Gravidez? Tô de boa

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Gravidez? Tô de boa

Mulheres respondem por que não querem ter filhos nem hoje, nem nunca.

A jornalista Emily Canto Nunes, 31. "Gravidez é uma das coisas que mais tenho pânico na vida." Foto: Guilherme Santana/ VICE

Lançar rebentos, procriar, abrolhar, dar origem a. O dicionário possui uma vasta lista de atribuições ao resultado de uma transa com fecundação eficaz contemplada por uma gestação e posteriormente por um parto. Fato é que a mulherada brasileira pisou bruscamente no breque no quesito fazer neném.

"Gravidez é uma das coisas que mais tenho pânico na vida", relata a jornalista Emily Canto Nunes, 31. "Não consigo me imaginar sendo mãe." E ela não está sozinha. Pesquisas apontam que o número de mulheres com filhos no Brasil tem caído brutalmente (mais informações no quadro abaixo). "Ter filho porque meu namorado quer, porque minha mãe quer ser avó ou porque todas as pessoas esperam que aos 31 anos você tenha seu primeiro filho, não é pra mim."

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MINAS DE BOA DE EMPRENHAR NO BRASIL
Dados mostram que as mulheres engravidaram cada vez menos no período de uma década. Saque a porcentagem de mulheres brasileiras com ao menos um filho em 2000 e em 2010.

15 a 19 anos de idade
2000: 14,8%
2010: 11,8%

20 a 24 anos de idade
2000: 47,3%
2010: 39,3%

25 a 29 anos de idade
2000: 69,2%
2010: 60,1%

30 a 34 anos de idade
2000: 81,9%
2010: 76,0%

Fonte: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística)

Nem sempre a decisão vem por conta da ascensão das mulheres no mercado de trabalho, como muitas reportagens sondam. Para Emily, as redações jornalísticas, que muitas vezes exigem um trabalho exaustivo e horários malucos, não são impeditivos. "Conheço um monte de mãe jornalista. São super mães. Admiro muito. Mas acho que é um desafio que você precisa estar a fim de comprar, saca?"

Psicóloga clínica, Maiara Benedito, 26, atende crianças constantemente no consultório em que atua. Diz que se dá muito bem com todos os seus pacientes, assim como com filhos de amigas, primos e crianças em geral. "Só não quero ser responsável por uma", justifica. "Na maioria das vezes as pessoas falam que você nunca vai saber o que é amor de verdade, genuíno; que você não vai se realizar como mulher. Como se a maternidade definisse o ser mulher", contesta.

A opinião alheia acaba pesando na escolha de mulheres que, em pleno século 21, precisam explicar ao mundo o por quê de não querer ser mãe. Como nesta reportagem. "Algumas pessoas têm uma ideia bem distorcida de que você vai ficar velha e sozinha. É um pouco egoísta achar que seu filho vai cuidar de você pra sempre", pontua a psicóloga.

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A administradora Adriana Casanova, 32. Foto: Guilherme Santana/ VICE

MULHER NASCE PRA SER MÃE? PARECE QUE NÃO

Durante o casamento, a administradora de empresas Adriana Casanova, 32, até cogitou engravidar. Mas antes mesmo do relacionamento acabar, a decisão contrária já havia sido tomada. "Eu estava crescendo na minha carreira, viajando pelo mundo com o meu trabalho e comecei a pensar que não seria uma boa ideia. E bem nessa época o meu ex queria muito."

O tempo passou, o relacionamento acabou por motivos distintos e, ainda assim, Adriana não vê motivos para se entregar a uma gravidez. "Não vejo minha vida com esse espaço pra uma outra pessoa dessa forma. É um comprometimento que, honestamente, não acho que estaria preparada pra fazer." Sobre as más línguas da sociedade contemporânea, que ainda acham que mulher nasce para ser mãe, Adriana é enfática: "Mulher nasce pra ser o que ela quiser".

Para a psicóloga e psicanalista Vânia Prata, as mulheres ainda carregam o peso de seus antepassados. "Antigamente, ser mãe era quase uma condição imposta. Com a evolução feminina, de estar cada vez mais dentro do mercado de trabalho, de engrenar na carreira, ela começa a ter outros desejos e essa coisa de ser mãe vai se distanciando." Ainda hoje, a maternidade "obrigatória"continua em pauta. Rejeitar essa ideia pode ser uma afronta ao que é visto como normal. "É difícil para a mulher sustentar o desejo de não ter filhos numa sociedade cristã e machista como a nossa", detalha a profissional.

Aos 26 anos, a artista visual Yasmin Mendes elenca os motivos que justificam sua decisão: "Pra começar, eu não gosto de criança. Não acho que eu tenha equilíbrio emocional pra formar uma personalidade e um caráter de uma criança e acho um gasto de dinheiro absurdo".

A questão acabou se engalfinhando num relacionamento anterior. Um ex-namorado que queria muito ter filhos começou a preocupar a artista com sua obsessão. "Eu tinha medo de ele tentar alguma coisa sem eu saber", relembra. Sem nenhuma dúvida sobre o assunto, Yasmin tem o apoio da mãe e a dúvida do pai. "Ele acha um absurdo. [E diz] 'você não quer ter filho, não quer casar, mulher louca'." Perguntada sobre uma gravidez indesejada, ela responde tranquila e taxativa: "Eu aborto".

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