Cem mulheres tiraram a roupa para protestar durante a convenção do partido Republicano

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Cem mulheres tiraram a roupa para protestar durante a convenção do partido Republicano

O fotógrafo norte-americano Spencer Tunick registrou o ato que aconteceu em Cleveland quando Donald Trump foi confirmando como candidato à presidência pelo partido.

Fotos por Lindsey Byrnes.

Ir dormir às 10 da noite num sábado é difícil, especialmente quando helicópteros do Serviço Secreto americano estão circulando a área. Mas Spencer Tunick, um fotógrafo norte-americano conhecido por suas fotos de nus em larga escala, está acostumado a cair no sono antes de uma sessão de fotos importante. Por razões de logística e iluminação, ele se acostumou a acordar antes do amanhecer.

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Seu trabalho mais recente foi especialmente difícil de organizar, mesmo para alguém que uma vez coordenou sete mil pelados em Barcelona em nome da arte, e depois pediu a 18 mil modelos para tirarem a roupa na Cidade do México. Afinal de contas, Tunick nunca tinha feito nada assim nos EUA, onde, como ele diz "o corpo nu é visto como um crime ou violência". E alguns dias antes da Convenção Nacional Republicana em Cleveland, que aconteceu entre os dias 18 e 21 de julho confirmando Donald Trump como candidato à presidência pelo parido, conflitos já eram esperados, o que motivou toda uma organização imaginável de policiamento a vigiar o céu e a terra ao menor sinal de coisa fora do comum.

A polícia de fato apareceu para assistir. Ainda assim, Tunick simplesmente se concentrou no mantra que sempre escreve na mão antes de começar os trabalhos: "Calma, foco, firmeza". E no final, ele diz que a polícia pareceu impressionada com o fato de ele ter conseguido que 100 mulheres nuas segurassem espelhos enormes num protesto durante a convenção. "Fiquei com medo que eles quisessem me interrogar depois, mas eles estavam tranquilos", disse Tunick à VICE. "Eles obviamente não eram fãs do Trump."

Tunick começou a planejar o projeto "Everything She Says Means Everything" em 2013 — muito antes de Donald Trump se tornar um candidato em potencial à presidência dos EUA, quanto mais o candidato oficial do Partido Republicano. Apesar de dizer que a obra originalmente visava comentar o corte no financiamento do Planned Patenthood, entre outras coisas, e que ele "supõe que qualquer um concorrendo pelo partido só pode ser doido", ele acrescenta que o trabalho ganhou mais significado considerando como a corrida presidencial vem se desenrolando.

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Vídeo por Gabby O'Neill.

Alguns críticos consideram o trabalho de Tunick pouco desafiador — não é difícil fazer as pessoas prestarem atenção em arte quando você usa mulheres peladas. Um jornalista da revista Slate, questionando por que Tunick não recebe respeito proporcional à sua popularidade, descreveu sua obra como "transgressão pela transgressão". Outros questionaram a ideia de um homem ganhando fama com corpos de mulheres nuas, uma narrativa tão velha quanto a própria arte.

Ainda assim, o fotógrafo tem também seguidores fervorosos, como pude ver pela cena depois da sessão de fotos e todas as pessoas que se voluntariaram para ajudar. Por volta das 9h30 do domingo 17 de julho, cerca de meia dúzia de desenvolvedores de sites, fotógrafos, cinegrafistas e publicitários, que vieram até de Los Angeles e México, começaram a debater como espalhar as novas imagens do artista. O grupo — que consiste principalmente de mulheres que acreditam que o trabalho de Tunick é empoderador — discutia quais imagens incluir num release para a imprensa, e se deviam usar alguma foto com sinalização visível que pudesse distrair da arte.

"Ninguém olha para um cassino quando há 100 mulheres lindas na frente dele", interferiu Tunick com uma risada. Kristin Bowler era uma das pessoas ajudando no processo de seleção. Ela é de Akron, Ohio, mas conheceu Tunick em 1995, quando tinha acabado de se formar na escola de artes e estava voltando do trabalho em Manhattan. Na época, Tunick estava fazendo retratos individuais e recrutando modelos em pessoa ou através de panfletos. Ele entregou um panfleto para Bowler e perguntou se ela aceitaria posar nua numa rua cercada por bagels.

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"Levou um tempo", ela lembra. "Foi tipo: 'Esse cara está me cantando?', 'Ele só quer tirar minha foto?', 'O que isso significa?'"

Mas seu ceticismo desapareceu quando ela viu os outros trabalhos do fotógrafo. Vinte anos depois, Bowler é o que ela chama de "colaboradora e musa" de Tunick, além de sua parceira. Ele rapidamente aponta que ela ajudou a bolar a declaração do artista para sua última obra.

Apesar do trabalho de Tunick não ter sido tão político no passado, essa é uma exceção óbvia. Esse é um projeto de paixão que ele financiou do próprio bolso, porque diz que nenhum museu ia querer se envolver nele. E além de caro, o trabalho era claramente perigoso. Manifestantes foram proibidos de chegar muito perto da arena da CNR — um fato que levou a um processo da ACLU. No tribunal, o grupo de direitos civis argumentou que a cidade estava impedindo as pessoas que tinham algo a dizer de se aproximar dos delegados.

Mas subverter é o trabalho de Tunick: a sessão de fotos aconteceu bem ao lado da arena e definitivamente vai chamar a atenção.

"Mais de 1.800 mulheres se inscreveram para posar, e isso é um testemunho de quão corajosas elas são", ele disse. "Elas estão dispostas e entrar na zona de perigo e tirar a roupa. É inacreditável."

Leia a declaração de Tunick sobre a instalação na CNR aqui e acesse o site dele para conhecer mais sobre sua carreira.

Siga a Lindsey Byrnes no Instagram e veja mais do trabalho dela em seu site.

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Tradução: Marina Schnoor

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