aí vai, Então se você pensa em tocar no Nordeste, você gasta um dia quase todo pra chegar em uma cidade grande onde você possa fazer um show. Quando fomos tocar em Fortaleza, pegamos um ônibus por quase 24 horas pra chegar, fazer um show e voltar. A própria estrutura geográfica dificulta que as bandas consigam se mostrar mais. Não acho que seja a cidade simplesmente, mas sim um conjunto de fatores.

Já vi uns abadás sendo usados em alguns shows da banda, e vocês tocavam uma versão do clássico "Água Mineral", da Timbalada. E no carnaval soteropolitano, vocês preferem tomar uns murros atrás do Chiclete ou umas correntadas no Palco do Rock?
Prefiro sair atrás do bloco dos Mascarados e beijar muito na boca.

Site da banda Download do disco Soundcloud