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Não Há Razão Para Não Beber Mijo

"Especialistas” e praticantes afirmam que beber urina é uma cura legítima para tudo: calvície, impotência, diabetes e até câncer. Será que todo mundo deveria beber regularmente dessa fonte dourada? Falei com um nutricionista.

Foto por prilfish, via Flickr.

Incesto. Parricídio. Canibalismo. Necrofilia. Existem certos tabus interculturais que não costumamos questionar (a menos que você seja aquele tipo de pessoa que passa o dia inteiro em subreddits escabrosos). E aí há a questão das efluências humanas. Ao longo das eras, nossa atitude quanto aos excrementos mudaram diversas vezes. Desde a era germofóbica vitoriana, merda e mijo são entendidos como substâncias nojentas, indignas de serem mencionadas numa conversa educada. Sentamos em nossos tronos de porcelana para cagar e mijar na água potável, que será prontamente mandada descarga abaixo e nunca mais vista.

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Mas, para alguns, um copo morno de urina é a passagem secreta para renovar a saúde e a vitalidade. Todo mundo já ouviu histórias desesperadas de sobrevivência, em que o herói é obrigado a escolher entre beber mijo e morrer desidratado, como a de Aron Ralston, que teve sua autoamputação no deserto imortalizada por James Franco no filme 127 Horas. Todo mundo sabe que a urina é estéril e não é tóxica, sendo a melhor opção quando há água por toda parte ou nenhuma gota para beber. Mas para alguns devotados, beber mijo, algo conhecido como urofagia, é mais do que uma solução de emergência: é a cura para o que os aflige. Dos romanos aos astecas, chegando hoje a China e Reino Unido, “especialistas” e praticantes afirmam que beber urina é uma cura legítima para tudo: calvície, impotência, diabetes e até câncer. Nos Estados Unidos, o notório escritor recluso J. D. Salinger, supostamente preservava e consumia sua própria urina como parte de seu regime homeopático.

Tais hábitos podem parecer bizarros para o público ocidental, mas, ao longo de milhares de anos, os hindus praticantes de medicina aiurvédica têm bebido a própria urina para concentrar a força vital, uma prática tradicional conhecida como Shivambu Shastra. Consumir mijo, segundo eles, permite a reabsorção de hormônios valiosos e enzimas que ajudam na digestão e regeneração de células, tudo isso com pouco risco. Mês passado, o jornal inglês Daily Mail publicou um artigo sobre uma variação dessas “autoterapias”, a chamada “cowpathy” (algo como “vacaterapia”). Um pequeno grupo de devotos hindus, que vivem nas proximidades da cidade de Angra, está bebendo urina de vacas virgens por suas supostas qualidades curativas, colhendo os jatos brilhantes de bebida amarela que sai debaixo do rabo levantado de uma novilha como se fosse uma torneira de chope. Será que esses ávidos bebedores de mijo sabem alguma coisa que a gente não sabe? Será que todo mundo deveria beber regularmente dessa fonte dourada? Falei com o nutricionista Andy Bellatt sobre os fatos e ficções da urofagia.

VICE: Há algum benefício documentado para a saúde em se beber urina humana ou de vaca?
Andy Bellatt: Não há benefícios documentados ao beber urina (humana, de vaca ou qualquer outra). Mesmo que a urina seja 95% água, isso é, principalmente, um resíduo do metabolismo. Tudo mais é excretado do corpo por uma razão. O corpo humano é inteligente; ele não excreta substâncias necessárias à sobrevivência à toa.

É uma boa ideia beber seu próprio mijo se você estiver preso em algum lugar sem água potável?
Como a urina contém alguns sais, isso na verdade exacerba a desidratação. Além disso, se você depender exclusivamente de urina para hidratação por muitos dias, isso se torna um subproduto residual cada vez mais concentrado, o que pode colocar uma grande pressão nos rins.

Mas se você não está numa situação de emergência e pode complementar a urina com água fresca, há algum risco em se beber mijo?
Embora você não vá desmaiar por beber sua própria urina (há algumas toxinas nela, mas em quantidades mínimas que serão simplesmente descartadas na próxima vez que você urinar), não há razão para fazer isso.

@roseolm