Ilustração de um rosto em que parte é jovem e parte é idosa
Ilustração: Juliana Lucato/VICE

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Somos uma geração sem aposentadoria?

A geração Millennials, formada por pessoas nascidas entre os anos 1980 e 2000, não parece pensar numa velhice confortável. Será que seremos velhos fodidos e sem dinheiro?

Perguntei a alguns amigos o que vinha à mente deles ao lerem a palavra "aposentadoria". Recebi como resposta que "os jovens estão cagando pra isso", que "hoje todo mundo é PJ [Pessoa Jurídica]", "imagens de sofrimento e dor", "tristeza, depressão, calvície", além de "desespero e morte na fila do SUS [Sistema Único de Saúde]". Portanto, eis um peculiar sinal: a geração Millennials, formada por pessoas nascidas entre os anos 1980 e 2000, não parece pensar numa velhice confortável. De alguma forma, isso tudo pode levantar uma hipótese de desgraça futura (e agora me incluo): seremos velhos fodidos e sem dinheiro?

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Leia também: "O que pode mudar na vida dos jovens com a Reforma Previdenciária de Temer"

De acordo com uma pesquisa feita pelo BNY Mellon, as instituições financeiras ainda não conseguiram dialogar com essa geração, que está perdida quando o assunto é poupar dinheiro, lidar com taxas e se programar para a aposentadoria. O estudo informa que 51% dos Millennials ainda recorrem aos pais na hora de pedir conselhos financeiros. A falta de orientação econômica também reflete de outras maneiras. No Brasil, por exemplo, 62% não sabem como os fundos de pensão funcionam.

Uma hipótese levantada por Fabio Gallo, professor de finanças da FGV-SP e da PUC-SP, deve ser considerada. "Quando você é mais jovem, tem mais facilidade pra trocar de emprego e sua renda tende a aumentar, não a decrescer. Mas quando você está com 40 anos pra frente, a renda começa a decrescer", falou. "Não se pode entrar na balela que você depois ainda vai ter tempo pra se reorganizar. Não há tempo. Essa é a notícia triste."

Em 2013, a revista norte-americana Time definiu os Millennials como "narcisistas" e "preguiçosos". Será?

ENTENDENDO AS APOSENTADORIAS
De acordo com o dicionário, a palavra "previdência" significa "previsão conjetural do futuro", ou seja, são as hipóteses que você tem para cuidar da sua "melhor idade" sem depender dos seus possíveis filhos ou do cônjuge, que podem ser uns desalmados e te deixarem na miséria. Existem várias maneiras de se preparar para não passar fome no futuro. A VICE compilou algumas.

PREVIDÊNCIA SOCIAL
É o famoso INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), um seguro controlado pelo governo que pode ser pago pelo trabalhador em regime CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), MEI ou por quem é autônomo. Para saber qual é (ou qual seria) o seu valor de contribuição, calcule-o aqui.

PREVIDÊNCIA PRIVADA
É opcional e mais flexível, como se fosse um seguro particular. Além de pagar o INSS, você pode escolher uma instituição de preferência e pagar a previdência. Com ela, você escolhe se receberá o montante de uma só vez ou mensalmente. Ela também cobre casos de morte e invalidez. Isso quer dizer que, se você não conseguir desfrutar da sua fortuna poupada a longo prazo, seus filhos e familiares poderão ter uma vida melhor.

A previdência privada pode ser aberta ou fechada. A aberta é comercializada por bancos e seguradoras. Qualquer sujeito pode ir lá e contratar. A fechada, também conhecida como fundos de pensão, são planos criados por empresas e voltados exclusivamente aos funcionários da mesma.

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Raphael Nascimento, 32, analista digital, trabalha em regime CLT; logo, ele é contribuinte do INSS. "Essa ficção de previdência é mais complexa que Game of Thrones. 'Caguei' pra entender e apenas espero não me ferrar muito no futuro", brinca. Ao olhar para o longínquo horizonte da velhice, Raphael supõe "dores em 90% das articulações" e pouca estabilidade financeira. "Temo um pouco pelo futuro quando eu ficar velho, mas também sei que as coisas se ajeitam e a gente se adapta. Mas, provavelmente, vou passar mais perrengue financeiro do que hoje. E vai ser foda passar por isso de fralda geriátrica."

