Mossless in America: Sebastian Collett

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Viagem

Mossless in America: Sebastian Collett

Conversamos com o fotógrafo Sebastian Collett.

A Mossless in America é uma coluna que apresenta entrevistas com fotógrafos documentais. A série é produzida em parceria com a revista Mossless, uma publicação fotográfica experimental comandada por Romke Hoogwaerts e Grace Leigh. Romke começou a Mossless em 2009 como um blog em que ele entrevistava um fotógrafo diferente a cada dois dias. Desde 2012, a Mossless já teve duas edições impressas, cada uma lidando com um tipo diferente de fotografia. A Mossless foi destaque na exposição Millemmium Magazine, de 2012, no Museu de Arte Moderna de Nova York, e conta com o apoio da Printed Matter, Inc. A terceira edição, um volume dedicado à foto documental norte-americana dos últimos dez anos, é intitulada The United States (2003 – 2013) e foi lançada recentemente.

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Por que fragmentos dos lugares onde vivemos quando crianças permanecem conosco por toda a vida? Como nos conectamos com esses lugares e as pessoas que moravam ali quando partimos depois que o tempo passou e nós mudamos, crescemos? Sebastian Collett não tem todas as respostas, em vez disso, ele levanta mais perguntas com fotos que desafiam tempo e lugar. Sua série Vanishing Point começou quando ele retornou à cidadezinha de Ohio onde cresceu para a reunião de 20 anos de sua turma do colegial. Os temas cotidianos de Collett são congelados numa luminosidade monocromática, à beira de tornarem-se ou desaparecer, transcendendo assim seu corpo mortal e existindo para sempre em imagens residuais, arquivadas em algum lugar no fundo de seu cérebro. Conversamos com ele sobre as maneiras como o tempo pode ser laçado, depois libertado.

VICE: Onde você cresceu?
Sebastian Collett: Cresci em Oberlin, Ohio, e passei alguns anos na França.

Onde as imagens de Vanishing Point foram feitas? A sensação é de que elas poderiam ser de qualquer lugar.
A maioria das fotos foi tirada na minha cidade natal em Ohio, mas algumas são de outros lugares. E você tem razão – no meio do projeto, comecei a perceber que muitas das imagens tinham uma qualidade “atemporal” e sem lugar definido, e são específicas ao mesmo tempo. Eu diria que elas são de um lugar bem específico, mas um lugar psicológico ou emocional, não geográfico. Elas examinam uma paisagem interna.

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O que te atrai nesse tipo de paisagem?
Tenho uma conexão muito profunda com minha cidade natal, e isso foi crescendo com os anos. Quando voltei para minha reunião de 20 anos do colegial, alguma coisa clicou dentro de mim. Foi como se uma longa orbita planetária tivesse se fechado. Eu me senti chamado a imergir na paisagem da minha infância, e, ao fazer isso, me reconectar com algumas partes minhas que eu tinha quase esquecido. Foi uma experiência incrivelmente poderosa, e ainda está acontecendo. Toda vez que volto para minha cidade, sinto algo como uma descarga de energia, como passar por um portal no tempo. Ainda sou meu eu adulto, mas sou capaz de ver através dos olhos da criança que vive em mim. O processo de fotografar permite um jogo interessante entre esses dois seres. Eu me vejo atraído por pessoas que evocam estados emocionais ou experiências específicas da infância. Às vezes, essas pessoas servem como “substitutos” para personagens ou arquétipos do meu passado. Quando as abordo e converso com elas, meu eu adulto está dirigindo a situação, mas, ao mesmo tempo, meu eu criança está usando esse encontro para resolver e integrar essas emoções e experiências do passado. É um estranho processo de cura.

Há uma história por trás da foto do garoto com uniforme de futebol americano?
Na maioria dos casos, quando estou andando pelas ruas e fotografando, tenho uma “intuição” forte – uma sensação clara de que preciso fotografar essa pessoa em particular. Geralmente, isso ocorre de longe, antes mesmo de eu saber como a pessoa é. No caso do garoto do futebol, fui atraído pela maneira como o uniforme grande demais parecia sobrecarregar seu corpo pequeno. Ele parecia tão triste, frágil e cansado, carregando o peso de sua armadura. Falei com ele e descobri que ele estudava na Langston Middle School, que eu frequentava quando tinha a idade dele. A escola foi batizada em homenagem a John Mercer Langston, o primeiro advogado negro de Ohio.

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O que o título da série significa?
Encontrar o título perfeito para uma série é um desafio. Eu tinha muitos títulos em mente enquanto trabalhava, e sentia que o título tinha que evoluir com o projeto. Em outras palavras, vejo esse projeto dando à luz vários outros projetos interconectados, com títulos diferentes, mas relacionados. Vanishing Point se refere ao alcance mais distante da visão; o ponto onde o futuro surge à vista, e o ponto onde o passado desaparece de vista. Acho que isso fala da experiência de viajar no tempo, assistir o presente se tornar passado e o passado se tornar presente de novo. Fui atraído por pessoas num ponto central da vida delas, e queria pegá-las num momento de transição. Onde elas estivessem prestes a tornar-se ou desaparecer.

Sebastian Collett é um fotógrafo que vive entre os EUA e Berlim.

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