O desinteresse em poupar alguma grana para quando os cabelos brancos surgirem na cabeça é comum. Gerente de relacionamento, a bancária Ranny Queiroz destaca que é muito difícil conseguir alcançar clientes mais novos interessados em iniciar uma previdência privada. "Quando abordados sobre o assunto, os jovens afirmam que os 65 anos ainda estão muito longe e que não querem se preocupar com isso no momento, pois possuem outras prioridades", explica a profissional.

Um item importante para quem é PJ é se informar melhor sobre o INSS. Quem abriu um MEI [Microoempreendedor Individual] também contribui. De acordo com o Portal do Empreendedor, parte do valor pago mensalmente é revertido para a previdência social.

DADOS NO BRASIL EM 2010

34.349.603 pessoas tinham entre 20 a 29 anos de idade
18.209.372 pessoas entre 20 a 29 anos contribuíam com o INSS

Fonte: IBGE/ Censo Demográfico / Ministério da Previdência Social

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Em época de vestibular, Isabela Gonçalves, de 18 anos, ainda não se preocupa com o assunto. Junto de uma amiga, ela toca o projeto Zona Gotícula y Pupílula, que produz eventos, peças de roupas e cenografias para festas em São Paulo. É assim que levanta uma grana para sobreviver. Sem carteira assinada, ela afirma nunca ter se informado sobre INSS ou previdência privada. "Acho bem absurda essa ideia de começar a trabalhar pensando só na aposentadoria", relata.

Assim como Raphael, Isabela não nutre sonhos de jogar tênis e viajar pra Miami uma vez por ano com uma excursão de velhinhos saudáveis e bem de vida socando produtos do free shop na mala. "Minha ideia é desenvolver minhas roupas ou até fazer algo com comida caseira pra conseguir ter uma renda por mês", justifica.

Para o professor Fabio Gallo, tudo é questão de tempo. "É muito legal pensar em abrir mão de um emprego imediato pra poder viajar, pensar em não ter filhos agora, pensar em não comprar casa agora. Nada contra, desde que você se organize pra ter isso depois."

Para você, que não manja nada das economias da vida adulta e tem preguiça de se inteirar sobre o assunto, temos abaixo um guia para aposentadoria pela previdência social. Com ele, você pode entender como cada item funciona (também em outros âmbitos, caso você engravide ou sofra um acidente). Não se esqueça, Millennial: a velhice chega.

QUANDO VOCÊ PODERÁ SE APOSENTAR PELO INSS

POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO (FÓRMULA 85/95)
Aprovado pelo governo neste ano, o sistema de pontos exige que que os homens tenham 35 anos de contribuição + 60 anos de idade, totalizando 95 pontos. Já as mulheres precisam ter contribuído por 30 anos e mais de 55 anos de idade, totalizando 85 pontos. Para entender melhor, clique aqui.

POR IDADE
Homens a partir dos 65 anos e mulheres a partir de 60 anos podem se aposentar, mas só se tiverem contribuído por 180 meses.

POR INVALIDEZ
Se a perícia do INSS confirmar que sua doença realmente te impede de exercer atividades laborais, você pode se aposentar. Para isso, precisa ter contribuído por, no mínimo, 12 meses.

APOSENTADORIA ESPECIAL
Para quem atuou em campos prejudiciais à saúde ou à integridade física, sejam eles químicos, físicos ou biológicos. Existem classes de risco que variam o tempo de contribuição exigido, que vai dos 15 a 25 anos.

AUXÍLIO-DOENÇA
Se você contribui com o INSS e, porventura, ficar incapacitado de trabalhar, é obrigação da Previdência Social te pagar um benefício. Para isso, é preciso ter contribuído por 12 meses.

SALÁRIO-MATERNIDADE
Tanto gestantes quanto adotantes têm direito a receber o salário-maternidade por 120 dias.

AUXÍLIO-RECLUSÃO
A família de um contribuinte que for preso tem direito a receber o auxílio.

PENSÃO POR MORTE
Maridos, esposas, companheiros (as), filhos com menos de 21 anos e, na falta destes, determinados parentes têm direito à pensão por morte contanto que o contribuinte esteja em dia com a previdência.

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